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21.12.08   |   Crise Financeira Internacional

"lucramos Muito E Não Devemos Demitir"

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Desde que a crise financeira internacional chegou ao setor automotivo brasileiro, o presidente da Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave), Sérgio Reze, iniciou um trabalho para convencer os cinco mil concessionários do País a preservar os 270 mil empregos do setor.
Seu argumento é simples: depois de três anos de fortes lucros, com sucessivos recordes de vendas, há gordura para queimar e não faz sentido abrir mão de pessoas treinadas. “Não podemos passar tanto tempo ganhando dinheiro para depois chegar e, simplesmente, demitir”, diz o empresário. Leia a seguir sua entrevista.

DINHEIRO – Existem sinais de que a crise internacional começa a chegar ao setor automotivo brasileiro. Mesmo assim, seu discurso continua otimista. Até quando?
SÉRGIO REZE – Não podemos fazer uma leitura isolada dos números. No mês passado, a queda de 26,34% contra novembro de 2007 refletiu um número menor de dias úteis. Esse dado é muito forte e assusta. Na média diária, que serve como termômetro para calcular o desempenho, a retração foi de quase 10%. Ruim, é verdade. No entanto, trata-se de uma desaceleração. Estamos falando de um prejuízo do crescimento, não de uma queda que aponta uma tendência de longo prazo.

DINHEIRO – O que explica a queda?
REZE – Vejo três causas principais. Primeiro, ainda temos um travamento do crédito. Os bancos têm dinheiro para emprestar, mas não liberam porque o risco está maior. As instituições financeiras estão bem mais rigorosas. Esse é um fator que prejudica. Outra questão determinante é a percepção das pessoas de que realmente há perigo de perder o emprego. Quando lemos notícias do tipo que a Petrobras tem problemas de caixa, o medo se espalha. De repente, pararam de falar do pré-sal. Isso também é ruim. Terceiro motivo: o carro usado.

DINHEIRO – Por que o carro usado? Qual a relação?
REZE – O automóvel usado é fundamental para o nosso negócio. Se eu não o recebo na troca, muitas vezes eu não vendo o novo. As lojas não estão aceitando os usados porque o mercado perdeu o patamar de equilíbrio de valores para que se possa revender esse automóvel. Acontece que houve uma depreciação muito grande entre setembro, outubro e novembro dos carros mais velhos, cerca de 30% de baixa. Isso está trazendo um grande problema. Nós, lojistas, temos a percepção real de valor, porém as tabelas Fipe e Jornal do Carro, que são referências, mantiveram aquele patamar antigo. Precisamos conversar com quem anda fazendo essas tabelas. O sujeito entra na loja com o carro dele achando que vale X, mas o carro dele vale Y, bem menos. A gente fala para tentar vender lá fora e voltar com o dinheiro na mão. Enquanto isso não for resolvido, o segmento de usados vai continuar travado e as vendas de novos serão afetadas.

DINHEIRO – Se a situação perdurar, a crise inevitavelmente chegará às concessionárias, não?
REZE – Eu não tenho ainda notícias de dificuldades no meu setor. Inclusive, fiz uma carta a todos os nossos filiados no dia 25 de novembro para recomendar que não dispensem funcionários. Para acalmar o pessoal. Fiz isso por que sou caridoso ou por que quero tapar os olhos das pessoas? Não. Nossa atividade é muito pulverizada. A realidade aqui em São Paulo é uma, no interior do Estado é outra, no Nordeste é completamente diferente. Essa capilaridade ajuda um pouco a amortecer os impactos de uma possível crise. A característica do setor é de prestação de serviços. Não é só vendas. Temos serviços automotivos, como funilaria, revisão, serviços mecânicos, entre tantos outros segmentos que não param. Sem dúvida, isso ajuda a equilibrar as contas em períodos de baixa.


DINHEIRO – Mas as demissões já começaram.
REZE – Discordo. Acho que muito do que tem sido feito é pretexto, em especial dos bancos. Usam a crise como desculpa para ajustar o custo com funcionários. As empresas, principalmente do setor bancário, ainda não sentiram nenhuma variação negativa em seus negócios. Anunciam ajustes, mas continuam ganhando dinheiro. Aí a gente se pergunta: Não dá para segurar um pouco? As montadoras estão dando férias coletivas para evitar cortes. Essa é a primeira medida. A Ford não falou em dispensas nem a Volkswagen nem a Fiat. A GM falou em cortes porque enfrenta problemas que fogem da questão interna. A Mercedes-Benz também sinalizou algo nesse sentido. No entanto, no geral, o emprego está mantido, principalmente nas concessionárias.

DINHEIRO – Por que, então, há um receio do setor automotivo?
REZE – É culpa da rádio peão. As fofocas espalham notícias ruins e fazem de anúncios antes considerados normais, como férias coletivas e PDVs (Programa de Demissão Voluntária), sintomas de uma crise real. Isso tem feito com que as pessoas deixem de comprar. Como alguém vai assumir um compromisso de mais de três anos sem saber se vai estar empregado no mês que vem? Todos estão com medo, sim. Porém, não podem culpar a crise porque ela ainda não existe aqui.

