Stédile recebe medalha na ALRS após tentativa frustrada de cancelamento por deputados de direita
João Pedro Stédile, um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha na tarde desta segunda-feira (16). A distinção, proposta pelo deputado Adão Pretto Filho (PT), foi entregue na Assembleia Legislativa do RS mesmo após tentativa de deputados de direita de barrar a homenagem.
Ao apontar que o modelo capitalista impôs mudanças nas leis ambientais em nome do lucro, causando a degradação do meio ambiente e contribuindo para a crise climática atual, Stédile afirmou que o MST passa por uma “mudança de paradigma”: “A reforma agrária não é mais camponesa. Não podemos mais pensar apenas em dividir o latifúndio improdutivo, como manda a constituição federal. A reforma agrária agora deve ser popular, para atender a todo povo, através da defesa da natureza e da produção de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos”.
Para isso, Stédile diz que o caminho é “massificar a agroecologia, com o controle das sementes, com desmatamento zero e um plano massivo de reflorestamento”.
O salão Júlio de Castilhos reuniu centenas de pessoas – a maioria identificadas como militantes do MST – para acompanhar a entrega da medalha a Stédile. Além de integrantes do movimento, deputados e vereadores de esquerda estiveram presentes no evento. Um telão foi instalado do lado de fora do Palácio Farroupilha para quem quisesse acompanhar a cerimônia, fazendo com que mais militantes se reunissem também na praça Marechal Deodoro.
Por causa do impasse com os parlamentares Delegado Zucco (Republicanos), Capitão Martim (Republicanos) e Rodrigo Lorenzoni (PL), que haviam entrado com pedido para que a Mesa Diretora da Assembleia reconsiderasse a homenagem, o clima no prédio do Legislativo era tenso durante os momentos que antecederam o evento. O esquema de segurança foi reforçado com a polícia legislativa, mas não houve necessidade de acionar os agentes durante a cerimônia.
A medalha do Mérito Farroupilha foi instituída em 2009 com a finalidade de homenagear cidadãos brasileiros ou estrangeiros que tenham se tornado merecedores do reconhecimento no parlamento gaúcho.
Natural do município de Lagoa Vermelha, Stédile é graduado em economia pela PUCRS e pós-graduado pela Universidade Estadual Autônoma do México. O ativista é descendente de camponeses imigrantes italianos que se estabeleceram em Antônio Prado. É membro do coletivo da coordenação nacional do MST, contribui com articulações internaiconais de movimentos sociais e participa dos encontros de movimentos populares com o Papa Francisco.
Em seu discurso, o líder ressaltou que a medalha recebida se estende a todo o MST, movimento que chamou de “herdeiro de lutas históricas do nosso povo”. Em seguida, resgatou a história do movimento por reforma agrária desde suas origens. Lembrou que diversos povos foram enganados e dizimados com a promessa de terras.
Avançando para o governo Brizola, Stédile salientou a criação do Instituto Gaúcho de Reforma Agrária pelo pedetista. “A reforma agrária não podia ser apenas um instrumento do estado, e por isso estimularam a organização dos camponeses pobres, que se materializou no movimento dos agricultores sem terra gaúchos”, afirmou.
A ditadura militar sufocou o movimento, segundo Stédile, mas no final do regime as lutas pela terra ressurgiram em todo o País. Isso culminou no surgimento do MST em 1984, 40 anos atrás. “Desde então, 4.556 latifúndios foram ocupados no Brasil”, comemorou.
Ao Sul21, Stédile falou sobre como avalia a relação do MST com o governo federal: “O movimento sempre foi autônomo, e é isso que nos permitiu ter longa vida. Nós ajudamos a tirar o Lula da cadeia e ajudamos a elegê-lo, ele é o nosso presidente. Mas o governo está falhando na reforma agrária, então é nossa obrigação fazer as críticas necessárias para que o governo resolva os problemas do povo do interior”, disse.
Fonte SUL21