Lula: \"sindicalismo me ensinou a negociar de cabeça erguida\"

Assim que subiu ao palco para participar da abertura do 8º Congresso da CNM/CUT, às 20h30 da quarta-feira (27), o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido por um caloroso coro de mais de 500 pessoas, que cantavam o histórico "Olê, Olê, Olá, Lula...Lula"

Em meio ao balanço de seus dois mandatos como presidente (2003/2006 e 2007/2010) e brincadeiras com o público, que levaram a platéia às gargalhadas diversas vezes, Lula aconselhou os sindicalistas a entrarem de cabeça erguida nas negociações com os empresários.

“Ninguém respeita a subserviência. Se entrar de cabeça baixa [nas negociações], o empresário vai subir no cangote de vocês”, afirmou. Para o presidente, exigir o respeito mútuo, não significa ser grosseiro. “[o dirigente sindical] pode ser agradável, gentil, delicado. Mas na hora de negociar tem que saber quem você representa. Aí, vão te respeitar”, explicou.

Lula disse que foi agindo dessa forma que, na presidência do Brasil, conseguiu respeito de lideranças do mundo inteiro, como os EUA, França e Alemanha, entre muitos outros países. “Foi assim, com respeito, mas de cabeça erguida, que tratei com todo mundo. [nos oito anos de presidência]. Assim, conquistei muitas amizades também. E isso, aprendi no movimento sindical”.


Governo Dilma

Sobre o governo de sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), Lula pediu apoio dos dirigentes metalúrgicos para “nossa querida companheira Dilma”, e acrescentou: “tem gente que fica criando intrigas, mas não existe possibilidade de divergência entre mim e a Dilma. E se um dia vier a existir, ela é que está certa”.

O ex-presidente lembrou que a oposição, durante a campanha eleitoral de 2010, acusou Dilma de ser terrorista, ser seqüestradora, defender o aborto, quando na verdade ela é uma mulher que foi torturada por 3,5 anos por defender a democracia no Brasil. E está provando ser uma ótima presidenta. “Agora, não tem coisa mais extraordinária um metalúrgico – retirante nordestino – terminar seu mandato e eleger essa mulher como presidenta da República para dar continuidade ao trabalho”.

Delegação internacional

Para a delegação internacional que está participando do congresso da CNM, Lula sugeriu que seus integrantes conheçam a experiência brasileira de relações entre governo e os movimentos sociais.

“É preciso conviver democraticamente na diversidade. Quando eu estava na presidência, nenhum segmento social deixou de ser ouvido, de ter sua conferência e participar da elaboração de políticas públicas”, afirmou Lula.

Somados os participantes de 73 conferências nacionais e seus desdobramentos estaduais e municipais, mais de 5 milhões de pessoas participaram da elaboração de políticas públicas durante o governo Lula.

“O movimento sindical é testemunha dessa participação (...). E muitas vezes os companheiros sindicalistas foram duros com o governo, e vice-versa. Mas nunca deixamos de ter consciência do nosso papel [de compromisso com a classe trabalhadora]. Mas na hora que foi preciso, o movimento sindical e popular assumiu a defesa do governo”, explicou o ex-presidente.

Balanço dos mandatos

A respeito dos seus oito anos como presidente, Lula afirmou que procurou governar para toda a sociedade, de banqueiro a morador de rua. “Mas não podemos perder de vista nossa preferência. Governar é como ter coração de mãe. Todos os filhos são iguais, mas aquele mais frágil, mais debilitado, na hora da refeição, vai ganhar um bife a mais”, afirmou.

Foi com essa referência social que, segundo Lula, foi possível conquistar avanços durante seus mandatos; e citou como exemplos os 36 milhões de brasileiros que saíram da pobreza e foram para a classe média, os outros 28 milhões que saíram da miséria, os 12 milhões de empregos criados no período, o programa “Luz para Todos”, que levou energia elétrica para 2,7 milhões de brasileiros da área rural, entre outros.

Preconceitos

Lula lembrou que, por ser de origem operária, enfrentou muito preconceito em suas candidaturas a presidente. “Diziam que eu não conseguiria fazer política de relações externas porque não sei falar Inglês. Diziam que a Marisa (esposa de Lula) não poderia ser primeira-dama porque não ia nem saber limpar os vidros do Palácio do Planalto, entre outras bobagens que os adversários diziam”.

“Mas foi este metalúrgico o presidente que mais fez universidades neste país”, lembrou sob aplausos. Na área econômica, Lula destacou os 325 bilhões de dólares que o Brasil possui de reservas internacionais e a quitação da dívida externa do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional.

“Quem aqui, no passado, não carregou faixa ou cartaz dizendo Fora FMI (por que a dívida externa do Brasil era estratosférica) ?, perguntou Lula ao público. “Pois agora temos que dizer ‘Dentro FMI’, pois é o FMI que nos deve 14 bilhões”.

Dever Cumprido

“Do fundo do meu coração, sei que fizemos muito, mas sei que ainda há muito o que fazer”, disse Lula para concluir o balanço de seus mandatos. “Tenho a sensação de dever cumprido. Não tenho vergonha. E isso incomoda os adversários”, acrescentou.

Lula afirmou também que, desde que deixou o Palácio do Planalto, no início deste ano, tem vontade de participar de muitas atividades políticas e sociais. “Tenho vontade de fazer outra Caravana da Cidadania pelo país, de participar de plenárias, de reuniões com catadores [de recicláveis], de visitar quilombos. Tenho vontade de tudo, mas tenho que me controlar”.

Para ele é difícil o processo de se desligar da presidência. “Mas tenho que desencarnar e assumir meu papel como ex-presidente. Até para mostrar para certo ex-presidente como deixar o cargo e não ficar palpitando no governo do sucessor”, afirmou.

“A Dilma vai ter sua própria marca, sua identidade. Do passado eu posso falar, mas quem pode falar sobre o futuro é a companheira Dilma”, concluiu.

Homenagem

No final de sua exposição, durante a abertura do congresso da CNM, Lula homenageou o sindicalista metalúrgico Carlos Grana, que após o evento vai se desligar da confederação para se dedicar ao mandato de deputado estadual pelo PT-SP.

 


Fonte: Paulo Andrade - Especial para a CNM/CUT

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