Para Pochmann, resultado do PIB é "alerta" para as decisões do Banco Central sobre a taxa básica de juros

 

A demanda interna continua sustentando a expansão econômica, observa o economista Marcio Pochmann. “A ênfase no mercado interno é o diferencial do Brasil”, disse o presidente da Fundação Perseu Abramo e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “O indicador confirma que deveremos ter um crescimento mais vigoroso (que em 2012), mas talvez não como seria necessário”, afirmou, ao comentar os resultados do PIB, divulgados hoje (29) pelo IBGE. Ele destaca também o fato de o país manter crescimento do salário e do emprego, enquanto outros países promovem cortes de salários e direitos.

Pochmann considerou “alvissareiro” o dado sobre investimentos, que cresceram 4,6% entre o último trimestre do ano passado e o primeiro deste ano. Esse seria o elemento mais consistente, acredita. “Uma recuperação lenta, claro, mas que vai dar sustentação para além do consumo das famílias”, observa. O crescimento das importações tem um lado positivo, avalia, ao indicar investimentos em bens de capital. “Por outro lado, nos dificulta no setor externo.”

Sobre o resultado da indústria, que continua sem reagir, ele lembra que o primeiro trimestre é um período mais influenciado pela agropecuária (que cresceu 9,7% sobre o quarto trimestre, 17% em relação ao primeiro trimestre de 2012 e 3,9% em 12 meses). Mas considera “preocupante” o desempenho da indústria de transformação, embora ressalve que esse setor costuma ter melhores resultados depois do primeiro trimestre.

Para o economista, o resultado pode servir de “alerta” em relação às decisões do Banco Central – o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decide hoje sobre a taxa básica de juros para os próximos 45 dias. Se considerou acertada a decisão anterior, de aumentar a Selic em 0,25 ponto, para 7,5% ao ano, para a “mediação das expectativas”, Pochmann já pensa diferente em relação a esta reunião. “Uma elevação de juros pode afetar negativamente as expectativas de quem quer investir. Taxa alta não combina com investimento.”

Investimento, na estrutura do PIB, é identificado pelo nome de Formação Bruta de Capital Fixo, que, traduzindo, mede o quanto as empresas aumentaram os seus bens de capital, aqueles itens que servem para produzir outros bens, como máquinas, equipamentos e material de construção. O crescimento desse item na composição do PIB é um termômetro importante da capacidade de produção do país e da confiança dos empresários no futuro.

Pochmann acredita que este pode ser o momento para uma “boa discussão” sobre os objetivos do BC, para não restringir seus horizontes à inflação, mas considerar outros indicadores, como o emprego.

Fonte:  Vitor Nuzzi, da RBA

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