Prática antissindical da Nissan: Lula envia carta à direção mundial da montadora

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou esta semana carta ao presidente e ao diretor-chefe de operações da montadora Nissan, demonstrando preocupação com a prática antissindical adotada pela montadora em sua unidade em Canton, Mississipi, nos Estados Unidos. Naquela unidade da montadora, a direção impede que os trabalhadores se filiem à UAW (United Auto Workers), o sindicato nacional dos metalúrgicos nas montadoras e, com isso, que possam lutar por condições de trabalho dignas.

 

A convite da UAW, Lula esteve, no início do ano, nos EUA, junto com o secretário geral e de Relações Internacionais da Confederação nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), João Cayres, no lançamento da campanha mundial do sindicato norte-americano contra essa prática da Nissan.


No Brasil, Lula também se reuniu, no final de junho, com uma delegação de trabalhadores da Nissan de Canton, sindicalistas e apoiadores da campanha, como o ator Danny Glover. Eles estiveram no Brasil para buscar mais apoio para a campanha.

Vale lembrar que, pela legislação norte-americana, a filiação de trabalhadores ao sindicato só pode acontecer se for aprovada em votação nas fábricas, com a aceitação de 50% mais um dos votos. E a Nissan, além de impedir que o UAW realize esse processo, chantageia os trabalhadores e a população, espalhando que fechará a fábrica, caso a sindicalização aconteça. O Mississipi é o estado mais pobre dos Estados Unidos.

Confira aqui a carta enviada pelo ex-presidente Lula à empresa:

"Prezados Senhores Ghosn e Shiga-san,

Considero a Nissan uma empresa global de destaque, que fabrica produtos da maior qualidade, e fico muito satisfeito que ela esteja operando unidades de montagem nos Estados Unidos, assim como em meu País.

Contudo, sinto-me obrigado a comunicar-lhes uma séria preocupação que me foi trazida com relação à resposta da Nissan aos esforços de sindicalização nos Estados Unidos.

Já recebi duas delegações de trabalhadores norte americanos da unidade da Nissan em Canton, Mississipi, que me relataram graves dificuldades impostas naquela fábrica às atividades sindicais.

Entendo que o grupo Nissan-Renault mantém relações respeitosas com os sindicatos no Brasil e em outros países. Porém, estou muito preocupado com a campanha antissindical que a Nissan tem feito nos Estados Unidos, considerando que o direito de sindicalização é um direito humano universalmente reconhecido e uma exigência taxativa da Organização Internacional do Trabalho, organismo das Nações Unidas, em várias de suas convenções oficiais.

Sendo assim, chega a ser difícil de acreditar – e me causa um sentimento de indignação – que a Nissan mantenha essa atitude de intransigência e intolerância em uma planta norte-americana, cabendo indagar se isso decorre de alguma decisão da própria empresa ou, mais grave ainda, se é fruto de intervenções inaceitáveis do governo dos Estados Unidos.

Apelo, portanto, ao mais alto nível de direção empresarial da Nissan, no sentido de alterar imediatamente esse tipo de prática antissindical, colocando-se em sintonia com os valores democráticos nas relações de trabalho que devem nortear todas as empresas nesse início de século 21, abolindo restrições e barreiras que eram próprias dos séculos anteriores ao século 20.

Agradeço sua atenção e espero iniciativas saneadoras.

Muito obrigado.

Luiz Inácio Lula da Silva"


Fonte: Instituto Lula, com assessoria de imprensa da CNM/CUT

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