Carros E Aviões: Brasil Deve Tirar Proveito Da Crise

Lá fora, tempestade. Aqui, no mercado interno, uma certa bonança. O jornalista Joel Leite, da Agência Auto Informe, especialista no assunto, deu os números: em fevereiro, as montadoras instaladas no Brasil voltaram a atingir a marca de 10 mil carros vendidos por dia, média igual à de setembro de 2008. Ele informou também que, até o fim de março, estão programados os lançamentos de 11 novos modelos pelas montadoras brasileiras. O artigo é de Rodrigo Vianna.

Rodrigo Vianna

Do blog de Rodrigo Vianna

O mercado de automóveis novos no Brasil já voltou ao patamar de antes da crise. Quem diz é o jornalista Joel Leite, da Agência Auto Informe – especialista no assunto.

Ele foi um dos convidados esta semana do “Entrevista Record – Mundo”, na “Record News”. Fizemos um programa especial sobre a crise mundial nas montadoras: incluindo a ameaça de concordata da GM nos EUA, e o pedido da Toyota para que o governo japonês empreste dinheiro pra alavancar as vendas.

Lá fora, tempestade. Aqui, no mercado interno, uma certa bonança. Joel deu os números: em fevereiro, as montadoras instaladas no Brasil voltaram a atingir a marca de 10 mil carros vendidos por dia, média igual à de setembro de 2008.

Ele informou também que, até o fim de março, estão programados os lançamentos de 11 novos modelos pelas montadoras brasileiras. E que a Mitsubishi confirmou os planos de instalar uma fábrica nova em Goiás.
“Então, que crise é essa”, perguntei. “Pois é, que crise é essa”, devolveu Joel.

O jornalista contou que passou os últimos meses dizendo (em seus boletins na “Rádio Bandeirantes”) que não havia motivo para pânico e que a crise, no caso do Brasil, era provocada mais pelas notícias negativas espalhadas pela mídia. Foi acusado de “otimista” (o Brasil talvez seja o único país em que ser otimista é tido como defeito).

Claro que a redução do IPI – pelo governo federal – teve papel decisivo na recuperação das vendas. Mas, se a situação fosse catastrófica, não haveria IPI que resolvesse.

Nos Estados Unidos, sim, a crise é séria mesmo. As notícias sobre a GM são cada vez piores.

Por isso, perguntei aos outros convidados no programa se a GM aqui no Brasil (que segue saudável) não poderia se desmembrar da matriz (na Suécia, por exemplo, a Saab – subsidiária do grupo – já decidiu se separar).
“Não creio. Eles [lá nos Estados Unidos] não aceitariam. O mercado brasileiro está entre os poucos que podem compensar os prejuízos sérios no resto do mundo. Não vão abrir mão do Brasil. Mas, se houver uma concordata da GM, dependendo dos termos, aí poderia acontecer”, foi a análise de Luiz Carlos Mello – ex-presidente da Ford Brasil e hoje professor da FEI.

Os convidados falaram abertamente sobre a possibilidade de concordata da GM, o que dá a dimensão da encrenca à espera de Barack Obama.

SOLUÇÕES CRIATIVAS
Pergunto agora: se a GM nos EUA quebrar, o Brasil vai deixar os gringos fecharem a fábrica – que segue saudável - aqui no ABC paulista? Ou vamos aproveitar a oportunidade para criar uma montadora brasileira?

A crise é o momento das soluções criativas. Elas não virão de nossa elite privada, que ainda pensa em “fazer a lição de casa”. As boas soluções virão do Estado.

Entre a Primeira Guerra e a Segunda Guerra Mundiais, a economia do Planeta passou por uma crise tão grave como a que vivemos agora. O Brasil aproveitou para lançar as bases de sua moderna indústria – o que faz com que tenhamos agora alguma relevância no cenário mundial.
Naquela época, boa parte de nossa elite ainda acreditava que o Brasil devia seguir sua “natural vocação agrária”.

Vargas não deu bola pra esse povo.

E agora? Lula vai enxergar longe como Vargas?

AVIÕES E EMPREGOS
Querem ver um exemplo? Embraer. A solução privada é botar na rua 4 mil empregados, frente à redução (efetiva) das encomendas. A Justiça (Estado) barrou as demissões. Lula está titubeando. (Maringoni escreveu um bom artigo sobre isso)

Qual a saída?

O brigadeiro Allemander Pereira, que também entrevistei na "Record News", disse que o Brasil precisa investir pesado num mercado regional de aviação: construir pistas, criar rotas e adotar equipamentos de navegação aérea que sejam compatíveis com os jatos da Embraer (feitos, justamente para aviação regional). Quem pode fazer isso? O Estado.

Hoje, a Embraer vende 90% de sua produção (disse-me o brigadeiro) no mercado externo, especialmente Estados Unidos. Aqui no Brasil, há uma demanda reprimida por vôos regionais. Campinas-Anápolis; Tefé-Manaus; Juiz de Fora- Campo Grande. Há muitas rotas. Companhias (brasileiras) deviam ser incentivadas a ocupar esse espaço, comprando jatos da (brasileira) Embraer.

Esta é a hora das soluções nacionais.

O tempo do liberalismo e das fronteiras abertas ficou pra trás. Esqueça o “precisamos fazer a lição de casa” e o “quanto menos Estado melhor”.
Só quem acredita nessa lenga-lenga ainda são os patéticos (e ideológicos) comentaristas de economia na nossa mídia tradicional.

O Estado voltou. O Brasil tem a dupla vantagem de contar com um imenso mercado interno de massas, e com um Estado que (apesar do esforço de FHC) não se rendeu de forma absoluta ao neo-liberalismo.

Pra isso, não adianta ficar discutindo se os juros vão cair um ponto ou dois no COPOM, nem se o PIB vai crescer 2,0% ou 0,5%. É preciso pensar lá na frente.

Temos tudo pra sair dessa crise maiores do que entramos. Espero não ser acusado de otimista, como o Joel.




Fonte: Carta Maior

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