Governo aumenta o preço dos combustíveis e do gás de cozinha; entenda o que acontece
Mesmo com saída de Parente, após greve dos caminhoneiros, política de preços continua vinculada ao mercado internacional
A Petrobras anunciou mais um reajuste do gás de cozinha, o GLP (gás liquefeito de petróleo). O preço vai aumentar 4,4% a partir desta quinta-feira (5). A estatal também informou que vai elevar em 0,9% preço da gasolina comercializada nas refinarias.
O anúncio foi feito pouco mais de um mês após a mobilização dos caminhoneiros e dos petroleiros, que paralisaram o país por dez dias justamente contra o aumento do preço do diesel e dos derivados do petróleo.
A greve, que teve início no dia 21 de maio, resultou na saída de Pedro Parente da presidência da Petrobras e no congelamento temporário do preço do diesel.
No entanto, o novo presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, manteve a política de acompanhar os preços do exterior — ou seja, o Preço de Paridade Internacional (PPI), política adotada em outubro de 2016 pelo governo de Michel Temer (MDB).
A estatal afirmou, em nota, que o novo aumento do gás de cozinha reflete a desvalorização do real frente ao dólar e a elevação das cotações internacionais.
Nas gestões anteriores, os custos de venda dos produtos refinados pela Petrobras se sustentava nos custos nacionais de produção do petróleo, independente das alterações nos preços internacionais. Ou seja, mesmo que um conflito no Oriente Médio ou a cotação do dólar aumentasse o preço do barril no mercado internacional, o custo de produção da estatal não se alternava.
O diretor licenciado do Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo, Alexandre Castilho, afirma que, com a adoção da PPI, isso se alterou.
"A grande mudança, a partir do golpe, foi a implementação de uma política de preço dos derivados que acompanha a subida dos preços internacionais do barril de petróleo", explica o dirigente.
"O que nós vemos é que estão praticando preços internacionais sem necessidade e quem está pagando a conta disso é o povo brasileiro. Quem ganha com essa situação são somente as empresas multinacionais que são aquelas que estão exportando os derivados. A geração de emprego e a tecnologia está sendo garantida no exterior, ao invés de garantir no mercado internacional.", disse Castilho.
O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), Felipe Coutinho, explica que, na prática, a nova política estabelece preços que são mais altos que os internacionais.
"Na verdade, são preços vinculados e superiores aos internacionais. E essa variação dos preços do real acaba fazendo com que, necessariamente, para o consumidor brasileiro uma situação do mercado internacional. A Petrobras acresce alguns custos que ela estima: o custo de internalização, de fazer essa a importação para o mercado interno, o lucro desse agentes dessa cadeia e mais uma margem equivalente ao risco dessa operação", pontua Coutinho.
Após a mobilização em maio deste ano, o governo passou compensar a diferença entre o preço congelado do diesel e o valor do mercado internacional. No entanto, os combustíveis continuam a vinculados a uma política de preços, na opinião de Coutinho, desnecessária e com pouca transparência.
"A partir dessa referência internacional, em que você cresce estimativas de custo de importação, estimativa de risco e de lucros, esses números também pode ser variados e reajustados de acordo com diretrizes da Petrobras, que ela também não revela — o quão alto estão os produtos do mercado interno em relação ao mercado internacional pode variar de acordo com os ajustes que são feitos sob a política desses preços?", questiona.
Para Alexandre Castilho, é por causa da PPI que a redução de impostos, proposta por um setor mobilizado dos caminhoneiros e também pelo setor patronal, não seria efetiva por muito tempo, já que uma desvalorização do real, por exemplo, poderia anular este ganho instantâneo e conjuntural.
"A redução de impostos foi propostos por seguimentos como uma medida paliativa. Mas isso não resolve o problema dos derivados de petróleo no país. A solução do problema dos combustíveis é a Petrobras voltar a praticar preços como ela fazia no passado: estatal que garante que o atendimento da população seja garantido com combustíveis a preços justos. Esse é o caminho: a Petrobras voltar a trabalhar como uma estatal, uma empresa que defende o Brasil e o povo brasileiro", afirma Castilho.
Outro lado
Em um comunicado no site da estatal, a Petrobras destaca que o aumento no preço do GLP poderia ser superior e que o impacto foi diluído por um "mecanismo de compensação que permitirá que eventuais diferenças entre os preços praticados ao longo do ano e o preço internacional sejam ajustadas ao longo do ano seguinte".
Desde janeiro deste ano, o governo passou a reajustar o preço do gás, que antes era aumentado mensalmente, a cada três meses em uma tentativa de amenizar as variações das cotações internacionais.
Ainda assim, o preço do gás de cozinha pode chegar a R$ 70 em alguns municípios do país. Já a gasolina acumula alta de 52,47% desde julho do ano passado. O preço do diesel, por sua vez, segue em R$ 2,0316 por litro desde 1º de junho.
Fonte: Brasil de Fato