Romaria da Terra reúne mais de 4 mil pessoas em Ipê, capital nacional da agroecologia
Mais de 4 mil romeiros e romeiras de diversas regiões gaúchas se reuniram na 46ª Romaria da Terra, realizada no município de Ipê, na diocese de Vacaria, na terça-feira de Carnaval. Mesmo com a chuva, os participantes celebraram sua fé sob o lema "Escutar a Mãe Terra e com Maria cuidar da Vida", reafirmando valores como justiça social, luta pela terra, defesa dos pequenos e cuidado com o meio ambiente. A programação incluiu uma caminhada até o campo do Seminário de Ipê, onde foram abordados temas como a agroecologia, o pacto de amor pela vida de Francisco e Clara, e o cuidado pela vida e a luta das mulheres.
A missa de encerramento foi presidida pelo bispo de Vacaria, Dom Sílvio Guterres Dutra, e contou com a participação de outros bispos e padres. Durante a celebração, o bispo emérito da diocese de Vacaria, Dom Orlando Dotti, foi homenageado por sua contribuição a movimentos sociais da região, com o lançamento de um livro contando sua história. Lideranças políticas, como o ex-governador Olívio Dutra, o presidente da Conab, Edegar Pretto, e deputados federais e estaduais também estiveram presentes.
Andrei Thomaz, membro da Comissão Pastoral da Terra, destacou o protagonismo da mulher camponesa na organização do evento. Ele ressaltou que a Romaria rejeita o veneno, as sementes transgênicas e o latifúndio, defendendo uma visão coletiva de cuidado com a Terra.
Ipê, considerada a capital nacional da agroecologia, foi escolhida como sede da Romaria, enfatizando a importância dessa prática como alternativa à exploração capitalista. Dom Sílvio Guterres Dutra destacou a conexão da Romaria com a agroecologia e o papel das mulheres agricultoras em Ipê. Ele enfatizou a necessidade de escutar a terra, especialmente após anos de estiagem, e traduzir essa escuta em ações concretas.
A Romaria contou com a participação de diversas lideranças, como o padre Celso Ciconetto, que atua na paróquia Santo Antônio da Forqueta em Caxias do Sul. Ele ressaltou a importância da agroecologia diante da crise climática. Durante a celebração, houve homenagens a Dom Orlando Dotti por sua dedicação à luta pela terra. Representantes de movimentos sociais destacaram a atuação do bispo emérito em diversas romarias e seu compromisso com a reforma agrária e a democracia.
O presidente da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do RS (Fetraf-RS), Douglas Cenci, agradeceu, em nome das 294 mil famílias de agricultores familiares do Rio Grande do Sul, à “incansável dedicação” do religioso pelas causas da agricultura familiar. “Dom Orlando é um dos pais do novo sindicalismo, o qual lutou e conquistou um conjunto de políticas públicas e direitos que transformaram e mudaram a vida de milhares de agricultores familiares em todo o Brasil", afirmou.
Dom Orlando Dotti agradeceu as homenagens e reforçou a importância dos movimentos sociais na renovação da sociedade, destacando a necessidade de recompensar adequadamente o trabalho na terra. Ele também denunciou a exploração capitalista, o uso indevido de agrotóxicos e a manipulação religiosa para oprimir o povo. A carta final da Romaria denunciou a economia concentradora e injusta, a violência contra os mais humildes e o uso indiscriminado de agrotóxicos, enquanto anunciou a reforma agrária, a agricultura familiar, a agroecologia e a participação consciente do povo como construtores de uma sociedade saudável e justa.
Fonte: CUT-RS com informações do Brasil de Fato RS