Se as instituições não agirem já, coação poderá influenciar no resultado eleitoral

ROBERTO PARIZOTTI (SAPÃO)
Se as instituições não agirem já, coação poderá influenciar no resultado eleitoral

Se não houver um sinal imediato e mais forte das instituições para coibir patrões que, de forma criminosa, estão obrigando trabalhadores a votar em Jair Bolsonaro (PL), essa onda de assédio eleitoral pode influenciar no resultado da eleição. O alerta é do presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, e foi feito em entrevista à LUSA, agência portuguesa de notícias, que distribui sua produção jornalística à imprensa de toda a Europa.

“É necessário mais agilidade na apuração e punição do assédio eleitoral contra a classe trabalhadora, prática que atende aos interesses da campanha de Bolsonaro”, afirmou Sérgio Nobre, ao destacar que a tarefa da Central é também defender as liberdades da classe trabalhadora, entre elas o direito de votar em quem quiser.

“Numa eleição polarizada como essa, o uso da coerção econômica, porque é disso que se trata, de chantagem por parte dos empresários para assediar os trabalhadores e exigir que votem em Bolsonaro, é crime eleitoral e tem de ser barrado.”

Segundo Sérgio Nobre, o que está acontecendo hoje no Brasil não tem precedentes na história das campanhas eleitorais. “Os patrões estão coagindo e pressionando os trabalhadores porque Bolsonaro sinalizou que eles fizessem isso”, afirma.

“Nunca, em nenhum processo eleitoral anterior, a gente viu coisa parecida e nessa proporção”. De acordo com Sérgio Nobre, patrões sempre tentaram influenciar no voto dos trabalhadores, porém, de maneira mais subjetiva. “Desse jeito e nesse volume, reunindo funcionários e dizendo a eles que têm de votar no Bolsonaro, se não vão perder o emprego e a empresa vai fechar, é inédito e gravíssimo”, afirma o presidente nacional da CUT.

Pode piorar

À agência de notícias de Portugal, Sérgio Nobre afirmou temer que os casos de coação e assédio eleitoral contra trabalhadores aumentem às vésperas da votação do segundo turno, no dia 30 de outubro.

“Não podemos subestimar a capacidade dessa gente de fazer maldade, porque é a parte do empresariado mais retrogrado que faz isso, o empresário que tem tradição de negociação, que tem diálogo com o movimento sindical não entra nisso, mas esses são minoria”, compara o presidente nacional da CUT

“A maior parte dos empresários brasileiros é escravagista, gente que gostaria de ver a escravidão de volta e que está apoiando o Bolsonaro”, disse Sérgio Nobre, ao destacar que a CUT e todas as centrais irão novamente ao Ministério Público do Trabalho, ao Tribunal Superior Eleitoral e a todas os fóruns e as instâncias, inclusive internacionais, para exigir mais fiscalização e celeridade na apuração e punição de empresas e empresários criminosos.

Canais Exclusivos

Os casos de assédio eleitoral no trabalho mais do que dobraram em relação às eleições de 2018. Segundo o Ministério Público do Trabalho, já eram 447 denúncias até a noite desta terça-feira (18).

A CUT abriu um canal exclusivo para que os trabalhadores possam denunciar assédio eleitoral no local do trabalho. Já são mais de 150 denúncias, até esta quarta-feira (19). De forma unitária CUT, Força, UGT, CBT, NCST e CSB, também criaram um site para os trabalhadores denunciarem os patrões que fazem ameaças de demissão a funcionários que não votem em Bolsonaro, ou seja, se o ex-presidente perder a eleição, no dia 30 de outubro (derrota é apontada por todas as pesquisas eleitorais).

“Estamos orientando todas as estaduais da CUT e os sindicatos que as nossas bases denunciem casos e a façam ações contra práticas antissindicais em empresas denunciadas. Temos interlocução com o MPT e assessoria jurídica trabalhando nisso”, afirmou o presidente nacional da CUT.

“A única coisa que um trabalhador tem na vida é o emprego dele, se ele perder o emprego, é o flagelo total, porque ele não sabe se conseguirá pagar o aluguel se poderá sustentar a família. Isso que empresários estão fazendo, além de crime, é escandaloso, uma vergonha para o Brasil”, finalizou Sérgio Nobre.

Aumento de denúncias

O procurador-geral do Trabalho, José de Lima Ramos Pereira, afirmou na terça-feira (18), à imprensa, que as denúncias de assédio eleitoral no local de trabalho derivam da "banalização" da prática e a polarização política no país. Pereira se reuniu com o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para discutir medidas para combater o assédio eleitoral. Moraes afirmou, após a reunião, que a prisão de um desses empresários que coagem trabalhador a votar em seu candidato acenderia a lanterna.

Segundo o MPT, o assédio eleitoral ocorre quando um empregador age para coagir, ameaçar ou promete benefícios para que alguém vote em determinado candidato. A região Sul do país é a que mais contabiliza casos até o momento: 171. Os três estados da região também ocupam a primeira, segunda e terceira posição no ranking, sendo o Paraná o campeão de denúncias, com 64 ocorrências. Santa Catarina aparece em seguida com 54 denúncias; e Rio Grande do Sul com 53.

O Procurador-Geral do Trabalho afirmou que, diferentemente das eleições de 2018, os mais de 400 casos do 2º turno estão relacionados a quase 400 empresas. Segundo ele, em pleitos passados, as denúncias estavam concentradas em poucas empresas. Situação que não se repetiu neste ano.

Fonte: CUT Nacional

Pesquisar

FTMRS