Corte De 1,5 Ponto Repõe Juro No Menor Patamar Da História
SÃO PAULO - Um dia depois do anúncio da queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre de 2008, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual, cortando a Selic de 12,75% para 11,25% ao ano. A redução é a maior desde novembro de 2003, quando a taxa caiu de 19% para 17,5%. Com esse corte, a Selic voltou ao menor nível da história.Em breve comunicado emitido após a reunião sobre a decisão unânime de reduzir a taxa Selic, o Comitê afirmou que "acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".
Na reunião anterior, realizada em janeiro, a autoridade monetária reduziu a Selic em 1 ponto percentual, alterando o juro básico de 13,75% para 12,75% ao ano. A decisão não foi unânime - cinco membros votaram pelo corte agressivo, mas três insistiram na redução de 0,75 ponto. A decisão do BC para esta reunião foi influenciada, principalmente, pela desaceleração da economia e pela queda da inflação registrada nos últimos meses.
Ontem, políticos de oposição e do partido do presidente da República, o PT, fizeram coro na aposta de um corte mais agressivo, que chegasse ao patamar de 2 pontos percentuais. A justificativa da medida, segundo os parlamentares, seria a necessidade de incentivo para a indústria produtiva. A cobrança também era a de que a redução da Selic chegasse de fato no spread bancário.
A ala dos economistas mantinha a linha de prudência, mas com previsão de uma queda mínima de 1 ponto percentual, podendo chegar a dois pontos percentuais. "Com o resultado do PIB, a queda de 1 ponto percentual passou a ser um 'piso', com espaço para uma redução maior", disse Frederico Turolla, professor de Economia da ESPM.
Segundo previsão da Tendências Consultoria, a redução da taxa básica seria de 1,5 ponto percentual, levando a Selic para 11,25%. O que sinaliza o BC adotando "uma estratégia mais rápida de redução da Selic diante das evidências de que o risco de uma atividade econômica mais fraca são superiores aos os riscos de pressão inflacionária".
O economista Manuel Enriquez Garcia, vice-presidente do Conselho Regional de Economia de SP e prof. da FEA/USP, também aguardava corte entre 1 ponto percentual e 1,5 ponto percentual. "O momento exige um sinal significativo de queda nos juros para estimular a economia diante da crise", disse.
Segundo Alcides Leite, professor de Economia e Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios, a expectativa do mercado era de uma redução substancial, "capaz de influenciar o custo financeiro no País", disse.
Repercussão
O corte de 1,5 ponto percentual na taxa de juros dividiu a avaliação dos empresários. Para o presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz, o Banco Central acertou. "Esse corte, além de diminuir a propensão à poupança derivada de um consumidor mais cauteloso, representa uma economia superior a R$ 11 bilhões nas despesas com serviço da dívida indexada à Selic. O alívio às contas públicas permitirá o fomento aos investimentos, fundamental diante da deterioração dos números de emprego e das previsões de crescimento para este ano; principalmente, quando a trajetória ascendente das despesas permanentes do governo torna o País mais vulnerável à crise. É preciso seguir a receita tradicional: gastos eficientes aliados a uma política monetária mais flexível."
Para a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), a intensificação dos impactos da crise justificou corte mais acentuado, porém, em nota, chamou atenção para a necessidade de medidas complementares na direção do aumento da competitividade das empresas brasileiras. "Para tanto, defende ações em dois sentidos. Em primeiro lugar, o aumento do investimento público, especialmente na área de infraestrutura, o que requer controle dos gastos correntes. Em segundo, é fundamental que se avance na construção de consenso político em torno da aprovação de reformas estruturais, em especial a tributária."
A Fecomércio-SP emitiu nota afirmando que o Copom deveria ter sido mais ousado na decisão de corte da taxa básica de juros. "A redução foi insuficiente. O cenário internacional está pior do que o BC tinha por hipótese meses atrás", disse Abram Szajman, presidente da entidade.
O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou que a redução de juros em 1,5 ponto percentual, ajuda, mas não resolve. "Os responsáveis pela política econômica serão, também, os responsáveis pelo desemprego no Brasil se, a curto prazo, não acontecerem novos cortes na Selic". Para a entidade, a taxa Selic deveria estar entre 7% e 8% o ano.
Fonte: DCI