Montadora Prevê Crescimento Em 2009 Similiar Ao Deste Ano

A indústria automobilística, um setor que representa em torno de 5,4% do Produto Interno Bruto do país, prepara-se para em 2009 permanecer nos patamares de 2008.

A estabilidade já é considerada um sinal positivo, visto que o setor vinha crescendo num ritmo acima da sua capacidade.

A General Motors , uma empresa à beira da falência nos Estados Unidos, seu país de origem, é uma das empresas que prevê manter o ritmo no Brasil.

O presidente da filial brasileira, Jaime Ardila, trabalha com três cenários de produção de toda a indústria em 2009: no mais conservador o volume empataria com o total esperado para este ano - 3,5 milhões de unidades.

Economista de formação, Ardila é capaz de dividir em percentuais até mesmo o seu estado de espírito. Ele diz estar 50% conservador, 20% pessimista e 30% otimista. "Mas isso muda a cada semana", avisa. No cenário pessimista de Ardila, a produção de veículos no Brasil em 2009 pode ficar em 3,18 milhões e na otimista, 3,7 milhões.

Outra montadora que trabalha com três cenários para 2009 é a Renault. Nesse caso, a expectativa mais otimista em relação ao mercado interno é empatar com os volume esperado para este ano - 2, 8 milhões de veículos. Se a situação "ficar preta", como define o presidente da empresa, Jérôme Stoll, haverá uma queda, para 2,4 milhões de unidades.

A Fiat já trabalha com projeções macroeconômicas: 2,5% de PIB, 5% de inflação e taxa Selic média de 13% no ano, segundo o presidente da empresa, Cledorvino Belini. A General Motors já havia preparado, seis meses atrás, um plano para 2009 com base em projeções macroeconômicas, que tiveram que ser alteradas com a crise.

A expectativa do PIB caiu de 4% para 3%, a inflação subiu de 4,5% para 5,1%, a taxa básica de juros foi alterada de 11,83% para 13,75% e o dólar passou de R$ 1,85 para R$ 2,00. Ardila faz uma confissão: "Não sei se esse câmbio em 2009 é uma projeção ou um desejo pessoal."

O ritmo das exportações preocupa e deverá ser, em 2009, ainda menos acelerado do que vem se mostrando na segunda metade de 2008. "O problema é saber qual será o ponto de equilíbrio não apenas do nosso câmbio como do câmbio dos países vizinhos, que são os nossos maiores clientes", afirma o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider.

O volume de veículos vendidos em outros países pode chegar a 780 mil unidades este ano, segundo projeções da Anfavea. Mas, para 2009, os presidentes das montadoras não esperam mais do que 700 mil.

A Volkswagen, a montadora que mais exporta, já reduziu suas metas. A empresa vai vender no exterior 180 mil automóveis este ano. Mas o presidente da companhia, Thimas Schmall, prevê reduzir a cota de exportação para 160 mil unidades em 2009. Stoll, presidente da Renault, diz que a empresa está preocupada com o que acontece na Argentina, um dos seus principais destinos de exportação.

Seja como for, a indústria automobilística se prepara para trabalhar em 2009 no ritmo para o qual se preparou. Os índices de crescimento que, mês a mês surpreendiam os executivos antes do aperto no crédito, chegaram a amedrontar os menos preparados. Nenhum investimento foi postergado e agora o setor vai enfrentar um ano bem mais tranqüilo.

Para Valdir Souza, diretor de vendas e marketing da Delphi para a América do Sul, o mercado estava em um ritmo muito acelerado, tanto é que desde o fim do primeiro semestre o setor falava da necessidade de uma redução da demanda. "Não dava para continuar utilizando 110% da capacidade, sendo que é preciso ter alguma folga", disse o executivo, ao explicar que a indústria automotiva considera ideal uma ocupação entre 85% e 90%.

Segundo Souza, nessa faixa de utilização o setor se mostra mais rentável, já que com ela totalmente tomada os custos logísticos e de pessoal sobem significativamente. Entre 70% e 80%, na opinião do executivo, é um nível razoável. "Estávamos trabalhando até em dia de Natal", lembra Belini, presidente da Fiat.

No próximo Natal, porém, todos estarão descansando. O aperto no crédito afetou as vendas domésticas, justamente onde a indústria conseguiu impulso para crescer nos três últimos anos. Os estoques estão altos. O setor terminou outubro com 298 mil unidades. Por isso recorreu às férias coletivas. Mas, com a irrigação do crédito, garantida pelo governo por meio dos bancos estatais, o fôlego tende a melhorar.

As indicações de fornecedores e de concessionários, porém, são de que os estoques não devem baixar antes da virada do ano.

Crise acirra disputa pela liderança

Quando aquecido, o mercado de veículos costuma beneficiar quem tem mais força na produção. Mas quando as vendas esfriam, é a vez dos outros avançarem.

