Com reeleição, montadoras devem manter proteção

O ruído que se propaga no mercado financeiro em torno da reeleição da petista Dilma Rousseff dificilmente atingirá os escritórios de Detroit, Turim, Wolfsburg, Paris e Tóquio, onde se concentra o principal comando da indústria automobilística. Ao longo das últimas seis décadas, muitos governantes brasileiros concederam vantagens ao setor automotivo. Mas poucos garantiram programas de benefícios que permitem planejamento de prazo tão longo como o que foi firmado por Dilma há dois anos.

Conhecido como Inovar Auto, o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores foi um dos passos mais firmes que a gestão do PT deu no sentido de proteger o setor no país.

Mas garantiu, sobretudo, alívio àquelas que construíram fábricas no país nas décadas de 1950 e 1970 e que começaram a sentir, mais recentemente, a ameaça de marcas novas, principalmente chinesas, que tentavam instalar no país centros de montagem final com boa parte das peças importadas.

A série de medidas maturadas em conjunto, entre montadoras e governo durante a gestão de Lula, e oficializadas, por meio de decreto, por Dilma, sob o guarda-chuva do chamado Plano Brasil Maior, concede benefícios tributários para empresas que concentram no país investimentos em produção e pesquisa e desenvolvimento.

O programa prevê desconto de até 30 pontos percentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos produzidos no país. Quase nenhum esforço foi necessário a veteranas como Volks, GM, Ford e Fiat para cumprir uma série de contrapartidas que há anos fazem parte do seu dia a dia, como o desenvolvimento de motores menos poluentes.

O prazo fixado para o cumprimento das metas vai até 2017, o que ajuda a dar fôlego às empresas que se instalaram no país mais tarde, em meados dos anos 1990. Foi, aliás, esse o ciclo de investimentos do setor embalado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.

Renault, PSA Peugeot Citroën, Toyota e Honda só se animaram a produzir no país depois que FHC ofereceu incentivos tributários. O programa também beneficiou veteranas que ampliaram o parque industrial na carona não só do programa federal como da guerra fiscal que movimentou os Estados.

Para os fabricantes, fica mais fácil, com a reeleição, manter a estratégia no Mercosul. Mesmo numa conjuntura desfavorável ao intercâmbio comercial com a Argentina, o relacionamento amigável com o país vizinho, que Lula e Dilma mantiveram, favorece os planos de complementaridade de linhas de veículos e controle da manufatura em ambos os lados da fronteira, que praticamente todas as empresas do setor sonham manter.

Fonte: Marli Olmos - Valor Econômico

Pesquisar

FTMRS