Debates e definições marcam o VI Congresso dos Metalúrgicos de São Leopoldo e Região
O VI Congresso dos Metalúrgicos de São Leopoldo e Região aconteceu entre nos dias 15 e 16 de junho, na colônia de férias do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, em Cidreira. A abertura da atividade foi realizada na noite de sexta-feira, 14, na sede da entidade, em São Leopoldo.
Cerca de 100 delegados acompanharam o Congresso participando dos debates e definições sobre os rumos do sindicato para o próximo período.
Conjuntura: do internacional ao regional
Quintino iniciou sua fala defendendo que conhecer a conjuntura é importante para obter sucesso na campanha salarial. Ele ressaltou três décadas que resultaram na realidade que temos hoje.
Do final dos anos 70 até meados de 80 foram os anos finais da ditadura, da classe trabalhadora reacender, das eleições diretas, da Constituinte de 88, do surgimento da CUT e do MST. A década de 90, foram de resistência e enfrentamento ao neoliberalismo com os governos do Collor e do FHC, das privatizações, da retirada de direitos e do fortalecimento da imagem do indivíduo, o que enfraquece o sindicalismo. Do início dos anos 2000 até agora foram anos de conquista de governos e projetos populares, que proporciona um resgate histórico.
“Toda a nossa luta anterior resultou nesta vitória”, acredita ele, acrescentando que apesar da grande crise econômica mundial, o Brasil sofreu menos. “Porém, temos que ficar atentos, vamos entrar em campanha salarial e os patrões sempre vão querer tirar proveito, querendo que os trabalhadores paguem essa conta, que não é nossa.”
Próximos desafios - Para o próximo período, Quintino listou alguns desafios, como combater o PL da terceirização, que permite que a atividade-fim de uma empresa seja terceirizada. Assim como, continuar lutando pelo fim do fator previdenciário. Sobre a perda que os trabalhadores vem sofrendo devido ao FGTS estar sendo corrigido abaixo da inflação, Quintino alertou que a CUT, juntamente com o jurídico da entidade e o Dieese estão estudando como os trabalhadores devem proceder.
“Nos vamos orientar vocês, repassar informações para os sindicatos para que o trabalhador possa, realmente, garantir essa recuperação”, avisou ele. Por fim, o dirigente defendeu a Reforma Política, pois a atual legislação impede mecanismos de participação como referendo e plebiscitos. “A Reforma Política é um debate nosso, da sociedade e é fundamental para valorizar a cidadania”, acredita.
Estado e região – Milton Viário iniciou sua fala exaltando a importância da política para a vida do trabalhador. “Só conquistamos um conjunto de direitos na Constituição Federal porque a classe trabalhadora lutou e entrou para o cenário político”, declarou.
Na opinião de Viário, os trabalhadores brasileiros vivem seu melhor momento, após a Era Vargas. “Apesar da criação da CLT, o Getúlio Vargas foi muito cruel com a classe trabalhadora. Agora, desde a Era Lula, os trabalhadores estão se enxergando e mudando de vida. É a nossa classe que está no atual cenário político.”
Referente à conjuntura estadual, Viário analisou os últimos governos desde Alceu Collares e avaliou que no Rio Grande do Sul a política oscila entre direita e centro esquerda. Agora o desafio e como garantir a continuidade de um projeto que está em andamento.
Ele citou três ações do Governo Estadual que considera primordiais para a classe trabalhadora. A manutenção do Piso Regional Salarial, a criação da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) que transfere para a comunidade a responsabilidade de decidir onde o dinheiro do pedágio será investido e o programa de desenvolvimento econômico, que prevê a aplicação de 36 bilhões no Rio Grande do Sul.
“No setor da metalurgia foram criadas 210 mil vagas e esse número deve chegar a 260 mil, nos próximos anos. Só na região de São Leopoldo, a expectativa é que o número de metalúrgicos chegue a 26 mil, nos próximos quatro anos”, projetou Viário.
Por fim, salientou que o setor de metal mecânica anda investindo na alta tecnologia, o que exige profissionais mais qualificados e melhora os salários dos trabalhadores.
