Pressão Internacional Deve Reduzir Preço Do Aço Em 20%
SÃO PAULO - A negociação entre as usinas siderúrgicas e seus clientes se acirrou no início de 2009. A projeção de analistas do setor, consultados pelo DCI, é que a pressão ocasionada pela redução dos preços do aço no mercado internacional provoque a queda do preço em cerca de 20% ao longo do ano no Brasil. Diante do novo panorama do mercado, em que a demanda ainda sofre para se recuperar, as siderúrgicas deverão amargurar um fechamento de trimestre ainda mais difícil neste início de ano. Ao contrário do que ocorreu no último trimestre do ano passado, quando os preços do aço foram mantidos no mercado brasileiro, os primeiros balanços do ano deverão revelar margens mais impactadas devido aos reajustes de preço, que já estão ocorrendo por meio de descontos extraoficiais.Além do grupo ArcelorMittal - que no início de janeiro anunciou corte de 10% nos preços dos aços planos - nenhuma outra siderúrgica que atua no Brasil informou publicamente a redução, apesar do mercado acreditar que a queda já chegou a 10% no bimestre. Segundo o analista da Modal Asset, Eduardo Roche, o preço do aço brasileiro já está com prêmio de 30% em relação ao do mercado internacional. A média histórica dessa diferença é de cerca de 15%. "Muitos países começam a exportar aço porque está sobrando. Então, não tem jeito. Inevitavelmente as usinas terão que baixar seus preços para segurar clientes", afirmou o analista. Roche lembra que as questões comerciais de cada empresa impedem que todo o "desconto seja posto na mesma base". "O processo [de redução dos preços] já começou nesse trimestre. A partir dos resultados das empresas teremos ciência de qual foi o corte que ocorreu", disse o analista da Modal Asset.
O diretor da distribuidora independente de aço Dova, Marcelo Bock, afirmou que as siderúrgicas não têm desculpas para não abaixarem os preços. "Ano passado o mercado recebeu aumentos de mais de 50%. Agora o aumento não é mais justificado pelo preço do carvão e do minério de ferro", afirmou Bock.
O empresário lembrou sobre as dificuldades da importação em um momento de instabilidade da moeda. "Toda importação demora um tempo para chegar e daqui cem dias não sei como estará o mercado", disse.
Marcelo Bock salientou, ainda, o fato de 49% da distribuição estar nas mãos de empresas coligadas das siderúrgicas, participação que cresceu com a aquisição da Zamprogna pela Usiminas, fato que, segundo ele, deixa as negociações mais difíceis.
Segundo o analista da Link Investimentos , Leonardo Alves, o fato do preço do aço no mercado interno não ter caído no último trimestre de 2008 - ao contrário do que aconteceu fora do País - favoreceu a manutenção das margens nos resultados dos balanços das empresas. Nesses três primeiros meses do ano, no entanto, a tendência é de maior impacto nos resultados das empresas devido à diminuição dos volumes de vendas somado ao preço reduzido do aço.
Exatamente pela pressão que fará com que as siderúrgicas brasileiras tenham que ajustar seus preços para evitar com que a diferença do preço internacional fique maior, a previsão é que o primeiro trimestre de 2009 traga margens menos favoráveis para as siderúrgicas.
A Link Consultoria prevê recuperação da economia brasileira a partir de 2010.
Novo patamar
A produção mensal do aço deve ficar, em 2009, próxima à da obtida em 2007. "Precisaríamos de um segundo semestre muito aquecido para chegar aos resultados do ano passado", afirmou Leonardo Alves.
De acordo com estimativa da SLW Consultoria, as melhoras do mercado serão apresentadas trimestre a trimestre. "As usinas continuam se ajustando a uma demanda mais fraca", afirmou o analista Pedro Galdi.
Já as vendas da rede distribuidora de aços planos continuaram a cair em fevereiro.
Dados preliminares do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) indicam que, no mês passado, as vendas das empresas ligadas à entidade ficaram entre 190 mil e 200 mil toneladas, com queda em relação a janeiro, quando o volume comercializado atingiu 220 mil toneladas.
Na comparação com fevereiro do ano passado, mês em que o setor siderúrgico vendeu 306 mil toneladas, a queda foi ainda maior, entre 34% e 38%.
A previsão para março é que as vendas das empresas ligadas à entidade fiquem entre 240 mil e 250 mil toneladas, cerca de 25% abaixo das 335 mil toneladas do mesmo mês do ano anterior.
Em 2008, segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), a produção de aço bruto no Brasil foi de 33,7 milhões de toneladas.
A pressão pela redução dos preços do aço no mercado internacional está provocando uma queda dos preços no País que pode chegar a 20% ao longo do ano. O recuo dos preços é resultado de negociação intensa, entre usinas e seus clientes, que se acirrou no início do ano.
Além do grupo ArcelorMittal - que em janeiro anunciou corte de 10% no preço dos aços planos - nenhuma outra siderúrgica que atua no Brasil confirmou a redução, mas a cadeia do setor assegura que a queda das cotações chega a 10% no bimestre. No entanto, segundo o diretor da distribuidora Dova, Marcelo Bock, o fato de 49% da distribuição estarem nas mãos de empresas coligadas das siderúrgicas - participação que cresceu com a aquisição da Zamprogna pela Usiminas - deixa as negociações mais difíceis.
Fonte: DCI