Congresso aproveita Copa para jogar contra o interesse nacional
Da entrega de áreas do pré-sal aos estrangeiros, passando pela primeira aprovação do chamado Pacote do Veneno, medidas drásticas que afetam a população são tomadas discretamente durante o Mundial
Se a defesa brasileira vem mostrando solidez na Copa da Rússia, com o time de Tite tendo sofrido apenas um gol desde o início do torneio, fora de campo os adversários têm tirado proveito para marcar contra o interesse nacional, no momento em que as atenções se voltam para a busca do hexacampeonato de futebol.
Três dias após a estreia do Brasil, um empate em 1 a 1 contra a Suíça, o primeiro gol contra: por 217 votos a favor e 57 contra, a Câmara dos Deputados aprovou, na noite do dia 20 de junho, projeto de lei que, na prática, possibilita que a Petrobras repasse a empresas petrolíferas estrangeiras a exploração de imensas áreas do pré-sal na Bacia de Santos. Ainda há espaço para reação, quando o projeto for apreciado pelo Senado.
No campo do agronegócio, onde o esquema tático também atende aos interesses das grandes empresas internacionais, o time dos ruralistas entrou em campo na semana seguinte.
Em jogo tenso que se arrastou por mais de nove horas, a bancada ruralista conseguiu aprovar, por 18 votos a favor e 9 contra, o chamado Pacote do Veneno, no último dia 25. O conjunto de medidas revoga a atual Lei dos Agrotóxicos. Se o placar não for revertido, em votação no plenário, o time e a torcida brasileiras podem parar no departamento médico.
Dois dias depois, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou reajuste de até 10% para planos de saúde familiares e individuais, ante a uma inflação anual de 2,71% medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE.
Ainda em meio a esses dois tentos importantes marcados pelos adversários, o jogo do mercado de trabalho segue "no zero", com gosto de derrota para o time dos trabalhadores. A variação do nível do emprego divulgada em junho, com dados do mês anterior, ficou positiva em ínfimos 0,09%. Contudo, pelo menos um décimo das vagas criadas se enquadra na modalidade intermitente, com menor proteção, e os trabalhadores estão sendo contratados com salários menores que os dos demitidos.
Por outro lado, a Justiça, que deveria coibir eventuais abusos dentro de campo, tem manobrado para interferir diretamente no resultado da partida. Enquanto o Brasil ainda comemorava a primeira vitória no Mundial contra a Costa Rica, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin mandou arquivar denúncia envolvendo Michel Temer (MDB) e, de quebra, também enviou ao Plenário pedido de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para evitar vitória que se anunciava caso o recurso fosse julgado pela Segunda Turma.
De honra
O gol de honra em nome do interesse nacional foi marcado na semana passada, com a decisão liminar do ministro do STF, Ricardo Lewandowski, proibindo a privatização de empresas estatais sem o aval do Congresso Nacional. O lance que deu origem ao gol começou com uma ação movida pela Fenae e pela Contraf-CUT, que comemoraram. Contudo, o tema merece atenção, porque ainda depende de decisão definitiva dos juízes do Supremo.
Fonte: Rede Brasil Atual