Contra A Crise, Parlamentares Querem Aliança Com Movimentos

Documento final do Fórum Parlamentar Mundial defende aproximação com movimentos sociais e envia uma mensagem ao Conselho Internacional do FSM: "Alertamos o CI para a necessidade de integrar as iniciativas originadas na sociedade civil com as experiências protagonizadas por partidos populares, coalizões de esquerda e governos progressistas".


BELÉM - Assim como aconteceu em outros eventos que fazem parte do Fórum Social Mundial 2009, a crítica ao modelo econômico neoliberal e a afirmação da necessidade de superar a crise financeira global sem subtrair direitos sociais ou prejudicar os países menos desenvolvidos foram os principais pontos de debate do 6º Fórum Parlamentar Mundial, que se encerrou na sexta-feira (30) em Belém. Dezenas de parlamentares de países da América Latina e da Europa, além de deputados da Palestina, debateram também temas como processos migratórios, xenofobia, paz, sustentabilidade, democracia e direitos humanos.

A declaração final do Fórum, aprovada consensualmente pelos parlamentares, afirma que "é fundamental a reorganização e reorientação das instituições financeiras internacionais, tal como o Banco Mundial, o FMI e a OMC" e também recusa a partilha entre os Estados Unidos e a União Européia das presidências destas instituições: "Há mais mundo para além das potências capitalistas. A nova correlação de forças na América Latina, que hoje conta com um vasto leque de governos de esquerda, deve emprestar suas novas receitas para um desenvolvimento social e econômico de novo tipo", diz o documento.

O Fórum Parlamentar Mundial aprovou também uma resolução sobre a crise financeira, na qual "rechaça o sistema financeiro internacional orientado à especulação, que diminui seriamente a capacidade dos países em desenvolvimento" e pede a construção de "sociedades justas, inclusivas e solidárias". A resolução também "exorta os movimentos sociais do mundo a se organizar e mobilizar a favor de um novo sistema financeiro e econômico mundial fundado nos valores virtuosos da justiça, igualdade e solidariedade e a denunciar, no marco das conferências da ONU, o capitalismo e o neoliberalismo responsáveis pela atual crise financeira mundial".

Líder do governo do Brasil na Câmara dos Deputados, Henrique Fontana (PT-RS) convocou os colegas presentes ao Fórum Parlamentar Mundial a "intensificar o debate sobre o modelo econômico que nós queremos ver implantado no mundo inteiro" e fez um alerta: "A esquerda ainda não está conseguindo fazer o debate ideológico com a força necessária para combater a visão hegemônica da economia mundial. Este é o nosso grande desafio", disse.

Fontana afirmou que os parlamentares de esquerda devem se articular com os movimentos sociais em todo o mundo para viabilizar a agenda por um outro mundo possível: "É preciso dizer com todas as letras que essa crise é uma crise do capitalismo global. Ainda não temos hegemonia política para impor a agenda do Fórum Social Mundial, mas é preciso agir concretamente para isso".

Maior atuação
O deputado federal petista também fez críticas a pouca presença dos parlamentares: "Ela foi muito pequena. Isso precisa melhorar, apesar de reconhecermos que é um fruto da histórica distância nas relações entre o poder institucional e os movimentos sociais. Gostaria de uma presença maior de parlamentares, pois nós poderemos tomar um conjunto de medidas globais, como, por exemplo, a redução da jornada de trabalho. Quanto mais global for o debate sobre temas que envolvam o parlamento, melhor. A democracia participativa tem que ter sinergia com a democracia direta", disse Fontana.

Principal organizador do Fórum Parlamentar Mundial realizado em Belém, o deputado federal José Geraldo (PT-PA) fez uma avaliação positiva sobre o evento: "O contexto de crise global nos unifica mais e nos desafia mais. O parlamento começa a sentir a necessidade de atuar mais no que diz respeito a aprovar uma legislação que venha a atender as demandas quer são apresentadas pelos movimentos sociais. Os deputados comungam da visão de que os governos dos diversos países devem intervir nessa conjuntura e adotar programas para promover a inclusão social", disse.

José Geraldo ressaltou a importância de o Fórum Parlamentar acontecer paralelamente ao FSM: "O Fórum Social Mundial tem uma força que outras manifestações não têm, na medida em que você reúne gente de todo o mundo para discutir as políticas públicas. É um momento importante de conscientização, pressão, articulação e proposição, e isso tem um rendimento e um alcance políticos muito bons".

Recado ao CI
Os parlamentares também citaram a velha polêmica sobre se o FSM deve ou não atuar conjuntamente com os partidos políticos: "Eleitos pelo povo com compromissos de defender, a partir das instituições, uma ação que tem os mesmos objetivos dos movimentos sociais e do FSM, entendemos ter um importante papel a cumprir no âmbito dos Fóruns Sociais", diz a declaração final do Fórum Parlamentar Mundial.

Sobre o mesmo tema, o documento dos parlamentares manda um recado aos membros do Conselho Internacional do FSM: "Alertamos o CI para a necessidade de integrar as iniciativas originadas na sociedade civil com as experiências protagonizadas por partidos populares, coalizões de esquerda e governos progressistas".



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