Crise Pesa E Indústria Tem Maior Queda Desde 1995

RIO DE JANEIRO - A indústria brasileira amargou em novembro a queda mais acentuada de sua produção em mais de 13 anos, reflexo direto dos efeitos da crise financeira internacional sobre a economia do país.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção das fábricas em novembro ficou 5,2 por cento menor que em outubro, quando a produção já havia recuado 2,8 por cento (em dados revisados para baixo).

"Foi uma queda generalizada... com quedas que remontam a um passado distante e com um perfil negativo recorde", afirmou Silvo Sales, economista do IBGE.

O recuo observado na passagem de outubro para novembro foi o maior desde maio de 1995, quando a produção tinha caído 11,2 por cento, por conta da forte retração de 22,6 por cento na produção de veículos --principal fator por trás da segunda queda mensal consecutiva da produção industrial.

"Se outubro foi o mês em que o mundo parou, novembro foi o mês do início do declínio", afirmou a consultoria Rosenberg & Associados em relatório.

"Já é patente, com esses dados, que teremos algo que não se via desde o terceiro trimestre de 2005: um trimestre ou até mais de crescimento negativo."

Na avaliação do IBGE, os setores que dependem de crédito e vendas externas --bens duráveis e intermediários, respectivamente-- foram as âncoras da queda em novembro.

"Tal como em outros países, no Brasil a liderança da queda veio do setor mais sensível ao crédito, em especial a produção de veículos", disse o economista.


RITMO EM BAIXA


Na comparação com 2007, o quadro foi ainda pior. A produção ficou 6,2 por cento abaixo da verificado em novembro de 2007, marcando a queda mais acentuada, nesse tipo de comparação, desde dezembro de 2001.

Para o IBGE, o movimento evidencia "um aprofundamento do ritmo de queda da atividade e um alargamento do conjunto de segmentos com decréscimo de produção".

A produção de veículos, nesse tipo de comparação, caiu 34,2 por cento --o resultado mais baixo desde dezembro de 1998.

"As quedas de automóveis foram recordes e o segmento arrasta a queda dos fornecedores. Há impacto sobre os setores de auto-peças, siderurgia e outros vinculados", disse Salles.

"Além disso, as exportações do setor foram afetadas assim como as vendas de commodities, que também foram afetadas pela crise."

Por categorias de uso, apenas os bens de capital sustentaram ritmo de expansão na comparação anual, com alta de 3,6 por cento. A produção de bens de consumo duráveis caiu 22,1 por cento, seguida por bens intermediários, com queda de 7,5 por cento, e bens de consumo semi e não-duráveis, com retração de 2,8 por cento.

O tombo sofrido em outubro e novembro derrubou a taxa de expansão acumulada pela indústria no ano para 4,7 por cento. Até setembro, a expansão era de 6,4 por cento. Considerando os últimos 12 meses, a alta caiu a 4,8 por cento.


CORTE DE JURO

As perspectivas para dezembro também não são favoráveis, segundo o IBGE. "Os dados disponíveis até agora são negativos... a produção em dezembro também é, normalmente, menor que a de novembro", frisou o economista do IBGE.

Para os analistas da Rosenberg & Associados, os dados divulgados reforçam as apostas em acentuada desaceleração da atividade econômica, queda da inflação e consequente abertura de espaço para um corte do juro pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

"Este movimento tão drástico da atividade deve trazer rapidamente a inflação de volta à meta, compensando a apreciação cambial... o que deve levá-lo (o Copom) a reduzir os juros em sua próxima reunião, no final de janeiro", afirmou a consultoria.


Fonte: Reuters

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