Trabalhadores lançam instituto para influenciar política industrial
São Paulo – A defesa de uma indústria nacional, que tenha diretrizes com participação dos trabalhadores, é o foco do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil, fundado na manhã desta quarta-feira (18) na sede da CUT, em São Paulo. "Estamos criando uma ferramenta para introduzir as pautas dos trabalhadores nos fóruns de decisão", afirmou o presidente do instituto, Rafael Marques, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Com origem em uma resolução da CUT, o TID-Brasil surge da iniciativa de cinco confederações que integram o chamado macrossetor da indústria na central: metalúrgicos (CNM), ramo químico (CNQ), vestuário (CNTRV), trabalhadores em alimentação (Contac) e das indústrias da construção e da madeira (Conticom). Segundo Rafael, é preciso desenvolver mentalidade e práticas novas, com ações mais unitárias.
Ainda mais em um ambiente de ameaça a direitos e esvaziamento da produção brasileira, que em 2005 respondia por 2,8% do total mundial e no ano passado representava 1,8%. É preciso, por exemplo, mensurar o impacto, nas cadeias produtivas, desse ponto percentual a menos em um período de 10 anos. "Modernização não pode ser precarização", disse Rafael, acrescentando que a questão da competitividade deve ser vista "em um contexto de direitos e olhando para o futuro", considerando a indústria como principal indutor do desenvolvimento e da criação de empregos.
Para a presidenta da CNQ, Lucineide Varjão, eleita hoje tesoureira do instituto, é necessário ter um instrumento de pesquisa para "o enfrentamento de toda essa conjuntura que a gente atravessa". Ela cita desafios como os vividos atualmente pelos trabalhadores da Petrobras e do setor de papel, com a chamada indústria 4.0, com a introdução de novas tecnologias. E destacou a fusão, já aprovada, entre os trabalhadores dos ramos químico e do vestuário, na base da CUT. "O mundo caminha para isso, e o movimento sindical precisa acompanhar as transformações."
O presidente da CNM-CUT, Paulo Cayres, avalia que o instituto nasce "no melhor momento", quando é necessário formular propostas para disputar empregos de qualidade, não os que serão criados, segundo ele, pela reforma trabalhista, os sub-empregos. E usa termo citado também por Lucineide. "Estamos num momento de enfrentamento. É um instituto técnico de luta", afirmou, considerando "entreguista" o dirigente sindical que aceitar rebaixar direitos com base na Lei 13.467, que altera a legislação trabalhista.
Secretário de Política Sindical da Contac e agora diretor-executivo do TID-Brasil, Nelson Moreli destaca a importância do instituto em um período de desmonte da indústria nacional. "Precisamos reconstruir", afirmou. Ele também pediu solidariedade aos trabalhadores do grupo JBS, ameaçados após as denúncias que envolvem a empresa. "Tem 130 mil empregos em risco", alertou, informando que várias atividades estão sendo organizadas pelo país – no próximo dia 24, por exemplo, em São Paulo.
Esvaziamento
O próprio instituto – que fará sua primeira reunião em 13 de novembro – já surge com bastante conteúdo acumulado, das próprias confederações, e várias ações programadas. Dirigentes vão se reunir nos próximos dias com representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para discutir o andamento de acordos comerciais com a União Europeia e no Mercosul. Rafael observa que há uma negociação em curso para estabelecer livre comércio com a UE: "A tendência é de mais esvaziamento industrial. Em vez de apostar na integração da América do Sul, (o governo está) entregando para os europeus uma parcela da nossa indústria".
Outra reunião prevista é com acadêmicos chineses e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre biocombustíveis. O presidente do instituto enfatiza que uma política industrial precisa ter longa duração, escapando de pressões do mercado financeiro.
Integram ainda a direção a presidenta da CNTRV, Francisca Trajano dos Santos, a Cida (secretária-geral) e o presidente da Conticom, Claudio da Silva Gomes (diretor-executivo). Inicialmente, a sede do TID-Brasil será no local onde funcionava o grêmio dos trabalhadores na Rolls-Royce, em São Bernardo do Campo. A empresa fechou, basicamente, por defasagem tecnológica. "Achamos que é simbólico iniciar nesse local", comentou Rafael.
Fonte: Vitor Nuzzi, da RBA