Metalúrgicos decidem parar após Mercedes-Benz anunciar demissões no ABC
Na tarde desta quinta-feira (8), seis mil metalúrgicos que trabalham na Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, região do ABC Paulista, decidiram, em assembleia na fábrica, paralisar as atividades até a próxima segunda-feira (12).
A paralisação é em protesto pela demissão de 3.600 trabalhadores e trabalhadoras da montadora, sendo 2.220 diretos e 1.400 terceirizados, anunciados na terça-feira (6), pegando a categoria de surpresa.
O presidente do Sindicato e trabalhador na Mercedes, Moisés Selerges, afirmou que a paralisação é para começar a ensinar ao novo presidente da Mercedes como se negocia. “Precisamos mostrar que um processo de negociação se faz em torno de uma mesa. Muitas vezes num processo de negociação não vai prevalecer tudo que o Sindicato quer, mas também não vai prevalecer tudo o que a empresa quer”.
O dirigente lembrou ainda a incoerência do comunicado, já que até a semana passada pessoas estavam sendo contratadas.
“Então como é que funciona, contrata em uma semana e na outra solta um boletim dizendo que tem que demitir? Isso não é lógico, não é racional”, disse.
“Queremos lutar pelos nossos empregos e pelo futuro também dos companheiros de contrato temporário, a luta tem que ser de todos e não só das áreas envolvidas. Aqui não tem herói, tem gente comprometida para fazer a luta, e pode ser um processo longo, temos quer ter fôlego”, finalizou.
Negociações
Na terça-feira (13), a direção da empresa e representantes do Sindicato terão uma reunião de negociação. A mobilização desta quinta-feira foi aprovada por cerca de 6 mil metalúrgicos presentes na assembleia. Hoje a planta da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo conta com cerca de 9,5 mil trabalhadores, sendo cerca de 6 mil na produção.
A Mercedes Benz
A empresa, inaugurada em 1956, é a maior planta fora da Alemanha. A direção diz que as milhares de demissões fazem parte de uma reestruturação com a terceirização de serviços, para concentrar esforços na demanda do mercado atual.
A ideia é reestruturar seu modelo de produção de ônibus e caminhões no Brasil, direcionar as atividades na fabricação de caminhões e chassis de ônibus e investir no desenvolvimento de novas tecnologias. Para isso, a montadora vai terceirizar as linhas de produção e eixos e transmissões de caminhões médios, de logística e ferramentaria.
Efeito cascata
Estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 2019 aponta que, a cada demissão no ABC, cinco trabalhadores são impactados dentro da cadeia automotiva, com corte em diversas prestadoras de serviços às montadoras. Com isso, o efeito dos desligamentos na Mercedes atingiria 18 mil profissionais.
No entanto, com o fechamento dessas atividades, o ABC sentirá mais uma vez os impactos econômicos e sociais causados por processos de demissão em massa de trabalhadores.
Em janeiro de 2021 após 100 anos no país, a Ford anunciou o fim de todas as suas atividades no país. Dois anos antes já havia fechado a fábrica de São Bernardo. Cinco mil empregos diretos foram perdidos.
Mas a conta era maior. No caso da Ford, cálculos do Dieese apontaram a perda de cerca de 100 mil outros postos na cadeia produtiva vinculada à produção automotiva.
A Toyota, outra montadora histórica no Brasil – a fábrica de São Bernardo, inaugurada em 1962, foi a primeira fora do Japão - encerrou as atividades no ABC em abril deste ano, transferindo a produção para outras cidades do interior paulista. Cerca de 580 trabalhadores perderam o emprego.
Tanto o fechamento da Toyota como o caso Ford, “é resultado do que as montadoras chamam de reestruturação, um processo característico do capital para reduzir custos com impacto direto na força de trabalho, ou seja, demitindo trabalhadores, sem avaliar alternativas viáveis para manter a produção – e o emprego – eles lucram mais”, afirmou o diretor do SMABC, Wellignton Damasceno, quando a Toyota foi fechada.
O caso da Mercedes-Benz, não é diferente, já que a montadora deixa clara a sua intenção manter sua produtividade, mas sem priorizar o emprego.
Fonte: CUT Nacional com informações da Comunicação do SMABC