Censurado por Bolsonaro, jornalista pede demissão ao vivo na Rádio Guaíba
Candidato do PSL impôs como condição falar apenas com o âncora do programa. No final da entrevista, Juremir Machado, que trabalhou dez anos na rádio do grupo Record, denunciou censura e se retirou
O candidato de extrema direita, Jair Bolsonaro (PSL), faz mais uma vítima no jornalismo. Desta vez, não foi a violência física praticada por seus seguidores, que gritam seu nome enquanto agridem com socos e até pedaços de pau, que atingiu um jornalista, foi a censura classificada pelo profissional como ‘humilhante’.
Na manhã desta terça-feira (23), após ser impedido de fazer perguntas ao presidenciável do PSL, o jornalista Juremir Machado da Silva pediu demissão ao vivo da Rádio Guiba, emissora do Rio Grande do Sul que pertence ao grupo Record, do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), durante o programa ‘Bom Dia’, ancorado por Rogério Mendelski.
Depois da entrevista com Bolsonaro, assistida no estúdio por Jurandir e mais dois jornalistas – Voltaire Porto e Jurandir Soares - que ficaram em silêncio, Mendelski explicou:
“O silêncio de vocês foi uma condição do candidato”
O constrangimento no estúdio foi nítido, mas só Juremir reagiu.
“Posso dizer que fui censurado?”, perguntou.
Rapidamente, Mendelski respondeu: “Claro que não...foi uma exigência do Bolsonaro. Normal”.
Juremir se levantou, denunciou a censura e se demitiu ao vivo no programa que também é transmitido em vídeo pela internet. Confira no vídeo no final do texto, a partir de 2h50min.
"Eu achei humilhante e, por isso, estou saindo do programa. Foi um prazer trabalhar aqui por 10 anos", afirmou Juremir, deixando o estúdio em seguida.
Questionado por Mendelski, Porto fugiu da polêmica, alegando que "precisa trabalhar".
O âncora, que contou ter pedido desculpas fora do ar aos três jornalistas que ficaram de fora da entrevista, afirmou que Juremir é "adulto o suficiente" para decidir sobre suas ações. "Lamentamos a saída dele, obviamente."
Censura viraliza nas redes
Assim que o caso foi divulgado, a censura a Juremir passou a ser um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Ao meio dia o nome do jornalista já estava em 4º lugar entre os temas mais comentados do Twitter no Brasil e o 7º no ranking mundial.
A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT), repercutiu o caso no Twitter. "Juremir, da Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul, pede demissão ao vivo após ter sido censurado. Somente o âncora do programa foi autorizado a perguntar ao candidato fake news deputado Bolsonaro. Juremir trabalhava há 10 anos na rádio".
O jornalista Bob Fernandes lembrou que Bolsonaro se recusa a debater e quando dá entrevista veta jornalistas.
O deputado Paulo Teixeira (PT) lembra que, enquanto o candidato do PT, Fernando Haddad atende todos os jornalistas, Bolsonaro só fala com aliados.
Já Guilherme Boulos (PSOL) foi solidário ao jornalista a quem parabenizou pela honradez e alertou: a ditadura começa assim.
Fonte: CUT Nacional