A Fiat vinha na liderança de mercado, com uma folga em relação ao segundo colocado. Mas no último mês a Volkswagen conseguiu encostar. A montadora italiana fechou o mês com 22,3% das vendas de veículos no país enquanto que a marca alemã ficou com 22,2%.

A Fiat tem a maior parte da produção concentrada em modelos simples, como Uno e Palio, mais afetados pelo aperto no crédito. Como a maior parte dos bancos passou a exigir metade do valor do carro como entrada, os modelos mais simples foram os mais afetados. Tanto que a participação desses veículos diminuiu em outubro. A fatia dos carros com motor 1.0 caiu de 51,1% para 47,2% em apenas 30 dias.

A briga pela participação no mercado acabou influenciando até na tomada de decisão por férias. Como a Volkswagen está encostando na Fiat foi também uma das últimas a decidir sobre a antecipação das férias coletivas.

As marcas mais novas no país também acabam tirando proveito de um mercado menos acelerados para ocupar espaço. Em outubro, enquanto todo o mercado de automóveis caiu 13% na comparação com setembro, a vendas do grupo Peugeot Citroën cresceram 5%. No caso da Peugeot isoladamente, o avanço foi de 15%. A Toyota também cresceu ligeiramente, com um avanço de 0,8%. Mas no mesmo período de comparação, a General Motors, outra grande produtora de veículos, com três fábricas apenas no Brasil, viu as suas vendas caírem 22,3%.

Ação da GM atinge menor valor em 62 anos
As ações da GM alcançaram ontem seu valor mais baixo desde 1946, depois de o presidente da empresa, Rick Wagoner, ter dito, na sexta-feira, que a empresa pode ter problemas de caixa no primeiro semestre de 2009. Os papéis chegaram a cair 31%, cotados a US$ 3,02.

Depois, se recuperaram um pouco mas, mesmo assim, fecharam em queda de 23%, cotados a US$ 3,36.

Na sexta-feira, Wagoner admitiu pela primeira vez a possibilidade de a empresa pedir concordata. Em conferência para comentar os resultados da companhia, o executivo disse que "a empresa usará todas as fontes de financiamento possíveis para evitar a concordata". E advertiu sobre as "graves conseqüências" para a economia americana se a GM tiver de se proteger dos credores.

A empresa fechou o terceiro trimestre com prejuízo de US$ 4,2 bilhões, excluindo itens não recorrentes, e com queda de 13,2% na receita, que ficou em US$ 38 bilhões. Na sexta-feira, a montadora anunciou 3,6 mil cortes de empregos em suas fábricas. Ontem, disse que esses cortes vão atingir mais 1,9 mil empregados, como forma de reduzir custos.

A GM, assim como a Ford e a Chrysler, está tentando convencer o governo e o Congresso americano a ampliarem em mais US$ 25 bilhões o pacote de ajuda de US$ 25 bilhões já prometido. Mas analistas de bancos como o Barclays e o Credit Suisse advertiram ontem que, apesar de uma eventual ajuda federal reduzir o risco de uma concordata da maior montadora americana, qualquer pacote teria um grande custo para os atuais acionistas da empresa.

O Barclays rebaixou seu preço-alvo para as ações da GM de US$ 4 para US$ 1. O banco prevê que a empresa deve terminar o ano com um caixa de US$ 13 bilhões, que pode ser insuficiente para a manutenção de suas operações no primeiro semestre de 2009, cujos gastos devem ficar entre US$ 11 bilhões e US$ 14 bilhões. Por causa disso, a companhia vai precisar de uma ajuda federal, que provavelmente vai "diluir significativamente o valor acionário da GM", disse, em nota, Brian Johnson, analista do banco.

O Deutsche Bank fez uma previsão ainda mais pessimista. Reduziu o preço-alvo das ações da empresa de US$ 4 para zero em um ano, afirmando que a GM não será capaz de financiar suas operações a partir de dezembro. A GM terminou o mês de setembro com US$ 16,2 bilhões em caixa. De janeiro a setembro, a empresa torrou nada menos que US$ 14 bilhões do caixa.

O Credit Suisse disse que os investidores devem evitar as fabricantes de automóveis americanas até que o mercado dos Estados Unidos se recupere. "Apesar de uma ajuda federal aliviar o risco de quebra, acreditamos que os acionistas seguem em risco", disse o banco em uma nota aos seus clientes.

Por sua vez, um analista do J.P. Morgan Securities disse que tanto a GM quanto a Ford provavelmente devem receber ajuda do governo. O analista, porém, aumentou as estimativas de perdas das duas empresas para os próximos meses


Fonte: Valor e Agência Estado

Pesquisar

FTMRS