Realidade da categoria e indústria metalúrgica
Na parte da tarde, o economista do Dieese, Ricardo Franzoi, apresentou o painel “Negociações coletivas, crescimento, salário e perfil da categoria”. De acordo com um estudo do Departamento, desde 2004 cresceu os acordos coletivos com aumento real. De 2008 a 2012, o aumento real médio no setor industrial foi de 7,94%.
A tendência para este ano é manter o patamar dos últimos três anos. A situação econômica é mais positiva, o PIB do Estado será de 5%, enquanto o PIB do Brasil será de 3% e a taxa de câmbio está mais adequada para a competitividade. “Estes são os três principais fatores”, explicou Franzoi.
O economista também enumerou os possíveis argumentos que aparecerão nas mesas de negociações: salários estão mais altos, piso regional alto e o ganho real dos últimos anos.
Ele também mostrou a evolução do emprego nos municípios de Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, Esteio, São Leopoldo e Sapucaia do Sul. A evolução entre 2007 e 2011 foi um aumento de 15,9% na região.
Outros índices destacados por Franzoi foi o aumento em 5,1% da mão de obra feminina no setor, a elevação na escolaridade dos trabalhadores e o maior número de greves nos últimos anos. “A principal reivindicação nas greves foi a Participação nos Lucros e Resultados (PLR)”, informou.
Depois, o diretor da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), Valter Sanches, apresentou o painel “A indústria metalúrgica e a política industrial”.
Sanches ressaltou que na contramão do resto do mundo, o país criou mais de 19 milhões de empregos de 2002 a 2013, inserindo mais gente no mercado de consumo, o que valoriza o salário e melhora as campanhas salariais. “Os metalúrgicos tiveram cerca de 30% de aumento real, nos últimos dez anos”, informou.
O diretor ressaltou a política industrial do plano Brasil Maior, que investe na indústria nacional e explicou: “tivemos um crescimento rápido entre 2002 a 2010, mesmo assim não demos conta da demanda e viram as importações. Então, em 2011, ligamos o sinal amarelo, pois o mercado conquistado pelo importado, não se recupera mais”.
Neste momento que a política industrial interveio através das medidas de incentivo (isenção de impostos), programas de qualificação profissional, fortalecimento das cadeias produtivas, ampliação de novas competências tecnológicas e a “obrigação” de produzir no Brasil.
No final de sua explanação, Sanches chamou a atenção para a importância de evento como o Congresso, que define políticas para o sindicato e para a sociedade. “Se os trabalhadores não intervirem na política, podemos ter novamente uma pátria de 12 milhões de desempregados”, lembrou.
Campanha salarial
O VI Congresso encerrou domingo, 16, com a apresentação dos trabalhos em grupos e da campanha salarial. Os delegados foram divididos em quatro grupos: formação, lazer e cultura; saúde e organização no local de trabalho; gestão e patrimônio e gênero, raça e juventude.
Dois representantes de cada grupo realizaram a apresentação. Debates sobre a ampliação do atendimento à saúde, investimento nas sub-sedes, políticas para debater questões de gênero, incentivo à formação sindical, alternativas para atrair a juventude foram alguns dos assuntos debatidos.
O último ponto do VI Congresso foi a apresentação da campanha salarial. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo e Região, Jorge Edemar Corrêa, informou como estão as negociações este ano e quais são as perspectivas para o sindicato.
“A nossa pauta já foi discutida pela direção da entidade e o jurídico já está analisando as cláusulas sociais”, relatou Corrêa.
Será realizada uma assembleia, terça-feira, dia 25, na sede do sindicato para apresentar a pauta para a categoria. “Iremos mostrar item por item, aprovar a pauta e definir o plano de luta. Sabemos que haverá muita luta e enfrentamento com a patronal”, finalizou o presidente.
Encerramento
O VI Congresso foi finalizado com os integrantes da comissão organizadora agradecendo a todos os delegados participantes e ressaltando a importância deles serem multiplicadores dos assuntos debatidos no evento, nas suas fábricas.