Dólar alto é especulação do mercado contra isenção do IR para os trabalhadores
Os recentes cortes de gastos propostos pelo governo, totalizando R$ 70 bilhões em dois anos e R$ 327 bilhões em cinco anos, geraram reações negativas no mercado financeiro, que aguardava medidas mais drásticas, especialmente as que atingem os programas sociais voltados para os mais pobres, para equilibrar as contas públicas.
O pacote fiscal não atendeu às expectativas dos investidores que queriam um conjunto de reformas mais agressivo para garantir o controle da dívida pública e dar um sinal de austeridade. A insatisfação foi ampliada pela proposta de isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$ 5 mil, o que desagrada parte da elite econômica, que vê a medida como uma perda de benefícios fiscais para os mais abastados.
Um levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que a isenção do IR injetaria na economia R$ 35 bilhões e quem ganha até R$ 5 mil teria praticamente um salário a mais de ganho ao ano. Com a isenção seriam beneficiados 36 milhões de trabalhadores enquanto apenas 100 mil pessoas que ganham R$ 50 mil por mês pagariam um pouco a mais.
Com o governo dos Estados Unidos optando por políticas protecionistas sob a liderança de Donald Trump, o mercado brasileiro passou a reagir para proteger seus ganhos bilionários. Esse cenário global instável tem sido explorado por agentes financeiros, que, aproveitando o momento de insegurança, têm pressionado pela alta do dólar que por sua vez aumenta a alta dos juros.
Em novembro, a moeda americana superou a marca de R$ 6,10. Esse aumento do dólar, que pode parecer distante para parte da população, tem um impacto direto sobre os preços internos, principalmente dos bens e produtos essenciais.
“Essa especulação cria pressão para que o Banco Central eleve a taxa de juros, sob a justificativa de que um aumento nos juros ajudaria a conter a alta do dólar e minimizar o impacto inflacionário. No entanto, esse movimento tem resultados sérios para a população mais pobre, que, apesar de não perceber a oscilação cambial de forma tão direta, sofre as consequências da inflação elevada, que compromete o orçamento doméstico e reduz o poder de compra”, explica Ariovaldo de Camargo, secretário de Administração e Finanças da CUT.
O aumento do dólar também tem outro efeito adverso: ele torna o mercado internacional mais atrativo para os produtores brasileiros. Como observa a economista do Dieese, Vivian Machado, “com a moeda brasileira desvalorizada, muitos produtores preferem exportar seus produtos para mercados mais vantajosos em vez de abastecer o mercado interno. Isso reduz a oferta de produtos no Brasil, levando a um aumento dos preços e agravando ainda mais a pressão inflacionária”, analisa.
Essa dinâmica do mercado financeiro, com sua especulação constante e a busca por lucros imediatos, acaba colocando os interesses de investidores e grandes corporações à frente das necessidades da população mais vulnerável.
A estratégia de aumentar a taxa de juros e de manipular o mercado cambial para garantir o lucro financeiro, ao invés de promover o desenvolvimento econômico sustentável, prejudica diretamente os trabalhadores, que enfrentam a perda de poder aquisitivo e a ameaça de desemprego. Ao priorizar as necessidades dos grandes investidores, o mercado financeiro ignora as consequências sociais de suas ações, agravando as desigualdades já existentes no país.
A especulação do mercado, que busca garantir lucros a qualquer custo, acaba gerando uma espiral de inflação, altas taxas de juros e um ambiente econômico cada vez mais instável, que prejudica diretamente a vida dos trabalhadores.
Essa lógica, que favorece os grandes investidores, custa caro para a sociedade, pois impacta a economia de forma desigual, fazendo com que os mais pobres arquem com os efeitos colaterais das decisões tomadas nos corredores do mercado financeiro. O pacote fiscal do governo, ao não responder adequadamente às demandas do mercado e priorizar o bem-estar dos mais vulneráveis, se torna refém de uma especulação que coloca os interesses dos mais ricos à frente das necessidades de quem mais precisa.
Mercado finge que não vê empregos, crescimento do PIB e menos pobreza
O resultado da política econômica do governo Lula tem demonstrado lados positivos que o mercado financeiro tenta sabotar como a queda da extrema pobreza que terminou 2023 em 4,4%. O índice era 6,6% em 2012 e 5,9% em 2022. Entre os dois últimos anos da pesquisa, 3,1 milhões de pessoas deixaram de ser extremamente pobres.
Outro dado que o mercado financeiro finge não ver é a alta da criação de empregos, a maior dos últimos 12 anos. A taxa de desemprego no Brasil recuou para 6,2% no trimestre de agosto a outubro.
Além do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que ficou em 0,9% no terceiro trimestre e deve fechar o ano em 4%.
O dólar alto e a inflação
Como já foi dito anteriormente, a alta do dólar afeta a inflação porque itens importados vão na composição de diversos produtos que estão no dia a dia do brasileiro. Quando o real se desvaloriza frente ao dólar – ou seja, quando a moeda americana custa mais reais – o preço de mercadorias com insumos importados sobe e o custo é repassado à população. Veja alguns exemplos:
Pão
O Brasil importa mais de 50% do trigo que consome, e como esse grão é precificado em dólar, a alta da moeda pode encarecer não só o pão, mas também massas, biscoitos e outros produtos derivados.
Eletrônicos
O mesmo raciocínio se aplica a produtos como eletrônicos e eletrodomésticos, que dependem de componentes importados. Indústrias que atuam quase como montadoras, utilizando peças adquiridas do exterior, enfrentam desafios semelhantes quando a moeda americana sobe.
Medicamentos
Esse cenário também impacta produtos químicos, essenciais para a fabricação de itens de beleza, higiene e medicamentos – setores fortemente dependentes de matérias-primas importadas.
Combustíveis
Mesmo com as mudanças na política de preço dos combustíveis promovida pela Petrobrás, o dólar ainda afeta os preços dos derivados de petróleo, afetando o custo do transporte e, indiretamente, de outros produtos.
Agricultura
Na agricultura, o impacto é ainda mais abrangente. O Brasil é o maior importador mundial de fertilizantes e toda vez que a moeda americana aumenta encarece a produção agrícola e, por consequência, temos preços mais altos para os alimentos.
Ainda restam saídas
A combinação de incertezas econômicas e estratégias que priorizam lucros imediatos sobre o bem-estar coletivo torna as festas de fim de ano do brasileiro um desafio maior para quem já luta para fechar as contas no mês. Pois a tendência para o mês de dezembro é que tudo fique como está, por isso o brasileiro terá um Natal mais caro em 2024, com a inflação pressionada pela alta do dólar e o impacto das decisões do mercado financeiro. Embora as notícias econômicas sejam um pouco amargas para este fim de ano, o secretário de Finanças da CUT afirma que em 2025 tudo pode mudar:
“Tudo vai depender da orientação que o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo¸ indicado pelo presidente Lula, adotará e de como o governo vai atuar nesse contexto. Embora o Banco Central seja independente, é importante que haja diálogo e, principalmente, pressão da sociedade para que se encerre o ciclo de políticas econômicas implementadas durante o governo Bolsonaro, marcadas por juros altos e baixa preocupação com o investimento estatal. O objetivo agora deve ser seguir a diretriz econômica defendida por Lula na campanha de 2022: mais investimentos públicos, controle da inflação, crescimento do PIB e uma reforma tributária que alivie as camadas populares e cobre mais do topo da pirâmide social”, afirma Ariovaldo de Camargo.
Fonte: CUT Nacional