Por lucro e produtividades, grandes companhias desistem de semana de 5 dias

PEDRO REVILLION/ PALÁCIO PIRATINI / ARQUIVO
Por lucro e produtividades, grandes companhias desistem de semana de 5 dias

Pesquisa do 4 Day Week da Nova Zelândia, um grupo sem fins lucrativos, mostrou que nenhuma das 33 companhias que participam de projetos-piloto em andamento há seis meses, em que seus trabalhadores e trabalhadoras diminuíram a carga horário de cinco dias na semana para quatro, vai retomar o expediente de segunda a sexta-feira.

De acordo com os dados da pesquisa, divulgados pelo jornal Valor Econômico, as organizações envolvidas registraram ganhos de receita, a produtividade dos trabalhadores aumentou e eles estão faltando menos.

A rotatividade entre os trabalhadores com jornada de quatro dias também caiu e eles se mostraram mais inclinados a trabalhar no escritório do que de casa.

“Isso é importante porque o fim de semana de dois dias não está funcionando para as pessoas”, diz a pesquisadora-líder Juliet Schor, uma economista e socióloga do Boston College que se associou a colegas da University College Dublin e Universidade de Cambridge. “Em muitos países, temos uma semana de trabalho que foi consagrada em 1938, que não combina com a vida contemporânea. Para o bem-estar das pessoas que trabalham é fundamental que abordemos a duração da semana de trabalho.”

A reportagem diz ainda que os dados iniciais da pesquisa foram coletados junto a empresas e organizações dos EUA, Irlanda e Austrália.

Os pesquisadores monitoram 969 trabalhadores de uma rede de restaurantes no sudoeste dos EUA, de um fabricante de trailers personalizados de Ohio e de uma organização sem fins lucrativas voltada para o clima em Dublin.

Por um período de dez meses, esses trabalhadores tiveram reduzida a semana de trabalho para uma média de seis horas sem alteração no salário.

A pesquisa concluiu que os pontos positivos da redução de jornada vão de mais produtividade ao bem-estar e redução da fadiga.

Benefícios para as empresas

A receita cresceu cerca de 8% durante o teste e 38% em relação ao mesmo período do ano anterior.

As organizações classificaram o impacto das agendas de quatro dias como positivo, com uma nota média de 7,7 em uma escala de 1 a 10.

O absenteísmo dos funcionários caiu de 0,6 dia por mês para 0,4, enquanto os pedidos de demissão caíram e as novas contratações aumentaram ligeiramente.

As companhias deram nota 9 à experiência como um todo.

Benefícios para os trabalhadores

Noventa e sete por cento dos trabalhadores querem continuar com a semana de quatro dias.

Eles relatam:

- menos estresse no trabalho

- menos esgotamento

- menos ansiedade

- menos fadiga

- menos problemas de sono

- menos conflitos entre o trabalho e a família

- menos exemplos de chegar em casa do trabalho cansado demais para fazer as tarefas domésticas indispensáveis

O tempo extra foi usado para a prática de hobbies, tarefas domésticas e autocuidados.

A prática de exercícios aumentou em 24 minutos por semana, colocando os trabalhadores em linha com as metas de exercício recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Setores das empresas que participaram

- empresas de tecnologia (36%)

- serviços profissionais (27%)

- organizações sem fins lucrativos (9%).

O restante é de setores como artes, manufatura, construção, educação, alimentos, cuidados com a saúde e varejo. A maioria dos funcionários estava baseada nos EUA, Irlanda e Austrália, com um pequeno número no Reino Unido, Nova Zelândia e Canadá.

Semana de quatro dias no Brasil

No Brasil algumas empresas começaram a adotar a semana de quatro dias e também notaram maior produtividade, lucro e satisfação de seus trabalhadores.

Em Franca, interior de São Paulo, uma empresa de tecnologia reduziu a jornada semanal de cinco para quatro dias – as folgas serão às quartas-feiras -, sem redução de salário, e ainda ofereceu R$ 400 para cada um dos seus de 40 trabalhadores e trabalhadoras utilizar em aplicativos de lazer, como música, filmes, livrarias, cinemas, teatros e shows.

Outro caso ocorreu no município de Rio das Pedras, interior de São Paulo, onde a empresa Solpack Agronet reduziu a jornada de oito para seis horas diárias, sem cortar os salários. Em contrapartida, a companhia obteve 25% de aumento na produtividade.

A pesquisadora do mercado de trabalho e economista, Marilane Teixeira defende a jornada de quatro dias. Segundo ela, a redução da carga de horário promoverá “mais consumo, haverá maior demanda de produção e de serviços. Com jornadas reduzidas, empresas deverão contratar mais trabalhadores. Claro que não resolve o problema do desemprego, hoje em 14,7%, já que há uma competição muito forte do mercado de trabalho com o avanço da tecnologia, mas é um caminho a ser trilhado para diminuir os níveis que temos hoje”, disse ao Portal CUT, em entrevista em 2021.

Fonte: CUT Nacional

 

Pesquisar

FTMRS