Lula protesta contra privatizações, em ato pela soberania em Porto Alegre
O ex-presidente Lula (PT) atacou no início da noite desta quarta-feira (1º), em Porto Alegre, os planos de privatização da Petrobras e da Eletrobras. Em ato em defesa da soberana, organizado pelo movimento "Vamos Juntos pelo Brasil", ele advertiu que as empresas candidatas a adquirir as estatais brasileiras terão que enfrentar a sua oposição.
Pré-candidato a presidente, Lula estava acompanhado no evento, realizado no Pepsi On Stage, de seu pré-candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), além de lideranças políticas de vários partidos..
“É isso que vou fazer (se for eleito). Quem quiser se meter a comprar a Petrobras ou a Eletrobras que se prepare, pois vai ter conversar conosco depois das eleições. Porque o seu Guedes está tentando vender até os tapetes do Palácio do Alvorada”, disse Lula em seu discurso. Para ele, a alta dos combustíveis não pode ser atribuída à guerra na Ucrânia, mas sim à “falta de vergonha na cara” de quem dirige o País.
Lula falou também que não quer “um estado fraco nem pequeno, mas um estado forte e responsável pela saúde, educação, pelo aumento do salário mínimo e da cidadania”. Ele avisou que "quem se importou de ver pobre entrando na universidade, andando de avião, entrando no shopping, pode se preparar, porque vai ter muito mais".
Ele lembrou ainda a alegria de voltar a Porto Alegre. "A primeira vez que eu vim a essa cidade foi em 1975 pra conhecer o Olívio Dutra que tinha tomado posse no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre. E eu tinha há pouco sido eleito pro Sindicato dos Metalúrgicos. Também conheci o Tarso Genro, um jovem e promissor advogado. E lá surgiu uma amizade de 42 anos", relatou o ex-presidente.
“Independentemente do partido, queremos (ele e Alckmin) juntar todos aqueles que saibam amar. Que acreditam que um livro vale mais do que uma pistola. Os que acreditam que é mais barato investir numa sala de aula do que numa cela de cadeia”, afirmou. “Vocês têm a obrigação de devolver ao povo brasileiro o direito de sonhar. De acreditar que esse país não pode continuar pobre, faminto, analfabeto, desnutrido. Um país que é a terceira potência produtora de alimentos no mundo, maior produtor de proteína animal do mundo, e as pessoas fazem fila para comprar osso”, criticou.
Lula anuncia série de atos no país
O ato foi o primeiro de uma série de roteiros que serão realizados pelo país antes do início formal da campanha, previsto para agosto. Os dois entraram no palco exatamente às 19h. Foram ovacionados pelas cerca de 7 mil pessoas presentes à arena de shows Pepsi On Stage, na zona norte de Porto Alegre. Lula chamou a ex-presidente Dilma Rousseff para acompanhá-los na passarela que avançava sobre a plateia.
O evento reuniu representantes de uma frente de partidos em apoio à pré-candidatura do PT, incluindo PSOL, PCdoB, Rede, PV e Solidariedade. O PSB gaúcho, que compõe a chapa majoritária, não enviou representante.
Também estavam compondo a mesa os ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro, o ex-ministro Aloizio Mercadante, a ex-deputada federal Manuela d’Ávila,, o ex-governador do Paraná Roberto Requião e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, dentre outros.
“Os ventos do Sul” já mudaram os destinos do Brasil, destacou Requião. “Que assim seja mais uma vez, com a força e a vibração dos gaúchos. Nunca, em 199 anos de independência, a soberania brasileira foi tão aviltada como nos últimos anos. Abriu-se espaço aéreo, franqueou-se o mar às multinacionais, todas as guardas e salvaguardas foram rompidas. As duas últimas gigantes nacionais, sem as quais seríamos um país mergulhado no subdesenvolvimento, a Petrobras e a Eletrobras, estão sendo sacrificadas pelo liberalismo e pelo entreguismo”.
União da esquerda
Lula, no seu discurso, também fez um apelo aos partidos de esquerda no RS, para que se empenhem pela unidade no processo eleitoral. Segundo ele, a esquerda não tem mais fôlego para vencer eleições sozinhos; O recado não foi somente para a divisão na esquerda gaúcha, mas também para Ciro Gomes (PDT).
“Em 1989, precisei de quatro horas para convencer o (ex-governador Leonel) Brizola a me apoiar no segundo turno. Foi a primeira vez que o Brizola e o PDT transferiram 100% dos votos”, disse. O ex-presidente repetiu o apelo que fez pela manhã, em reunião com os partidos que o apoiam em nível nacional, pela unidade da esquerda.
“Apelo para que sentem à mesa, tomem um aperitivo se quiserem, mas tentem encontrar uma solução. Comício sem estarem todos os candidatos fica uma coisa meia troxa”, afirmou.
O ex-presidente lembrou as eleições de 2002 e salientou que "a transição que nós fizemos com o Fernando Henrique Cardoso foi a mais civilizada que este país conheceu. Você disputava uma eleição, mas você não estava em guerra. O seu adversário não era seu inimigo".
Enquanto Lula falava, o deputado estadual Edegar Pretto e o vereador de Porto Alegre Pedro Ruas, os pré-candidatos a governador do PT e PSOL, respectivamente, juntaram-se no palco para conversar com Manuela, que recentemente anunciou que não iria concorrer ao Senado, citando entre os motivos a dificuldade de construção de uma unidade partidária.
Num sinal ainda mais claro de que uma unidade ainda poderia ser construída, Pretto e Ruas terminaram o evento se dirigindo à frente do palco e, de mãos dadas, erguendo os braços ao lado de apoiadores dos três partidos.
Alckmin
Alckmin, que antecedeu Lula nos discursos, declarou que vai “suar a camisa” para permitir a volta de Lula à presidência. "Para salvar a democracia, o Brasil precisa da volta do presidente Lula", ressaltou.
A ex-presidente Dilma Rousseff foi uma das mais aplaudidas da noite. Disse que o desmonte do país é generalizado e ironizou as “pedaladas fiscais” que embasaram seu processo de impeachment, em 2016.
“Pedaladas fiscais para um governo que respeitou todos os artigos da lei orçamentária? É um absurdo. Crime é deixar que o orçamento seja usado de forma clientelista e fisiológica, distribuindo dinheiro para apaniguados”, afirmou.
Ela também lembrou o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, em Ubaúba (SE), por agentes da Polícia Rodoviária Federal.
“É uma prova visível de que o país foi destruído. Quando um homem adulto é morto dentro de um carro da Polícia Rodoviária Federal, num processo similar à uma câmara de gás, há algo de podre nas instituições”, definiu.
Fonte: CUT-RS