Voltei graças ao povo, diz Evo em 1º discurso após retornar à Bolívia
O ex-presidente da Bolívia Evo Morales discursou pela primeira vez nesta segunda-feira (09) após regressar ao seu país de origem. Na cidade de Villazón, milhares de bolivianos receberam o ex-mandatário.
Evo celebrou a vitória eleitoral do novo presidente da Bolívia, Luis Arce, e disse que o esforço da campanha do Movimento ao Socialismo (MAS) "se concretizou". "Eu pensei que meu exílio fosse durar muito tempo, quem sabe toda a vida. Graças ao povo, estamos retornando".
Morales ainda criticou as forças golpistas que forçaram sua renúncia em novembro de 2019 e afirmou que "recuperamos a nossa democracia sem violência, recuperamos a pátria".
"Ano passado, em plena operação de golpe, inventaram uma farsa dizendo que havia fraude. No dia 18 de outubro de 2020, o povo disse que não houve fraude. E a melhor prova foram as eleições desse ano, algo histórico no mundo", disse.
Segundo Morales, enquanto a direita golpista usava bíblias e realizava "provocações", o ex-presidente pediu para que o povo e os movimentos sociais tivessem paciência e "aguardassem". "Nossa paciência valeu e agora recuperamos a nossa democracia", afirmou.
O ex-mandatário ainda afirmou que "o povo organizado em distintos setores sociais, camponeses, petroleiros, operários, seguem fazendo história, enfrentando problemas e agressões".
"Quando o império quer os nossos recursos, eles pegam, nos dominam, nos saqueiam. E nossos movimentos sociais decidiram que nossos recursos são dos bolivianos. Quando a massa participa e o MAS participa, se pode voltar ao governo. O MAS está no governo e o Evo está na Bolívia, e isso é um grande vitória do povo boliviano", disse.
Morales aproveitou para agradecer novamente diversos líderes que o apoiaram durante o exílio, em especial Alberto Fernández, presidente da Argentina, e Manuel López Obrador, do México. "Peço que vocês me ajudem a saudar meu companheiro Alberto Fernández. Os presidentes do México, da Venezuela e de Cuba", declarou.
Ainda em seu discurso, o ex-presidente agradeceu o "esforço e voto" de todos os bolivianos. "Com a nossa experiência e mais força, vamos levantar nossa economia. Que viva Bolívia soberana, que viva nosso processo de mudanças", disse.
Regresso à Bolívia
O ex-presidente Evo Morales retornou nesta segunda-feira à Bolívia após passar um ano exilado na Argentina por conta do golpe de Estado que levou à derrubada de seu governo.
A volta aconteceu em cerimônia realizada na zona fronteiriça entre a cidade argentina de La Quiaca e a boliviana de Villazón. Evo se despediu do presidente argentino Alberto Fernández, a quem agradeceu pela solidariedade e hospitalidade durante o período em que esteve no país.
"Graças ao companheirismo do mundo, irmãs e irmãos, novamente se repete a história, a luta permanente pela vida, pela humanidade, pela paz e pela democracia. E, por isso, fui surpreendido com o companheirismo do povo argentino, e de Alberto Fernández. Muito obrigado irmão Alberto", disse.
Morales afirmou que, durante o tempo em que esteve na Argentina, se sentia como se "estivesse em casa", algo que, segundo ele, nunca irá esquecer. "Indo do México à Argentina, me senti como se estivesse em casa. Não me senti abandonado. Toda força social argentina, autoridades, ex-autoridades, irmãos bolivianos sempre estavam ali. Uma linda história, uma linda lembrança", declarou.
Morales agradeceu também o presidente do México, Manuel López Obrador, pelo apoio ao boliviano quando precisou sair de seu país. O governo mexicano foi o primeiro a receber o ex-mandatário e seu vice, Álvaro García Linera , quando o golpe foi consumado na Bolívia. O ex-vice boliviano também estava exilado na Argentina e cruzou a fronteira nesta segunda.
"Muito obrigado presidentes e ex-presidentes que nos acompanharam. Especialmente a Alberto, que me salvou a vida, e isso eu nunca vou esquecer", afirmou Morales.
O presidente argentino, por sua vez, disse que foi uma honra receber Evo e Álvaro García Linera durante o exílio e celebrou a vitória de Luis Arce e o retorno do MAS ao governo boliviano.
"Do outro lado dessa ponte, há milhares de bolivianos que querem abraçar Evo e Álvaro, porque o povo não erra. Escolheram nas urnas a volta do projeto que Evo representa. Foi um honra ter vocês aqui durante esse tempo", disse.
Fernández ainda afirmou que, nos últimos quatro anos, "a América Latina foi se desintegrando em individualidades" e que Evo representa o sentimento da Pátria Grande, "uma pátria que quer desenvolvimento e justiça não só para alguns, mas para todos". "É muito lindo estar aqui para garantir que o companheiro e irmão Evo volte à sua pátria de onde nunca deveria ter saído e ter sido maltratado como foi", afirmou.
Ainda segundo o presidente argentino, auxiliar os bolivianos que foram ameaçados pelo golpe de Estado de 2019 "é um dever de todos". "Estou muito feliz de poder ter estendido a mão a Evo, a Álvaro e aos companheiros da Bolívia", disse.
O retorno do ex-presidente é acompanhando por uma caravana de cerca de 800 veículos e contará com algumas paradas e diversos atos ao longo do caminho.
O destino final da caravana é a cidade de Chimoré e o trajeto está previsto para durar três dias. O local carrega um peso simbólico pois foi de onde Evo partiu para o exílio após o golpe de Estado de 2019.
Ainda no domingo, Evo se deslocou de Buenos Aires a San Salvador de Jujuy para um encontro com a ativista indígena e líder comunitária Milagro Sala, que está em prisão domiciliar na província de Jujuy.
Na manhã desta segunda, Evo anunciou pelo Twitter o início de sua viagem e disse que "hoje é um dia importante na minha vida, voltar à minha pátria que tanto quero e que me enche de alegria"
Arce empossado, golpe derrotado
A viagem de Evo começa um dia depois do novo presidente da Bolívia, Luis Arce, ser empossado em cerimônia que ocorreu neste domingo em La Paz.
Arce, do partido de Evo, o Movimento ao Socialismo (MAS), venceu as eleições presidenciais na Bolívia no primeiro turno, com mais de 55% dos votos.
A vitória marca o retorno do MAS ao governo e a derrota das forças golpistas que forçaram a renúncia de Morales em 10 de novembro de 2019. Durante um ano, o país foi governado por uma ex-senadora de extrema direita que se autoproclamou presidente e foi respaldada por militares.
Fonte: Opera Mundi