Metalúrgicos da CUT engajam-se em manifestação

Os metalúrgicos da CUT vão se engajar nas manifestações que tomaram conta do país e pretendem, sobretudo, fazer de seu histórico conhecimento em movimentos trabalhistas uma ferramenta para buscar novos líderes sindicais, políticos e sociais. Eles temem que a falta de liderança nos recentes protestos enfraqueça reivindicações relevantes para o país. A decisão dos metalúrgicos da CUT é a primeira reação do movimento sindical, que ontem discutiu o tema numa reunião com Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula reuniu-se, a portas fechadas, com líderes das principais centrais sindicais do país - CUT, Força Sindical, CTB e Nova Central. Segundo a assessoria do ex-presidente, o evento já estava marcado há alguns dias. Mas temas da pauta inicialmente preparada para o encontro - como jornada de 40 horas semanais e o fim do fator previdenciário - podem ser as bandeiras que levarão o movimento sindical às ruas.

Fechados até hoje em pautas específicas da categoria, os metalúrgicos se espantam com a mudança das estratégias de mobilização das massas. A visita de um universitário, de 18 anos, na terça-feira, surpreendeu a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O jovem perguntou se os sindicalistas apoiariam uma manifestação, marcada para hoje, em São Bernardo do Campo. Ao receber uma resposta positiva, deixou seu contato no facebook e partiu. "Pensávamos que ele ia nos pedir um carro de som", diz o presidente do sindicato, Rafael Marques. A ausência do equipamento, essencial nas lutas do passado e obsoleto na era da organização por redes sociais, não é a única coisa que chama a atenção dos sindicalistas. A falta de lideranças forte é outra incógnita.

O sindicato do ABC decidiu vasculhar as fábricas para saber se os trabalhadores da base já se envolveram nos movimentos que tomaram as ruas. "Queremos achar nossos personagens", diz Marques. Ao mesmo tempo, os dirigentes pretendem "chamar a juventude" que está à frente das manifestações para dentro da entidade, mesmo os não metalúrgicos. "Antes que, pelas características de desorganização, essas manifestações se desfaçam, é preciso descobrir novos líderes. São esses novos rostos que podem tomar à frente de futuros movimentos partidários, sindicais e sociais", diz Marques.

Cerca de 200 delegados que representam sindicatos de metalúrgicos da CUT de todo o país estavam ontem reunidos numa plenária, muito próximos da Via Anchieta, por onde passou o a manifestação que bloqueou a estrada que faz ligação com o Porto de Santos. Na plenária da CUT discutia-se política industrial quando um grupo do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) cruzou pela rodovia que até hoje serviu muito mais de palco aos movimentos de metalúrgicos do que a qualquer outro manifestante. A passeata foi parar no Paço Municipal, outro cenário das históricas greves e a poucos metros da residência de Luiz Inácio Lula da Silva.

A discussão sobre política industrial foi momentaneamente substituída pela questão dos protestos. Aproveitando a presença maciça de representantes de uma das categorias mais mobilizadas do país, o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM-CUT), Paulo Cayres, decidiu organizar os delegados. "Orientei todos a apoiar os movimentos", diz.

Cayres avalia os protestos como resultado de um país que saiu "do domínio das elites". "Com a distribuição de renda, mais de 40 milhões saíram da pobreza", afirma Cayres. "Eu, que nasci no movimento acho que o povo está correto, uma democracia tem que ser assim; eu só não gosto da falta de liderança", completa.

Os metalúrgicos se veem agora com a missão de ampliar a liderança que cultivaram em suas bases. "Como corporação, conseguimos avanços importantes que se consolidaram e deram um certo conforto aos trabalhadores, que têm uma renda crescente e contam com conquistas como convenções coletivas a cada dois anos", afirma Marques, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Ele lembra, ainda, a organização nos locais de trabalho, dentro das fábricas, que sustentaram essa organização. "Trata-se de uma mobilização própria, mas que está, ao mesmo tempo, longe de se esgotar", completa o dirigente.

Os sindicalistas reconhecem, no entanto, a necessidade de se voltar para as novas gerações. "Nosso sindicato tem uma comissão de juventude que está envelhecendo porque essas nossas entidades não parecem mais atrativas", diz Marques. A média de idade dos 104 mil metalúrgicos da base do ABC é de 39 anos. Só 9% têm entre 16 e 24 anos. Os jovens que trabalham nas empresas menores não pretendem continuar metalúrgicos. Grande parte faz planos de concluir faculdade para mudar de profissão.

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