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NOTÍCIAS

10.06.13   |   Geral 2013

O sustento e a vida em risco

 

–Por que ele colocou a mão lá?

– Por que não tomou cuidado?

– Por que não fechou bem o andaime?

Questionamentos assim costumam ser a primeira reação das pessoas diante da notícia de alguém que perdeu um dedo, um braço ou sofreu uma queda enquanto trabalhava. Responsabilizar o empregado e apontá-lo como descuidado também é comum. Especialistas em assuntos relacionados ao trabalho, no entanto, refutam a ideia. Para eles, mesmo que o funcionário tenha colocado a mão no lugar errado e esquecido de acionar alguma trava, ainda assim os sistemas de segurança deveriam ter funcionado para proteger inclusive o mais desatento trabalhador.

Perder a vida enquanto se corre em busca do sustento não é raro. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que 321 mil pessoas no mundo morrem a cada ano em acidentes de trabalho.

Em Caxias do Sul, foram três mortes em 2013 – ano passado aconteceram 12 casos. Na Serra, outras sete neste ano (leia abaixo o perfil das quatro primeiras vítimas do ano).

Em Caxias, comparado com o restante do Brasil, os números são elevados, aponta o gerente regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Vanius Corte. Segundo Corte, a média é de 7,5 mil acidentes por ano na cidade. Entretanto, o número é ainda maior, já que esses são apenas os notificados. Sempre que ocorre um caso, a empresa deve fazer a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). É obrigação avisar o MTE. Caso contrário, a empresa pode ser multada.

Mudança no perfil – Neste ano Caxias vive uma mudança em relação a 2011 e 2012. A maioria dos acidentes tem acontecido na indústria metalúrgica. Na construção civil, campeã dos últimos dois anos, os números têm reduzido. Na opinião de Corte, os acidentes acontecem porque as empresas não têm a segurança como prioridade. Para ele, a proteção deve ser encarada como investimento, não como gasto. E se não é prioridade do empregador, também não será do empregado. A alta rotatividade, na visão de Corte, também é fator que pesa contra a indústria metalúrgica, setor que mais gera empregos em Caxias. Em um ano, foram 20 mil admissões e 20,7 mil demissões. A falta de treinamento também pode somar. Para diversas funções, como trabalho em altura, é preciso capacitação.

– A indústria metalúrgica é um setor em que deveria ser mais fácil evitar acidentes, justamente porque não tem mudança diária de atividades, como ocorre na construção civil. A rotatividade contribui, pois há pessoas não treinadas, e as NRs (Normas Regulamentadoras) acabam não sendo cumpridas. Se o empregado não tem alguém exigindo que ele use equipamentos de proteção, indique as falhas, também não terá a segurança como prioridade. Nem deveríamos chamar acidente de trabalho, pois acidente é algo imprevisível, e quase todos poderiam ser evitados – acredita Corte.

– O empregado até pode ter atitude negligente, descuidada, mas se a empresa tivesse cumprido com a legislação, o acidente poderia não ter acontecido – pondera o delegado Vitor Carnauba, responsável pela delegacia especializada em investigar acidentes de trabalho em Caxias.

Cursos para qualificar – Até o ano passado, metade dos acidentes fatais se concentrava na construção civil. Em média, ocorria um por mês. Neste ano, até agora, foram três mortes, nenhum nesta área. Para Corte, o sindicato patronal tem se empenhado em mostrar às empresas as vantagens de manter um ambiente de trabalho seguro, em que as NRs são cumpridas.

Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Caxias do Sul (Sinduscon), Valdemor Trentin conta que foi feito trabalho intenso em empresas, canteiros de obras, além de cursos.

Entre as principais ações para reduzir números, o Sinduscon costuma oferecer cursos sobre diversas NR, como a NR 18 (Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção), a NR 35 (trabalho em altura), além de Curso Básico de Operação e Segurança em Elevadores de Obras, curso para Operadores de Gruas e Sinaleiros e campanha de segurança no canteiro de obras.

Também é acidente

Algumas situações corriqueiras também são consideradas acidentes de trabalho. Um exemplo é quando o trabalhador sofre um acidente de carro enquanto se desloca para o emprego.

