Volks suspende produção e sindicato luta por paralisação total contra Covid
O preparador de carrocerias da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, Diógenes Cordeiro, disse estar aliviado com o anúncio da montadora de suspender a produção por 12 dias a partir da próxima quarta-feira (24) devido ao agravamento da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) em todo o país.
A luta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) junto com outras entidades, pela paralisação total das montadoras para evitar a proliferação da doença, que já conseguiu vitória importante como a suspensão da produção na Volks, também é vista com bons olhos pelo metalúrgico.
Contaminado e em quarentena há 11 dias para cuidar da saúde e evitar contaminar outras pessoas, Diógenes afirmou que estava inseguro de ter que retornar à fábrica no próximo dia 26, quando vence a validade do seu atestado. Ele acredita que pode ter sido contaminado dentro da fábrica.
“Estou fechado no quarto, separado da minha esposa e das minhas três crianças. O ideal seria que tudo parasse até que baixe o contágio, infelizmente além de enfrentar o vírus temos que encarar um presidente desumano e sem noção que só faz piorar as coisas”, completa o metalúrgico se referindo a Jair Bolsonaro (ex-PSL), que sabota as medidas tomadas por governadores para conter a transmissão e mortes, indica medicamentos sem eficácia, reproduz fake news e até agora não criou um comando nacional de combate à Covid-19.
“Com o fechamento da empresa milhares de famílias não precisarão passar pelo que eu e minha família estamos passando. Vai evitar mortes e melhora a qualidade de vida dos trabalhadores. Tenho certeza que vai ser muito bom para todos, nosso sindicato está sempre atento as necessidades dos trabalhadores e sou muito grato e orgulhoso de fazer parte dessa categoria”, finaliza DIógenes.
A decisão da montadora alemã foi tomada em conjunto com os sindicatos locais, onde ficam as plantas da Volks no país, São Bernardo do Campo (SP), São Carlos (SP), Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (SP), em reunião realizada na semana passada entre a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e o SMABC, que reforçou a necessidade urgente de paralisação das fábricas devido ao avanço da pandemia, que só no ABC já matou mais de 5 mil pessoas.
Em nota, a Volkswagen justifica a paralisação da produção com o agravamento do número de casos da pandemia e o aumento da taxa de ocupação dos leitos de UTI nos estados brasileiros com o fim de preservar a saúde de seus empregados e familiares. “Nas fábricas, só serão mantidas atividades essenciais. Os empregados da área administrativa atuarão em trabalho remoto”.
Números da Covid nas fábricas e no país e a luta do sindicato
Para o presidente do SMABC, Wagner Santana, o Wagnão, o índice de contaminação da Covid-19 nas fábricas não são diferentes dos números do restante do país, que se aproxima da trágica marca de 300 mil mortes.
Mesmo com medidas de segurança para proteção da saúde e da vida dos metalúrgicos e das metalúrgicas feitas pelas empresas e reivindicadas pelos sindicatos, quase cinco mil trabalhadores nas montadoras da região do Grande ABC já foram afastados do trabalho devido a doença desde o início da pandemia. Dos cerca 30,5 mil trabalhadores na Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania, Toyota e General Motors, dez morreram, segundo o SMABC.
A maior parte dos trabalhadores contaminados está na Volkswagen, 1.560 ou 18,3% dos cerca 8.500 funcionários. E, desses, cinco morreram. Seguida pela Mercedes-Benz, com 1.447 ou 17% dos também em torno de 8.500 profissionais, sendo quatro vítimas fatais. Na Scania, 761 ou 19% dos aproximadamente 4.000 empregados já foram infectados, e um veio a óbito. Na Toyota, 137 ou 9,1% dos 1.500 colaboradores. Na GM foram cerca de 500 ou 6,25% dos 8.000 colaboradores.
Segundo Wagnão, os números não são só números, são vidas e exige da categoria e de toda sociedade duas opções: Ou vacina todo mundo ou faz paralisação geral para barrar a doença.
“Também por reivindicação nossa, as montadoras estão testando todos e todas na fábrica e o índice de contaminação nas empresas gira em torno de 17% ou 18%. No país todo a média em geral é de 5% porque o governo não testa ninguém”.
O Sindicato continua em contato com as demais montadoras da região, Mercedes-Benz, Toyota e Scania, reivindicando a paralisação das atividades. Na pauta, os Metalúrgicos do ABC defenderam o isolamento social dos trabalhadores e propuseram que o setor privado compre vacinas e auxilie o sistema público de saúde no combate à Covid-19.
A Anfavea informou que acompanha com atenção essa nova fase da pandemia, mantendo reuniões permanentes com sindicatos, autoridades municipais, estaduais e federais. “No que se refere à possibilidade de paralisações espontâneas nas fábricas, a decisão está a cargo de cada montadora, sempre em avaliação da situação sanitária de cada região do País, e em diálogo com os respectivos sindicatos de trabalhadores”, diz trecho do documento.
O coordenador do Sistema Único de Representação (SUR) da Volkswagen Taubaté, Cirineu Júnior, o Juninho, disse que a ação dos sindicatos, junto com a CUT e demais centrais sindicais e outras entidades foi acertada e que salvará vidas.
“Estamos numa situação insustentável e precisamos fazer alguma coisa. Em Taubaté, os casos e mortes só aumentam e a ocupação dos leitos na UTI já estão acima de 90%. Sem vacina, o isolamento social é a única alternativa para salvar vidas neste momento. Vamos continuar lutando para que esta decisão seja multiplicada pelas montadoras para preservamos a vida de cada trabalhador ou trabalhadora”, afirmou.
Vacina para todos e todas
Wagnão também relata que a Anfavea manifestou concordância em relação à reivindicação do Sindicato para que as empresas do setor automotivo adquiram vacinas e insumos para doação aos Sistema Único de Saúde.
Nesta semana, sindicalistas conversaram com o prefeito de Santo André e presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Paulo Serra, e combinaram uma reunião com a Anfavea na semana que vem para acertar os detalhes”, explica o dirigente em matéria publicada no Diário do Grande ABC.
Fonte: CUT Nacional