Erechim: Saúde e segurança foram temas centrais do II Encontro de Cipeiros promovido pelo Sindicato dos Metalúrgicos
“A saúde do trabalhador é um bem e um direito inalienável”, esta foi a afirmação que marcou a fala do presidente da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do RS, Jairo Carneiro, que esteve em Erechim, durante a abertura do II Curso de Formação de Cipeiros, promovido pelo Sindicato dos Metalúrgicos. Durante o encontro, que iniciou na manhã de segunda-feira (18), Jairo Carneiro destacou que a saúde é um patrimônio único e, portanto, deve ser conservado. Se antigamente a preocupação era quanto aos riscos de acidentes, hoje, o desafio dos cipeiros é maior.
Para Carneiro, a pressão da chefia e pelo aumento da produção, além da exposição a atividades repetitivas são fatores que desencadeiam as tão faladas doenças invisíveis. “É dever do cipeiro levantar esta discussão, pois com o surgimento de doenças como LER, DORT, estresse e depressão o cenário ficou mais complexo”, comentou. Destacou, também, que na luta pela sobrevivência, os trabalhadores sacrificam a saúde em extensivas jornadas de trabalho. “É compreensível que o operário que se sujeita a fazer hora-extra tem projetos de amor: construir a casa própria, comprar um carro melhor, possibilitar o acesso à educação aos filhos, contudo se submetem a riscos que atentam à saúde e ao bem estar. O aumento da jornada de trabalho leva a exaustão física, aumenta o risco de doenças e acidentes, e o principal, gera um afastamento do núcleo familiar. Vale lembrar que na falta do pai e da mãe, os filhos buscam referência em outros caminhos do lado de fora”, alerta.
Outro ponto levantado pelo Sindicalista foi às mudanças nas regras de aposentadoria o fator previdenciário. “Querem diminuir o rombo da previdência penitenciando a classe menos favorecida. Se for aprovada a reforma, além do aumento do tempo de trabalho haverá uma verdadeira cassação de benefícios, pois a proposta prevê um bônus de R$ 60,00 a cada benefício negado ao médico perito. Isto deveria ser considerado inconstitucional”, salientou. Ele alertou que as mudanças propostas preveem alterações na aposentadoria do trabalhador comum, mas mantém intocáveis as aposentadorias de políticos e militares, que são os melhores remunerados. Outro alerta foi quanto ao fim das CIPA’s a partir da aprovação PL 4330, já que pequenas empresas não são obrigadas a criar uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. “Vamos retroceder no tempo, pois além do fim dos direitos dos trabalhadores a lei coloca em cheque o fim do trabalho de prevenção e segurança no ambiente de trabalho. As perdas são incalculáveis”, ponderou. Jairo encerrou lançando um desafio para os cipeiros: a criação de um grupo de estudo que discuta e proponha ações de melhorias nas condições de trabalho em empresas da região.
Saúde mental e legislação trabalhista também fizeram parte das discussões
A segunda etapa de formação do Programa + CIPA + Saúde, aconteceu durante toda a segunda-feira, no Auditório do Sindicato dos Metalúrgicos. Participaram do Encontro cerca de 60 cipeiros que atuam nas empresas metalúrgicas: Perfil Perfilados, Alto Uruguai, Intecnial, Comil, Menno, Triel HT, Mepel, Ampla, TCA Transformações e Molas Carlon; representantes dos Sindicatos do Vestuário, da Saúde, dos Metalúrgicos de Concórdia e de Máquinas Agrícolas e Metalúrgicos de Carazinho. Durante o evento foram abordados aspectos legais e técnicos a respeito da atuação dos cipeiros junto aos trabalhadores, dentro das empresas.
Na ocasião, além da palestra com Jairo Carneiro, também, foi realizada uma conferência sobre “Saúde Mental: Doenças Invisíveis”, ministrada pela médica do trabalho Christine Wagner Poloni, que fez um resgate da evolução das condições dos ambientes de trabalho, nos últimos três séculos. Segundo Christine houve muitos avanços, mas nada que realmente solucione ou estanque os problemas. “Para a saúde física temos parâmetros que se respeitados evitam vários danos, mas como se mede o sofrimento o mental. Há pessoas que passam 8 horas do dia executando uma única tarefa, por vezes, tarefas banais que as fazem questionarem qual a importância do seu trabalho para humanidade”, ponderou. Para a palestrante, as pessoas deveriam ter o direito de trabalhar de escolher a função que melhor se adaptam, sendo levados em conta o ritmo e aptidões físicas, necessidades fisiológicas e mentais.
A programação da tarde, contou com a palestra sobre “Prevenção de doença no local de trabalho”, com a fisioterapeuta do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, Michele Dal Ponte. Ela deu dicas de prevenção, falou sobre movimentos básicos que quando realizados de maneira incorreta, acarretam doenças laborais; dicas de ergonomia e explicou alguns dos serviços oferecidos pelo CEREST - Centro de Referência em Saúde do Trabalhador. “Sabemos que é difícil estabelecer um local de trabalho adequado capaz de atender todas as exigências, mas é dever do cipeiro detectar e sugerir mudanças, além de orientar os trabalhadores”, salientou. Christine explicou que a porta de entrada de atendimento do CEREST são as UBS’s: “o trabalhador que necessitar dos serviços, em função de uma doença ocupacional ou acidente de trabalho, deve exigir na UBS o encaminhamento para o Centro”.
As atividades encerraram com a palestra sobre “Legislação e Responsabilidade dos Cipeiros”, com o advogado e professor do curso técnico em Segurança do Trabalho do Instituto Barão do Rio Branco, Rodrigo Espiúca. Segundo o Advogado a função do cipeiro é fiscalizar e alertando possíveis riscos. Segundo ele, é na prevenção que o cipeiro realmente exerce sua missão: “informando ao empresário sobre o mau funcionamento de uma máquina, onde há risco de vida para o trabalhador e apontar soluções. A responsabilidade pela saúde do funcionário é do empregador, mas caso negligencie sua função, o cipeiro também pode ser acionado através de um inquérito do Ministério Público do Trabalho”, assinalou o Advogado.