Macrossetor da Indústria: pauta única dos trabalhadores começa a ser construída
A decisão foi tomada no Seminário Estadual do Macrossetor da Indústria da CUT do Rio Grande do Sul, encerrado nesta quarta-feira (18) em Porto Alegre e que reuniu cerca de 100 dirigentes sindicais das cinco categorias no Estado. O evento, que teve início ontem, foi promovido pela CUT-RS e as cinco confederações nacionais dos trabalhadores no ramo. Ele aconteceu no auditório da Federação dos Trabalhadores em Alimentação do Estado.
Segundo o secretário geral e de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), João Cayres, a pauta será aprovada em plenária estadual marcada para novembro. “Hoje, por meio de debates em grupos, os participantes definiram um plano de ação que será aprofundado na plenária de novembro”, explicou Cayres, lembrando que um dos focos dos debates foi a política industrial.
O presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, avaliou, por sua vez, que a unificação das categorias em macrossetores abre uma nova fase de organização dos trabalhadores. “Com este mecanismo, é possível buscar pontos de convergência para uma intervenção junto aos governos na formulação de políticas públicas. É possível também, com reivindicações comuns, aprimorar a luta pela contratação coletiva de trabalho”, destacou Nespolo, que é metalúrgico e já foi dirigente da CNM/CUT.
A história e estratégia da CUT no macrossetor da indústria foram apresentadas pelo secretário geral da CUT Nacional, Sérgio Nobre, na abertura do Seminário. Para Nobre, o evento fortalece a unidade das categorias para garantir conquistas e ampliar avanços para os trabalhadores do Rio Grande do Sul e do Brasil. “Debater a indústria é pensar no futuro do país”, ressaltou o dirigente.
Durante sua intervenção, Nobre pediu licença para anunciar a alta hospitalar de Paulo Cayres, presidente da CNM/CUT, que estava internado há alguns dias para tratar de um problema respiratório. O público aplaudiu a notícia.
Responsável por fazer a análise de conjuntura, Paulo Vannuchi, integrante da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) e ex-ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, abordou o papel da CUT no cenário atual do país, lembrando que a Central foi protagonista para as mudanças estruturais no país. Para ele, agora é hora de garantir o projeto da última década e aprofundar as transformações sociais.
Ainda no primeiro dia do evento, o técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Martinho Lazzari, apresentou dados das principais atividades, crescimento da produção e exportações da indústria no Rio Grande do Sul. “Alguns setores crescem em cima da produtividade e não do emprego. Por isso, há elevação no índice da produção mesmo com o aumento do desemprego”, explicou.
Já o assessor técnico do Dieese Ricardo Franzoi apresentou informações dos macrossetores no Estado no período de 2007 a 2011. “O ganho real nas convenções coletivas de trabalho está numa rota crescente. Este ano, a média de aumento real foi de 2,5%”, informou. Franzoi destacou ainda que possivelmente, o PIB do Estado ficará três vezes maior do que o nacional. “Temos de tirar proveito desta situação”, avaliou.
O assessor técnico da Subseção do Dieese da CNM/CUT, Rafael Serrao, fez um resgate sobre a política industrial brasileira desde a década de 1930 e, com isso, identificou os antecedentes do Plano Brasil Maior, lançado pelo governo Dilma Rousseff. “Este Plano é um programa de desenvolvimento produtivo que visa o crescimento e o fortalecimento, interno e externo, da indústria brasileira”, esclareceu. Serrao chamou a atenção para o fato de que os trabalhadores só tiveram participação na formulação das políticas industriais com o inicio do governo Lula. E alertou: “Temos sempre que questionar como está a participação dos trabalhadores nos fóruns de debate sobre o tema”.
O último painel de terça-feira foi com os representantes das confederações cutistas dos Metalúrgicos, Químicos, Vestuário e Alimentação. Os dirigentes apresentaram o perfil, as estratégias e as políticas desenvolvidas pelas entidades sindicais das categorias.
Alimentação
Com 140 mil trabalhadores no RS, a alimentação é o principal setor da economia gaúcha, conforme explicou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação, Agroindústria, Cooperativas de Cereais e Assalariados Rurais (Contac), Siderlei de Oliveira.