Nestor Mari, 54 anos

O eletricista Nestor Mari, 54 anos, sofreu um acidente em 15 de janeiro enquanto operava um painel elétrico em uma empresa de Caxias.

Ele estava ao lado do painel no momento em que aconteceu uma explosão e morreu no hospital dois dias depois, vítima de queimaduras. Mari era funcionário da empresa havia 10 anos e deixa mulher e dois filhos.

Rogério Bergmann, 44 anos

Bergmann trabalhava em um atacado de verduras e hortifrutigranjeiros quando sofreu um acidente e morreu prensado por um trator, dia 7 de fevereiro, em São Marcos. Conforme o irmão, Leandro, Rogério era natural em Três Passos. Casado, deixou a mulher, Denise, e um filho, Rodrigo, de seis anos. Com a morte do patriarca a família foi morar em Bom Princípio. Lembrado como uma pessoa bastante alegre, a diversão preferida de Bergmann era jogar futebol.

Osório Amaro Bueno, 57 anos

No dia 8 de fevereiro, Osório Amaro Bueno trabalhava em obra da construção civil, em Veranópolis, quando caiu de uma altura de 14 metros.

A queda ocorreu na parte interna da obra, quando o trabalhador estaria atravessando um vão entre partes distintas da construção. A família de Bueno preferiu não passar informações sobre ele ao Pioneiro.

Vagner Thomaz Ozório, 52 anos

Vagner Thomaz Ozório, 52 anos, era natural de Sertãozinho, no interior de São Paulo. Era casado com Vilma Pereira Thomaz Ozório, 54, e tinha dois filhos, William, 33, e Wellington, 32.

Segundo William, o pai era uma pessoa muito alegre. As diversões preferidas de Vagner eram churrasco e pagode com familiares e amigos.

No dia 13 de fevereiro, William, o pai e outro funcionário trabalhavam em Cambará do Sul, na Serra. Vagner fazia a desmontagem de fios condutores elétricos desenergizados e calhas de alumínio em uma empresa, quando subiu uma escada e sentiu-se mal. Em seguida, caiu, bateu a cabeça e morreu vítima de trauma craniano encefálico.

Depois disso, William acabou retornando para Sertãozinho.

Rotatividade é uma das causas

O coordenador do Ministério Público do Trabalho em Caxias, Rodrigo Maffei, também acredita que há deficiência do empregador quanto ao cumprimento da legislação.

– As empresas devem ter a consciência de que investir preventivamente em segurança otimiza o trabalho e tem menos custos. O valor pago em uma indenização, seja para familiares ou para a sociedade, se aplicado como investimento preventivo, evitaria a perda de uma vida. É mais barato para uma empresa investir em segurança do que pagar indenizações – aponta Maffei.

A rotatividade também é a principal razão para os acidentes na indústria metalúrgica, na visão do diretor presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), Getulio da Silva Fonseca. Segundo Fonseca, uma situação comum é o funcionário ser capacitado, permanecer cinco, seis meses no emprego, e depois deixar o trabalho. A situação gera insegurança. Para o funcionário entrar no ritmo, Fonseca avalia serem necessários pelo menos de quatro a cinco meses de serviço. Na opinião dele, a pressão de produzir cada vez mais não interfere na ocorrência de acidentes.

– O funcionário fica mais estressado quando há pouco a fazer, com receio de ser dispensado, do que quando a economia está bem e a produção é alta – afirma Fonseca.

Do outro lado, o pedido é para que nunca falte instrução adequada. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos, Leandro Clodoveu Velho reivindica maior autonomia para o sindicato conversar com as empresas sobre os acidentes de trabalho. Segundo ele, nem todas indústrias estão abertas ao diálogo quanto a esse assunto.

– É uma categoria diferenciada, trabalha com aço, guilhotina, solda. Acredito que os trabalhadores devem ser melhor instruídos, pois muitas vezes são transferidos para uma tarefa para a qual não estão preparados. E aí podem acontecer acidentes – atesta.

- Ministério do Trabalho e Emprego: fiscaliza empresas quanto ao cumprimento da legislação trabalhista e das normas de segurança. Tem o poder de interditar, embargar e aplicar multas.
- Ministério Público do Trabalho: os Procuradores do Trabalho buscam dar proteção aos direitos fundamentais e sociais do trabalhador.

Fonte: Jornal O Pioneiro

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