Convocação De Peso

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Convocação De Peso
Para industrial, é hora de batalhar por medidas mais amplas do que as que afetam a própria atividade.

O empresário Jorge Gerdau Johannpeter discorria sobre as razões da perda de competitividade das empresas brasileiras no mundo em frente a 200 empresários quando lembrou do almoço do dia anterior, na Confederação Nacional da Indústria. – Me deram um palito de dente. Desconfiei e perguntei de onde era o palito. Era chinês. Como pode? – disse, bem-humorado.

Arrancou risos da plateia – cerca de 200 representantes das maiores empresas gaúchas, reunidos no Centro de Convenções da Fiergs, em Porto Alegre, ontem pela manhã. Mas não foram risadas, porque o contexto da história não faz empresário algum achar graça. O palito chinês num almoço de industriais brasileiros levou Gerdau a contar que empresas chinesas, por exemplo, convivem com um juro médio menor do que a inflação daquele país. Enquanto isso, 5% do faturamento na cadeia produtiva da siderurgia no Brasil é corroído por tributos.

E, então, depois de descrever o quadro, ele fez uma convocação:

– Precisamos mudar a estrutura do país e ter projeto para daqui a 20 anos. E isso tem de sair das lideranças empresariais.

Os representantes das maiores empresas gaúchas, convidadas pela PricewaterhouseCoopers e pela Revista Amanhã para o evento, ouviam tudo com atenção. Na opinião de Gerdau, dos políticos não se pode esperar esse planejamento de longo prazo necessário, já que os 40% do Produto Interno Bruto nas mãos do governo têm um índice de ineficiência que faz com que não adiante mais “ser competitivo na minha empresa”, disse. É hora de batalhar por medidas mais amplas do que as que afetam sua atividade.

– No fundo, é preciso uma maior mobilização política do setor produtivo – resumiu Gerdau após a palestra.

Na plateia, a ideia de atuação mais forte na política impressionou. O respeito da classe pelo homem que levou o Grupo Gerdau a 14 países era visível nos comentários sobre a palestra.

Empresários não são muito afeitos a falar de política publicamente por uma questão da cultura brasileira, explicou, à tarde, o diretor do MBA da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Genaro Galli. Mesmo instrumentos legítimos de influência, como o lobby, normais nos EUA e na Europa, são malvistos por aqui. Então, o empresariado se acostumou a evitar a exposição pública para preservar a imagem das companhias. Ao tomar para si uma posição mais importante no debate dos rumos do país, o setor pode combater uma visão de parte da população que vê a iniciativa privada sugando recursos do país e não considera o papel na geração de empregos, explica Galli.

Participar de um projeto de futuro, como quer Gerdau, não seria novidade. Os planos de metas de Juscelino Kubitschek, por exemplo, foram traçados em conjunto com empresários como Roberto Simonsen, lembra a professora de Ciência Política da UFRGS Maria Izabel Noll. Desde os anos 1980, esse papel se reduziu, explica, mas a participação em conselhos de desenvolvimento mostra que o setor privado costuma ter propostas de longo prazo.





Fonte: Clicrbs

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