“O principal problema no nosso segmento são as doenças do trabalho. É um setor que migra: as empresas vão onde estão os grãos e empregam até deixar os trabalhadores doentes; então vão para outra localidade”, relatou.
O Brasil é uma grande referência neste segmento, pois é o maior produtor de soja do mundo, assim como de açúcar e suco de laranja, além de ser o maior exportador de carne. “Ainda temos uma grande potência para ser explorada, que é a nossa costa marítima, o setor da pescaria”, lembrou. Para ele, atualmente, a discussão do macrossetor é o principal debate dentro da CUT: “É muito importante a realização desse evento, para levarmos essa discussão em todos os estados e poder entender o setor industrial como um todo”.
Vestuário
A presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria Têxtil, Couro e Calçado (CNTV-CUT), Cida Trajano, apresentou a estrutura da cadeia produtiva do setor, o destino das exportações e o impacto das importações para o setor.
No Brasil, as mulheres compõem 69% da categoria, 54% dos trabalhadores exercem uma jornada de 40 a 44 horas de trabalho e 28% trabalham 45 horas ou mais. “Esse alto número se deve às horas extras e ao banco de horas, que é ilegal, pois não consta nas nossas convenções coletivas”, salientou ela.
A renda média do trabalhador do vestuário é de R$ 811,00. Outro dado divulgado pela dirigente é a alta incidência de trabalho análogo à escravidão no segmento. “Infelizmente, sofremos muito com o neoliberalismo e as terceirizações. Hoje em dias, as grande marcas sobrevivem à custa do trabalho escravo”, informou.
Químicos
O setor emprega cerca de 1,3 milhão de trabalhadores em todo o Brasil. No Rio Grande do Sul, há mais de 73 mil empregados nos diversos segmentos do segmento. “O setor químico corresponde a 18% do PIB brasileiro”, disse a presidente da Confederação Nacional do Ramo Químico, Lucineide Varjão. De acordo com ela, os principais desafios do setor é o fortalecimento das secretarias regionais e a ampliação da capilaridade. “Também é fundamental desenvolver políticas nas áreas de gênero, juventude e saúde do trabalhador”, salientou.
Metalúrgicos
O secretário geral e de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), João Cayres, apresentou o que a entidade tem feito para fortalecer o setor, que emprega 2,5 milhões de metalúrgicos no país. Cayres lembrou que o setor naval proporcionalmente é o que mais cresceu, com a política adotada nos últimos 10 anos. “Isso ajuda a fortalecer o nosso ramo”, afirmou, lembrando que a reestruturação da indústria naval foi proposta pela CNM/CUT ao então candidato Lula, que a adotou.
Ele também assinalou a participação dos dirigentes da Confederação nos Grupos de Trabalho do Plano Brasil Maior, que tem como objetivo construir políticas públicas para a indústria nacional. Quinze dirigentes da CNM estiveram presentes no Seminário.
Trabalho na base
O secretário de Organização e Política Sindical, Vilson Alba, destacou que, além de discussão de ações comuns das categorias do setor industrial, o Seminário foi importante para a organização sindical do Macrossetor dentro da CUT: “É importante que a gente se conheça e trabalhe juntos”.
“Agora temos de fazer este debate e as propostas chegarem aos sindicatos de base, porque é lá que começa a organização dos trabalhadores”, concluiu o presidente da CUT-RS.
Visitas
João Cayres e o secretário de Políticas Sindicais da CNM/CUT, Loricardo de Oliveira, aproveitaram a viagem a Porto Alegre para, ao final do seminário, fazer uma visita às sedes da Federação Estadual dos Metalúrgicos e da CUT-RS. Na FEM-RS, foram recebidos pelo presidente Jairo Carneiro e o secretário de Finanças, Ademir Bueno, e pelo presidente do Sindicato de Erechim, Fábio Adamczuk. Já na sede da CUT-RS, se encontraram com Claudir Nespolo e o secretário de Políticas Sociais, Luiz Henrique Alves Pereira.
(Fonte: assessorias de imprensa CUT-RS e CNM/CUT)