Encontro estadual reúne mil trabalhadores sem terra no RS

Como símbolo de compromisso e gesto de unidade, a entrega de bonés do MST para cerca de mil assentados e acampados, que participam do 17º Encontro Estadual do MST do Rio Grande do Sul, marcou a abertura do evento na manhã desta terça-feira (19).

As atividades de confraternização, avaliação e planejamento acontecem até quinta-feira (21) no Assentamento Capela, em Nova Santa Rita, na região Metropolitana de Porto Alegre.

A mística que antecedeu o ato de abertura envolveu jovens, adultos e crianças, resgatou a história do MST e suas conquistas, bem como os desafios que o Movimento tem pela frente na construção da Reforma Agrária Popular, da soberania alimentar e de uma sociedade socialista.

De acordo o dirigente do MST, Emerson Giacomelli, o encontro estadual começou a ser organizado no segundo semestre de 2015, com reuniões entre setores e em assentamentos e acampamentos nas regiões do estado.

“É uma alegria muito grande receber nosso encontro estadual aqui em Capela, um assentamento que é fruto de muita luta e organização. É momento de confraternizar com os companheiros, planejar e fazer uma síntese do que foi o movimento nos últimos dois anos”, apontou.

Giacomelli também afirmou que o último período foi marcado por “uma conjuntura política extremamente difícil”, com poucas famílias assentadas no país, e definiu a construção da Frente Brasil Popular (FBP) um momento “histórico” para a unidade e os anseios da classe trabalhadora.

“A atual conjuntura nos impõe uma tarefa muito importante, a qual exige capacidade política de avaliação e planejamento. O MST possui peso e referência e temos que ajudar outras forças populares a se organizar para que a classe trabalhadora tenha força de mobilização e não seja derrotada politicamente”, argumentou Giacomelli.

Representando a Via Campesina, Marcelo Leal, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), destacou a luta dos camponeses por direitos, para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária e de um projeto popular para o país. Segundo ele, “os camponeses sempre participaram das lutas sociais no campo e na cidade, mas sempre estiveram às margens do poder”.

“Nós somos os mais fiéis aliados aos trabalhadores urbanos, e não a burguesia que sempre trai a luta”, disse.

Leal explicou ainda que os grandes financiadores de campanhas eleitorais no Brasil estão vinculados ao agronegócio, o que desafia o MST e outros movimentos camponeses a efetivar a Reforma Agrária Popular no País por meio da organização e da luta, com redistribuição de terra e soberania alimentar com a agroecologia.

A prefeita de Nova Santa Rita, Margarete Ferretti (PT) declarou que o município se sente orgulhoso de ter em seu território quatro assentamentos do MST – Capela, Sinos, Santa Rita de Cássia II e Itapuí –, todos produzindo orgânicos para o auto sustento de mais de 330 famílias Sem Terra e comercialização no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e em feiras.

“Temos alegria de dizer que os nossos assentamentos produzem alimentos sem agrotóxicos, que os Sem Terra estão organizados, discutindo e planejando a sua produção, trabalhando dia e noite para dar uma vida mais digna a esta localidade”, frisou Margarete.

Já a militante do Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM) e representante da Frente Brasil Popular no encontro, Suelen Aires, falou sobre as últimas ações da Frente que envolvem desde a defesa da democracia e dos direitos socais já conquistados pela classe trabalhadora até a soberania nacional.

“Entre os nossos objetivos para o próximo período está a busca de uma política econômica com desenvolvimento sustentável, porque não nos sentimos contemplados com aquela que nos foi apresentada. Também queremos ampliar os espaços democráticos, com debates sobre a alimentação saudável, a questão energética e o petróleo”, finalizou Suelen.


Conjuntura política e agrária

Durante a tarde, o ex-governador do RS, Olívio Dutra fez um relato de motivação à luta e apoio às bandeiras erguidas pelos trabalhadores sem terra. Os assentados e acampados também participaram de plenárias sobre a atual conjuntura política, com o coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile; e o integrante da Frente Brasil Popular, Milton Viário, da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos (FTM) do RS.

Ainda ocorreram explanações sobre as consequências do uso de agrotóxicos, com o engenheiro agrônomo e presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Leonardo Melgarejo; e conjuntura agrária, com o dirigente nacional do MPA, Frei Sérgio.

Os sem terra também mostraram seu gingado com a Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, do município de Viamão, que apresentou seu samba-enredo deste Carnaval, uma homenagem à agricultura familiar, a produção de alimentos saudáveis e Adão Pretto (in memoriam).

Fonte: Catiana de Medeiros/MST

 

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