DINHEIRO – Até quando as concessionárias vão manter os empregos?
REZE – Temos hoje cerca de 270 mil empregados, quase 10% mais do que em 2007. Não vamos mandar embora esse pessoal. Os vendedores têm carteiras de cliente já formadas. Se a loja o manda embora, piora a situação. É uma pessoa treinada que já que já recebeu bastante investimento em qualificação. É preferível que se sustente um pouco, combine novos valores e espere a crise passar. Se o vendedor não pedir demissão porque está ganhando pouco, o que acho improvável porque na loja ao lado a situação estará a mesma, logo a situação se normalizará.

DINHEIRO – Como convencer o concessionário a não demitir?
REZE – Eu tenho dito a todos que isso faz parte de um processo de civilidade também. Não é possível que a gente passe três anos acumulando lucro e, em 90 dias de vendas baixas, comece a demitir e ameace quebrar a empresa. Não podemos demitir agora. Temos que segurar um pouco para ver se, efetivamente, vai chegar o momento em que poderemos dizer que o pior já passou. O meu poder de convencimento é o da sinceridade. Procuramos mostrar que, se cada um segurar um pouquinho a parede, pode ser que ela não caia. Essa é a estratégia para não criar uma crise onde não há crise.

DINHEIRO – No início do ano, a Fenabrave previa que as vendas no mercado interno ficariam entre 2,8 milhões e 2,9 milhões de carros, um crescimento de 20%. A previsão está mantida?
REZE – Não. Dificilmente atingiremos 2,7 milhões de unidades emplacadas. Mesmo assim, nossa taxa de crescimento será próximo a 17%. Qual setor cresceu 17% neste ano? É por isso que digo: antes de sair por aí espalhando medo, temos que relembrar nosso histórico. Saltamos de um mercado de 1,4 milhão há poucos anos para os atuais 2,7 milhões. Com a desaceleração, nosso setor terá de se adequar ao tamanho da economia. Não dá para crescer 20% e o PIB 2%.

DINHEIRO – Os R$ 8 bilhões anunciados pela Nossa Caixa e pelo Banco do Brasil não foram suficientes?
REZE – Esse dinheiro não chegou ainda. É apenas um cheque especial. Faz uma semana que tento falar com os diretores do Banco do Brasil para pedir que agilizem as liberações, mas ninguém retorna minha ligação. Falta uma fiscalização sobre os bancos para saber se estão entregando ao consumidor os recursos que estão tomando junto ao governo. Não há um gabinete de crise para fazer isso. O Banco Central tem agido sabiamente, mas Henrique Meirelles é presidente do BC, não é ministro da Economia. Já o ministro Guido Mantega tem se movimentado, mas não fala a mesma língua de Meirelles. Quem vai resolver a crise, então? É muito difícil saber. Temos que contar um pouco com a sorte.

DINHEIRO – Desde que a crise atingiu a economia, em algum momento o governo errou?
REZE – Não vou responder se errou ou não errou. Prefiro não discutir tanto a macroeconomia. Mas faço dois comentários. Primeiro, o BNDES é credor de mais de US$ 5 bilhões desses países amigos do nosso presidente. E eles vão dar o calote. A notícia causa pânico, principalmente entre os exportadores brasileiros. Quer dizer, aparentemente houve erros no passado. Esse dinheiro poderia estar irrigando mais a economia. Fica evidente que há uma incapacidade de gestão. Falta um gerenciador para a crise. Qual foi a atitude que o governo tomou que foi decisiva para conter a crise? Nenhuma. Os bancos estão recebendo rios de dólares do Banco Central e entesourando o dinheiro.

DINHEIRO – E o outro comentário?
REZE – É sobre o governo do Estado. O governador José Serra anunciou recentemente a prorrogação do prazo para recolhimento do ICMS. Isso devia ter sido feito há muito tempo. Chegou tarde. Vão esperar a gente pagar o imposto de outubro para só depois prorrogar. No início do ano, os pátios estarão cheios e teremos de pagar IPVA. Já imaginou? Isso vale para o meu setor e vale para as revendas independentes. O Estado, o dele é o dele. Primeiro, os governos garantem o deles, depois olham para nós. Esse é o comentário.

DINHEIRO – Quanto tempo a turbulência vai durar?
REZE – Olha, difícil dizer. Acho que os problemas serão resolvidos aos poucos. A situação dos usados deve se regularizar entre janeiro e fevereiro. Em 30 dias, os consumidores começarão a assimilar a nova realidade dos preços. Já o medo de desemprego vai demorar um pouco mais. Só quando o crédito voltar à normalidade e os empregos forem mantidos, enxergaremos o fim da tempestade.

DINHEIRO – Isso acontecerá em 2009?
REZE – Já não podemos esperar mais nada de 2008. No ano que vem, sim. Teremos um primeiro trimestre decisivo do ponto de vista do rumo que vamos tomar. Historicamente, os três primeiros meses do ano ditam o rumo do restante. Esse período vai ser complicado, mas não será negativo. Não voltaremos ao ritmo do primeiro semestre deste ano. Acho que a gente caiu para um novo patamar. A gente vai começar a subir gradativamente ainda no primeiro semestre de 2009. Alguns dizem que o País vai crescer de 2,5% a 4% no próximo ano. Não cresceremos menos que 5%, com certeza. O que é excelente sobre uma base muito boa.





Fonte: Istoé Dinheiro

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