Abstenção recorde: 31 milhões de brasileiros não votaram nas eleições 2022

FABIO POZZEBOM / AGÊNCIA BRASIL
Abstenção recorde: 31 milhões de brasileiros não votaram nas eleições 2022

O índice de abstenção, eleitores que se negaram a fazer opções políticas, aumentou em 0,6 ponto percentual de 2018 para 2022. Passou de 20,3% há quatro anos para 20,9% no pleito deste domingo (2). Um total de 32,76 milhões de brasileiros aptos a votar não compareceu às urnas para votar nos candidatos a presidente, senador, deputado estadual ou federal e governador.

São eleitores que acabam deixando que outras pessoas decidam em seu lugar o futuro do país, diz o secretário de Administração e Finanças da CUT, o professor Ariovaldo de Camargo.

“Em uma eleição polarizada com duas representações totalmente opostas sobre qual país vai surgir a partir de 30 de outubro, é preciso se informar e entender melhor o que se passa na eleição. E cada um dos brasileiros tem de assumir o papel no processo eleitoral, votando e dando sua participação para que a democracia se fortaleça”, diz o dirigente. Ele se refere à decisão em 2° turno, a ser realizada no fim do mês, que definirá qual candidato terá maioria dos votos – se o ex-presidente Lula (PT) ou o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, os mais votados no primeiro turno.

Por isso, reforça Ariovaldo, “é importante opinar sobre o processo de decisão sobre quem deve conduzir o país”.

Lula conquistou 57.179.064 dos votos válidos, faltaram apenas 1,8 milhão para ser para eleito no primeiro turno, o que poderia ter acontecido se a abstenção tivesse sido menor. Já Bolsonaro teve 51.052.598 dos votos válidos.

Além dos mais de 32 milhões que não votaram, do total de 156,4 milhões de eleitores aptos, cerca de 3,4 milhões anularam o voto e 1,9 milhão votaram em branco, totalizando 4,4% dos votos totais.

Esses grupos também deixaram nas mãos dos outros a decisão sobre o futuro do país, ressalta Ari.

O dirigente lembra que, em 2020, no auge da pandemia, com milhares de brasileiros morrendo sem a vacina que o presidente demorou a comprar, muitos dos que se omitiram, se arrependeram amargamente, mas já não havia o que fazer.

Mais pobres definem a eleição

Historicamente é a população de mais baixa renda a que mais deixa de comparecer às urnas. E, por ser maioria dos brasileiros, é a população que tem maior potencial de definir o resultado das urnas.

Os fatores que explicam o não comparecimento às urnas são vários, mas passam principalmente por questões econômicas. Muitos eleitores são obrigados a pagar transporte público ou privado para o deslocamento até a seção eleitoral. Poucas cidades oferecem transporte gratuito no dia da eleição.

“Várias capitais não deram transporte público, mas é preciso entender que fica mais caro para a vida a não participação do processo do que fazer o esforço pessoal de comparecer às urnas”, diz Ariovaldo.

O dirigente ainda ressalta que o Estado deveria arcar com essas políticas de passe livre e que, lamentavelmente, “os que mais sofrem com a falta dessas políticas, de um Estado presente, são aqueles que estão deixando de fazer a escolha por uma candidatura que defende o inverso”.

Ou seja, o Estado não protege essas pessoas e é justamente elas que deveriam exercer seu papel democrático de escolher um candidato que as proteja.

Projeção para 2° Turno

Em 2018, o índice de abstenção no 2° turno das eleições presidenciais foi maior que no 1° turno. E foi a maior desde 1998. Nas eleições passadas, cerca de 31,3 milhões de brasileiros não votaram na segunda etapa. O número foi mais da metade dos votos totais recebidos por Bolsonaro naquele ano.

Mesmo partindo desses dados – que são recorrentes em todas as eleições – as chances de o atual presidente ser derrotado são maiores do que uma possível vitória dele. Isso porque os números das urnas em 2022 mostram a força do ex-presidente Lula.

A história das eleições aponta uma tendência dominante, diz o dirigente. “Aquele que vence no 1° turno, ainda que não tenha 50% + ‘, em todas as eleições foi vencedor no 2° turno”.

E ele reforça que o resultado deste ano é um dos melhores em todas as eleições e acrescenta que a disputa é contra um candidato que é presidente da República. “Quem tá feliz com o governo, já votou porque quer a continuidade”, ele afirma.

Por isso, prossegue, é difícil que Bolsonaro consiga reverter o quadro. “Não é qualquer coisa reverter 5%. E agora estamos falando do real, do consolidado nas urnas, não de pesquisas”, ele pontua.

De onde devem vir os votos

Para Ariovaldo, além de conscientizar os eleitores que habitualmente se abstém de votar, basta que os votos dos eleitores que não escolheram Bolsonaro no 1° turno sejam migrados para o ex-presidente Lula. “Como os que votaram em Simone Tebet e Ciro Gomes. Basta que parte desses votos venha para Lula e ele será eleito”.

Ainda sobre a abstenção, ele reforça que diminuir o percentual “é importante para que se possa ter a maioria decidindo o futuro do país”.

Militância aguerrida

“A vitória no 1° turno era algo que estava no radar, mas não aconteceu. Agora, a vitória no 2° turno tem que estar ainda mais dentro de cada um. Tem que transformar esse processo de 2° turno em ‘eleição da vida daqueles que tem perspectiva de mudar o futuro’”, diz Ariovaldo.

Ele ressalta que a realidade é distinta de todas as eleições para enaltecer a força do campo progressista em 2022, dado pela expressiva votação obtida pelo ex-presidente. “Não é qualquer coisa Lula, depois de tudo o que passou, estar à frente no 1° turno. E é primeira vez que um presidente que disputa reeleição não ganha no primeiro turno”, diz se referindo a Bolsonaro.

Sentimento

Para o dirigente, o resultado, ainda que postergado para o 2° turno, já é uma demonstração de que a campanha “é vitoriosa porque quebra paradigmas do passado e tende a ser no 2° turno, porque a população sabe a diferença entre uma candidatura fascista e uma candidatura voltada ao social”, diz Ariovaldo.

O dirigente elenca diversos fatores que caracterizaram o atual governo, entre eles, o desdém à pandemia e às mais de 685 mil mortes por Covid-19, a precária economia, o desemprego, a precarização e retirada de direitos trabalhistas e, em especial, à fome que atinge 33 milhões de brasileiros.

Fonte: CUT Nacional

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