Uma Concessão A Favor Do Emprego
Funcionários da Randon, em Caxias, e da Valeo, em São Paulo, aceitam reduzir jornada e salárioA mais abrangente negociação entre patrões e empregados realizada no Estado para evitar demissões decorrente da crise mundial foi aprovada ontem pelos funcionários da Randon, em Caxias do Sul. Outras empresas gaúchas estudam propor medida semelhante.Pelo acordo, 4,7 mil funcionários de cinco empresas do grupo, que tem receita bruta de R$ 4 bilhões e 9.435 empregados, trabalharão um dia a menos por semana, nos meses de fevereiro, março e abril, e receberão 50% do salário referente ao dia parado, informou a gerente corporativa de recursos humanos, Maria Tereza Casagrande.
– A empresa propôs a flexibilização em razão do momento econômico – explicou Maria Tereza.
Numa confirmação de que o mercado de trabalho nacional sofre o impacto da crise, acordo semelhante foi anunciado também ontem pela Valeo, fabricante de autopeças em São Paulo. Os 800 funcionários aprovaram a redução de jornada e de salário por um período de 90 dias. A empresa se compromete com 135 dias de estabilidade.
Segundo a executiva da Randon, os funcionários receberam informações sobre as perspectivas da produção. Em termos gerais, acrescentou, houve redução de até 50% nas vendas. O acordo foi aprovado em votação por 82,6% dos empregados.
Não está previsto estabilidade, mas, segundo Maria Tereza, a empresa respeitará o compromisso ético de não demitir para ajuste de quadro durante a vigência das regras. Se algum funcionário for demitido até dois meses após o fim do acordo, receberá os valores referentes ao que deixou de receber pelos dias parados. A medida inclui presidentes, vice-presidentes e diretorias executivas.
Embora inédita pela abrangência, a redução de jornada e de salário já foi adotada em outros momentos não só pela Randon (em 1999), mas também por outras empresas da região, afirma Odacir Conte, diretor executivo do Simecs, representante das empresas do polo caxiense, o segundo mais importante do país.
Levantamento preliminar do Simecs aponta que a Hyva, a Voges e a Marcopolo, com 1,8 mil funcionários em férias coletivas, poderão iniciar negociações nos próximos dias. Segundo Milton Viário, presidente da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul, 3.313 trabalhadores da categoria, que soma 240 mil no Estado, foram demitidos desde outubro.
– Os trabalhadores estão em choque, porque, nos últimos dois anos, houve um saldo de 1,5 mil novas vagas a cada mês – afirma Viário.
O dirigente confirma que outras empresas, entre as quais Gerdau e Ferrabraz, procuraram os sindicatos para negociar. A MWM International Motores informou ao Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita que pretende adotar redução de jornada e salários na unidade de Canoas, com 800 empregados.
O acordo na Randon
> Os funcionários trabalharão um dia a menos por semana durante os meses de fevereiro, março e abril
> A jornada normal é de cinco dias por semana
> A empresa pagará 50% de cada dia parado
> Não há garantia de estabilidade
> Funcionários que forem demitidos até dois meses depois de terminado o acordo receberão integralmente os valores referentes aos dias parados
> 82,6% dos empregados aprovaram o acordo
> O modelo do acordo é previsto na convenção coletiva há mais de 10 anos
> Conforme a convenção coletiva, é necessário a aprovação de no mínimo 62% dos funcionários
Fonte: Zero Hora