Greve geral trava a Argentina e tensiona governo Macri
Dezenas de cidades tiveram paralisação total de transportes, aeroportos, bancos, escolas, coleta de lixo, entre outros serviços
A greve geral contra as políticas econômicas recessivas do governo do presidente da Argentina, Mauricio Macri, realizada ontem (25) em dezenas de cidades, foi considerada “um sucesso” pelo dirigente da Confederação Geral do Trabalho de Argentina (CGT) Juan Carlos Schmid.
Ele denunciou o "fracasso evidente" de Macri nas áreas econômica, social e política e destacou que o governo "está agindo em um país desigual, cada vez mais desigual". A paralisação afetou serviços de transporte, aeroportos, escolas, indústrias, bancos e coleta de lixo e os trabalhadores prometeram que “não haverá trégua" se o mandatário não apresentar um “plano B”.
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O movimento ocorre no mesmo dia em que Macri foi discursar na 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, onde também vai se reunir com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. O objetivo é renegociar o empréstimo já acertado de US$ 50 bilhões (R$ 204,5 bilhões) por um valor ainda maior.
Do total negociado com o FMI, US$ 15 bilhões já foram utilizados para conter a corrida cambial de maio. O resto seria liberado a cada três meses, sempre e quando a Argentina cumprisse as metas acordadas – e que agora estão sendo revistas. Ele também busca passar a mensagem de que o país não vai decretar moratória da dívida externa, como em 2001.
O movimento paralisou cerca de 85% das atividades nas cidades, apesar de governadores aliados de Macri tentarem desmerecer a paralisação. O serviço de Metrô de Buenos Aires está paralisado desde às 20h do ontem (24). Além disso, houve mobilizações em vários locais, com destaque para a cidade de Mendoza, onde 20 mil argentinos protestaram em frente a sede do governo local.
“Vamos mostrar ao mundo a foto de um país que diz não. Não ao FMI. Não ao orçamento do FMI. E não às demissões”, disse o deputado e líder da CTA Hugo Yasky, no ato de encerramento da manifestação em frente ao palácio presidencial.
No início da tarde, o presidente do Banco Central da Argentina (BCRA), Luis Caputo, pediu demissão do cargo, alegando motivos pessoais. O economista deixa a função após três meses de trabalho. Ele é o quarto dirigente do BCRA a renunciar em quatro meses. Ainda assim, ele defendeu a extensão do acordo de US$ 50 bilhões entre o governo argentino e FMI, dizendo que sai “com a convicção” de que as novas negociações “restabelecerão a confiança acerca da situação fiscal, financeira, monetária e cambial”. Com o anúncio, o peso se desvalorizou em mais de 4%.
Não ao arrocho
Os trabalhadores e trabalhadoras argentinos protestam contra a escalada de demissões – desemprego subiu de 8,7% em 2017 para 9,6% entre abril e junho deste ano -, política de ajustes, a volta das discussões da reforma trabalhista fatiada, com proposta de flexiblização dos contratos e a retirada dos subsídios das principais tarifas que deve ser ampliada caso seja aprovado o novo Orçamento enviado ao Congresso na semana passada.
O Orçamento propõe o déficit zero exigido pelo FMI, o que significa mais cortes nos gastos sociais. Mas, a aprovação da proposta depende do Congresso, onde o governo não tem maioria e os parlamentares estão de olho na eleição presidencial do ano que vem. O governo argentino atribuiu a crise a fatores que escapam do seu controle, entre eles, a pior seca em 50 anos e a guerra comercial entre Estados Unidos e China. Mas, segundo Macri, o pior já passou e a economia deve voltar a crescer no segundo semestre.
O ministro da Produção, Dante Sica, disse considerar a greve geral “inoportuna” e afirmou que o governo continuará negociando com a oposição para conseguir um consenso.
Fonte: Rede Brasil Atual com informações de Opera Mundi, Página|12 e CUT