Sindicatos Suspendem Conversas Sobre Demissões E Querem Incluir Governo

A Força Sindical anunciou nesta quinta-feira a suspensão das negociações com a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), por dez dias, em torno das demissões de trabalhadores em meio à crise econômica. O objetivo é incluir o governo nas negociações entre trabalhadores e empregadores.

Assim, teria início uma nova rodada de negociações, sendo "zerado" tudo o que foi conversado até agora --a Força chegou a aceitar a redução de jornada e salários, mas com garantia de emprego, o que os empregadores rejeitam.

O presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, afirmou que nesse período as centrais querem uma reunião com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o governador de São Paulo, José Serra.

O encontro com Lupi poderia acontecer já na próxima segunda-feira. "A situação está brava e pode piorar. Se o governo não fizer nada agora, podemos ver as demissões em janeiro chegando ao dobro do volume de 600 mil verificado no país em dezembro. Esse número do mês passado é tão ruim que o governo até agora não teve coragem de divulgar", disse Paulinho.

Carlos Lupi diz que recursos novos do FAT e FGTS só saem com garantia de emprego
A CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), a Nova Central, a UGT (União Geral dos Trabalhadores) e a CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil) se reuniram hoje em São Paulo para discutir ações conjuntas de proteção ao emprego durante a crise. A CUT foi convidada, mas não tomou parte. Paulinho, porém, afirmou que já conversou com o presidente da CUT, Artur Henrique, e que ele teria aceito os termos acertados durante o encontro da manhã de quinta-feira.

As centrais querem que o governo entre nas negociações trabalhistas para impedir a redução de salário. Elas defendem que os governos federal, estaduais e até municipais reduzam impostos e que o BC (Banco Central) corte "drasticamente" a taxa de juros no país, em pelo menos dois pontos percentuais. Essas concessões, na avaliação das centrais, permitiriam negociar com as empresas reduções de jornada de trabalho sem corte dos salários.

No entanto, admitindo que há divergências a respeito dessa questão, as centrais se comprometeram a respeitar os sindicatos que eventualmente aceitem diminuição de salário dos trabalhadores em troca da manutenção dos empregos. "Uma coisa é o discurso, outra é o que acontece em cada base", ponderou Paulinho.

O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, defendeu ontem, em reunião do Conselho Superior Estratégico da entidade, a redução da jornada de trabalho e de salários para evitar demissões no país. Ele advertiu, no entanto, que um possível acordo não vai garantir estabilidade do emprego.

"Enquanto a redução de jornada com redução de salário estiver em curso, a nossa preocupação é manter o nível de emprego. Mas não estamos falando de estabilidade de emprego, que não está na lei do país nem na competitividade das empresas", disse Skaf. Da reunião participaram presidentes das maiores companhias do país, como Vale, Fiat, Siemens, Telefônica, Embraer, AmBev, Grupo Martins, Moinho Pacífico e Unipar, entre outras.

Apesar de evitar criticar Skaf, Paulinho afirmou ainda que, da reunião que participou com o empresário nesta semana, o presidente da Fiesp afirmou que aceitava discutir a possibilidade da garantia de emprego. Ainda segundo ele, Skaf, porém, destacou que não era possível garantir empregos com "as condições que o governo tem dado".

Outras demandas

Foi acertado ainda na reunião de quinta que as centrais irão organizar manifestações pelo país nas empresas que anunciarem demissões. Também está programada para o dia 21 de janeiro, em frente aos prédios do BC nas principais capitais, um protesto contra a taxa básica de juros brasileira. Nessa data, o Copom (Comitê de Política Monetária) decide o rumo da Selic, atualmente em 13,75% ao ano.

As centrais ainda discutem fechar um pacto de ação pedindo a eliminação de horas extras, de bancos de horas, o aumento das parcelas do seguro-desemprego e que a destinação de qualquer tipo de recurso público a empresas tenha uma cláusula obrigatória que impeça demissões pelas beneficiadas.

GM

Trabalhadores do primeiro turno da General Motors paralisaram a produção por 2 horas na quinta-feira. Foi a segunda manifestação realizada na semana passada em protesto às demissões anunciadas pela empresa.

A GM confirmou no dia 12, a suspensão de 744 contratos por tempo determinado, alguns deles no fim do prazo e outros ainda em andamento. Segundo o sindicato, outros 58 tiveram o contrato encerrado no dia 9.

Os metalúrgicos querem a readmissão dos companheiros e estabilidade no emprego para todos os funcionários.

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, filiado à Conlutas, a manifestação de hoje também é um repúdio à proposta reiterada ontem pela Fiesp.

"É inadmissível que os patrões, que lucraram muito nos últimos anos e que têm todas as condições para garantir empregos e direitos, venham agora tentar jogar a crise sobre os trabalhadores. A posição dos metalúrgicos da GM é clara. Não queremos demissões e nem redução ou flexibilização de direitos", afirmou o diretor do Sindicato e coordenador nacional da Conlutas, Luiz Carlos Prates, conhecido como Mancha.

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