Indústrias De Máquinas Agrícolas Pedem Medidas Urgentes
Por Patrícia ComunelloAs indústrias de máquinas e implementos agrícolas gaúchas têm pressa. A queda nas encomendas, registradas desde dezembro, gera demissões e incerteza sobre o fundo do poço de 2009. O Estado detém 65% da produção do setor, com até 45% de peso das exportações. Hoje, em Brasília, empresas como John Deere e AGCO, e direções do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers), da Associação Nacional de Máquinas e Implementos (Abimaq) e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) terão audiência com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O grupo proporá medidas urgentes e espera disposição do governo federal. As raízes da crise estão na queda de pedidos por agricultores que sofrem limites de crédito, inadimplência de até 45% em contratos do Centro-Oeste e queda em exportações para a Argentina.
Entre sugestões a serem levadas ao governo federal, o presidente do Simers, Cláudio Bier, adianta que está a edição de um programa nos moldes do Mais Alimentos, com financiamento a juro baixo para agricultura familiar. "Se o governo brasileiro adotar mecanismo que retome as vendas internas, já ajuda", apela Bier.
Jornal do Comércio - Qual a dimensão da crise?
Cláudio Bier - Só não é pior que a de 2005 e 2006 devido à demanda de tratores do Mais Alimentos, programa federal com juro baixo e condições especiais para agricultura familiar, que está fazendo os negócios andarem. A crise anterior parou tudo, não havia incentivo do governo. Na época, perdemos 14 mil de 29 mil empregos indiretos no Estado. Havíamos recuperado os postos até 2008, somando 30 mil contratações diretas. O setor soma 120 mil empregos indiretos.
JC - Quais são os componentes mais graves da atual crise?
Bier - Primeiro, o governo federal prometeu, em outubro e novembro de 2008, recursos para a agricultura, que não chegaram aos produtores. Segundo, o agricultor que prorrogou pagamento de empréstimo, efeito da crise passada, tem dificuldade para obter novo crédito. Também há a grande inadimplência no Centro-Oeste, que alcança 40%. A região responde por 30% a 35% dos negócios das empresas. A seca na Argentina afeta muito, já que as exportações representam 48% das vendas, como no caso da John Deere. As grandes fabricantes nacionais detêm 75% do mercado.
JC - A crise afeta os demais fabricantes no País?
Bier - No Rio Grande doSul é pior porque o Paraná teve seu programa de financiamento para compra de tratores de baixo custo antes, o que assegurou as vendas. As indústrias gaúchas tiveram de criar agora linhas para dar conta de encomendas do Mais Alimentos. As demais fabricantes também dependem menos do mercado externo.
JC - Como as empresas fecharam o primeiro mês do ano?
Bier - Todas decretaram férias coletivas e retomaram a produção em 20 de janeiro. Mas as coisas estão paradas. Não houve melhora até agora. Dezembro e janeiro foram muito, muito ruins. Quem fornece máquinas para colheita, se não vender até este mês, só terá cliente para a safra de 2009/2010.
JC - O crescimento de 2008 ajuda a enfrentar a crise?
Bier - Tivemos o melhor ano em 20 anos. A venda de colheitadeiras cresceu 87,6% no mercado interno no País. A média do ano fechou em 56,2%. De tratores, quase 30%, e chegou à alta de 66% no Estado. Mas nenhuma empresa tem muita gordura para aguentar muito tempo sem receita, como agora. Por isso, demissões e cortes de gastos. Sabíamos que 2008 seria um ano espetacular. Mas havia o temor sobre 2009. Os pedidos se esgotaram no final do ano passado e não entraram novas encomendas. Também houve muito cancelamento de pedidos. Dezembro não pesou tanto, pois havia a produção para entregar.
JC - O que o setor pedirá ao governo federal?
Bier - Queremos alguma ajuda ao setor. Se não vier algo novo, será um ano muito ruim. Tem de ser medida que faça o agricultor voltar a comprar, na linha do Mais Alimentos, com juro de 2% ao ano e carência para pagar. Isso fará as empresas retomarem empregos.
JC - Mas uma receita só resolve a crise?
Bier - A demanda externa não depende do Brasil. Se o governo brasileiro adotar mecanismo que retome as vendas internas, já ajuda. Agora é hora de o governo agir.
JC - O senhor previa mais demissões. Elas vão continuar?
Bier - Muitas demissões ocorrem de empregados contratados com o boom de 2008. São demitidos os mais novos, sem sacrificar os mais qualificados. A empresa que poderia demitir na última semana está negociando e aguarda o resultado da audiência em Brasília.
JC - O que o Estado poderia fazer para ajudar?
Bier - Tentamos uma agenda com a governadora Yeda Crusius e não conseguimos. O Estado tem limites, mas tudo ajuda, principalmente para fornecedores das montadoras, como prorrogação ou redução de impostos. Nesta hora, todos têm de ajudar. Afinal, o segmento tem peso importante na balança comercial gaúcha.
Fonte: Jornal do Comércio