As Duras Batalhas Que Se Aproximam
1. ESTAMOS NOS aproximando do período eleitoral que definirá os rumos do país no espaço institucional, pela eleição de um novo Congresso Nacional, governadores estaduais, assembleias legislativas e a Presidência da República.
No início deste mês, venceu o primeiro prazo de desincompatibilização de cargos públicos para quem vai disputar as eleições. Do governo Lula, saíram onze ministros. E, nos governos estaduais foi uma debandada geral.
De agora em diante, todos os pretendentes a cargos se jogarão de corpo e alma em suas campanhas.
2. No plano da disputa de projetos, parece não haver grandes novidades no front. A sociedade está anestesiada pelo controle absoluto da mídia e pela falta de debate sobre os verdadeiros problemas da sociedade brasileira. Eles são simplesmente ignorados. A pauta da mídia burguesa é a violência nas cidades, acidente de trânsito, grandes júris ou, no máximo, o confronto de declarações, ora entre Lula e FHC, ora entre Dilma e Serra. Os movimentos de massa continuam em refluxo e as organizações de esquerda ainda não saíram da crise ideológica dos últimos anos.
3. Mas, quando tudo parecia uma pasmaceira, eis que a burguesia brasileira, que não dorme de toca, entra em cena. E já está sinalizando sua disposição de ir para a batalha.
As elites dominantes jogam claro: o ideal seria eleger Serra e garantir um governo sem intermediários, totalmente a serviço de uma burguesia subalterna aos interesses do capitalismo internacional. Mas, caso isso não seja possível, querem, pelo menos, transformar a vitória de Dilma numa meia vitória, comprometendo-a a não avançar o sinal e, sobretudo, controlando as organizações sociais para que não cheguem ao reascenso do movimento de massas. E nem avancem em conquistas reais para a classe trabalhadora.
4. Para alcançar esses objetivos, seu principal campo de batalha será a luta ideológica, utilizando-se, basicamente, dos meios de comunicação, sobre os quais possuem controle total, e, subsidiariamente, de setores do poder judiciário, para lhes dar argumentos, cobertura ou pauta.
Assim sendo, realizaram, em março, um importante evento num hotel de luxo de São Paulo, sob os auspícios de um fantasmagórico Instituto Millenium, que reúne a tropa de choque, não só do Brasil, mas de toda a América Latina, encarregada de fazer a luta ideológica. Farão essa batalha em todos os campos e, com isso, tentarão barrar as pequenas mudanças institucionais. Mesmo quando perdem alguma eleição, tentam transformar os governos em reféns de sua política.
Nesse evento, estava a fi na flor do pensamento reacionário e conservador, porém hegemônico na grande imprensa brasileira, como os Arnaldos Jabores, Rosenfi elds, Reinaldos Azevedos e outros aprendizes da escola de Goebels.
As conclusões foram claras: fazer uma luta ideológica para acuar candidaturas progressistas e atacar, sistematicamente, governos progressistas e populares do continente. Além disso, tentar desmoralizar qualquer luta social, seus movimentos, e justificar, perante o Judiciário, a polícia e a sociedade, a necessidade de sua criminalização. Ou seja, repressão.
5. É nesse contexto que se encontra a campanha permanente contra o governo venezuelano de Hugo Chávez, contra o governo de Cuba, contra a jornada de 40 horas e contra qualquer ocupação de terra ou de terrenos na cidade.
6. O governo Lula passou oito anos pregando a conciliação de classes, se iludindo com a possibilidade de apaziguar os ânimos das elites reacionárias. Ledo engano. Virão delas, as principais iniciativas de ataque.
Aos movimentos sociais e às forças populares não cabem ilusões. A luta de classes continuará mais dinâmica do que nunca e a burguesia optou por priorizar a luta no campo ideológico. Afinal, no campo econômico, ela continua ganhando muito dinheiro e, no campo político, continua dividindo parcelas importantes do poder, seja no Executivo, mas sobretudo no Judiciário e no Legislativo.
7. Assim, nos próximos meses, as batalhas ideológicas no campo das ideias e dos projetos e as disputas ao redor de qualquer tema ganharão relevância. E os meios de comunicação terão um papel importantíssimo.
Esperamos que as forças populares entendam esse momento para fortalecer ainda mais as lutas sociais e os veículos de comunicação autônomos da classe trabalhadora.
8. A CUT e a CTB já decidiram – e os movimentos da Via Campesina Brasil se somarão a elas – fazer uma grande jornada de paralisação nacional em todo país, no dia 18 de maio, como forma de pressão pela aprovação do projeto de lei que reduz a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. Será um belo teste para os avanços da luta de classes e a disputa ideológica na sociedade brasileira. Afinal, a “maioria parlamentar”, construída pelo governo a peso de ouro, não foi suficiente para avançar nas questões fundamentais para a classe trabalhadora, como a redução da jornada de trabalho, o projeto que determina a expropriação das fazendas com trabalho escravo e a manutenção do código florestal para proteger nosso meio ambiente.
Serão boas lutas nos próximos meses. Preparem-se e participem!
Fonte: Editorial - Brasil de Fato – edição