Maioria da população é a favor de discutir política nas escolas, diz pesquisa
Datafolha mostra que, ao contrário do que defende Bolsonaro e aliados, maioria dos brasileiros quer que política e sexualidade sejam discutidas nas escolas. Para educadora da USP, resultado é para comemorar
O discurso conservador de Jair Bolsonaro e sua equipe ministerial sobre o projeto ‘Escola Sem Partido’ e a proibição do ensino de educação sexual nas escolas não tem apoio da maioria da população brasileira.
A pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada na segunda-feira (7) pelo jornal Folha de São Paulo, mostra que 71% dos entrevistados concordam que haja discussão de assuntos políticos em sala de aula e 54% aprovam o ensino sobre educação sexual para os estudantes.
Do total de entrevistados que concordam com o debate político nas escolas, 54% apoiam totalmente. Quanto maior a escolaridade do entrevistado, maior é o apoio. Entre aqueles que têm ensino superior, 83% concordam com a afirmação de que esse tema deve estar presente nas salas de aula.
O percentual de apoio aos temas políticos é maior do que a discordância em todos os recortes analisados pelo Datafolha, seja por idade, renda, religião ou preferência partidária.
Entre os 28% dos que se opõem à discussão política nas aulas, 20% dizem discordar totalmente. Os outros 8% discordam em parte.
Para a professora de Educação da USP, Carmem Moraes, o resultado da pesquisa renova as esperanças e dá combustível à luta contra os retrocessos que estão por vir. Segundo ela, é importante esclarecer a população de que as relações humanas são políticas, faz parte das relações sociais, e o debate nas salas de aula são necessárias.
“Tudo é política. Por isso, é importante que os temas políticos sejam debatidos não apenas nas escolas. E, mais do que isso, é fundamental que este debate esteja presente entre os trabalhadores, nas periferias, nas organizações de base. É preciso começar tudo de novo, porque a população não é a favor da maioria dos retrocessos sociais propostos por Bolsonaro”, afirma Carmem Moraes.
“Embora não saiba qual a metodologia da pesquisa, o resultado demonstra que podemos agir pedagogicamente explicando à população que ela foi enganada. O povo brasileiro não votou na política econômica de Bolsonaro”.
Educação sexual nas escolas é aprovada por 54%
Do total de entrevistados pelo Datafolha que aprovam a discussão sobre educação sexual nas salas de aula, 63% tem ensino superior; 54% ensino médio e 49% o ensino fundamental.
O assunto é aprovado mais por mulheres (56%) do que homens (52%). No entanto, esses percentuais se mantêm na margem de erro da pesquisa.
A rejeição à educação sexual nas escolas é de 44%. Quem mais rejeita são os eleitores de Bolsonaro (54%) e os evangélicos (53%).
O tema é o que mais divide a opinião da população, segundo a pesquisa. 35% das pessoas concordam totalmente com a educação sexual nas escolas e os que desaprovam totalmente também somam outros 35%.
A professora de Educação da USP lembra que o atual presidente foi eleito com apoio da maioria dos pastores neopentecostais, que utilizaram as fake news como forma de envolver os seus fiéis numa causa contra a suposta “ideologia de gênero, a mamadeira erótica” e outros absurdos espalhados via WhatsApp e redes sociais.
“A direita conseguiu mobilizar, via igrejas, nos setores pobres e carentes, um sentimento de pertencimento. Por isso é preciso aproximar mais a universidade, os professores, os movimentos sociais, partidos políticos e entidades dessa população que foi induzida por pastores a acreditar em ideologia de gênero e marxismo cultural”, diz Carmem Moraes.
A Pesquisa Datafolha foi realizada em 18 e 19 de dezembro de 2018, com 2.077 entrevistas em 130 municípios de todo o país. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro de dois pontos percentuais.
O Instituto ouviu 2.077 em 130 municípios nos dias 18 e 19 de dezembro. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Fonte: CUT Nacional