Balança Tem Em Janeiro Seu Primeiro Déficit Desde 2001

SÃO PAULO - A crise financeira mundial já afeta o desempenho do comércio exterior brasileiro de forma contundente. Motivado pela forte desaceleração econômica que gera redução de demanda por produtos, além da baixa do preço das commodities, a balança comercial brasileira registrou um déficit de US$ 518 milhões em janeiro. O resultado é fruto da diferença das exportações que chegaram a US$ 9,788 bilhões (média diária de US$ 466,1 milhões) e as importações que somaram US$ 10,3 bilhões (média diária de US$ 490,8 milhões) no período.

Para se ter uma ideia, janeiro apresenta o primeiro déficit mensal desde março de 2001, quando as exportações somaram US$ 5,173 bilhões e as importações US$ 5,447 bilhões, resultando déficit de US$ 274 milhões.

O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, afirmou que o déficit vai virar superávit a partir de março/abril. Barral informou que o anúncio de medidas para estimular as exportações é "iminente". Segundo ele, o governo quer estimular as exportações com o aumento da competitividade, do crédito para as vendas e com desoneração. Para economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza, o resultado pode ser considerado surpreendente, mas é preciso cautela para tirar conclusões. "Esse dado pode indicar muitas coisas.

Num momento como esse, a reação mais forte da crise gera um impacto nas exportações. Um verdadeiro tranco. Já nas importações não ocorre a mesma coisa, porque tem muitos contratos já concretizados", argumenta. Além disso, Souza salienta que o perfil de nosso comércio é singular, com exportações predominantemente baseadas em commodities e importações de manufaturados. "Muitos itens são usados para fabricação de outros bens aqui no Brasil". Para o economista é prudente aguardar o resultado de fevereiro, que pode apresentar um cenário mais realista. "Se vier negativo já podemos começar a nos preocupar".

Em contrapartida, pelo ponto de vista do escritor e consultor da Aduaneiras, Samir Keedi, o efeito da crise já era esperado nas exportações, no entanto a queda de janeiro não simboliza um cenário tão preocupante. "É sazonal. O ano será difícil, mas eu acho que no final ainda teremos superávit, não muito grande, mas teremos."

Keedi acredita que o desempenho de janeiro pode influenciar um resultado negativo também em fevereiro, mas ainda não há motivos para considerar o resultado uma surpresa. "Fevereiro pode ter um reflexo de janeiro, mas acho que depois do primeiro trimestre a tendência é melhorar. Eu até acreditava que o dólar mais elevado poderia conter as importações, mas no patamar de R$ 2,30 ele ainda não é tão alto", afirma. O especialista afirma que tanto as importações quanto as exportações sofrerão com a crise, isso porque o preço baixo das commodities irá influenciar no resultado. "Normalmente janeiro é um mês fraco, por contar com férias. Mas no máximo teremos um trimestre em déficit, porém o restante do ano devemos fechar com superávit", aposta Keedi.

De acordo com o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Celso Grisi, o cenário de déficit deve significar uma tendência para os próximos meses. Segundo ele, os indicadores macroeconômicos mostram que a crise chegou de fato. "A queda das exportações está em velocidade maior que importações e a redução do preço das commodities explica isso", afirma. Conforme o acadêmico, o governo precisa rever sua política comercial para estimular a exportação de produtos com maior valor agregado, como manufaturados. "Se as commodities mantiverem a tendência de recuperação podemos pensar em déficit menores, se subirem podemos até zerar o déficit. Mas estamos muito dependentes dos preços", conclui. Segundo o ministério, a retração foi puxada pela queda das vendas de automóveis em 56% no mês. Os embarques de autopeças também despencaram, com queda de 50,7%. Os dados mostram ainda uma queda de 39,8% nas vendas de laminados planos; 39,2% de transmissores e receptores.



Fonte: DCI

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