Volks para pela 5ª vez por falta de semicondutores e dá férias coletivas de 20 dias
A direção da Volkswagen vai dar, mais uma vez, férias coletivas para cerca de 2.500 trabalhadores da unidade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista por falta de semicondutores. Os metalúrgicos ficarão fora da fábrica entre 9 e 28 de maio.
A unidade da montadora no ABC havia voltado a operar em dois turnos em março, após ter tido as atividades reduzidas principalmente pela falta de semicondutores. Em novembro de 2021, a planta Anchieta também foi obrigada a cortar seu ritmo de produção para um turno e colocar cerca de mil colaboradores em lay-off, como é chamada a suspensão temporária de contratos.
Somando todas as paradas, essa é a quinta vez que a empresa é obrigada a dar férias coletivas desde o início da pandemia, quando teve início a escassez dos chips usados na produção dos veículos e outros produtos. O governo de Jair Bolsonaro (PL) mais do que ignorar o problema, determinou a extinção do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), fábrica de semicondutores criada durante o governo do ex-presidente Lula. O Tribunal de Contas da União (TCU), suspendeu a liquidação do Ceitec, porque encontrou fragilidades no processo, mas o governo insistiu e lançou um edital para escolher a empresa para gerir o espólio do centro.
Em março, quase dois anos após o início da crise de demanda de semicondutores, o Ministério da Economia começou a se preocupar com a situação, mas ao invés de reativar o Ceitec, passou a discutir com empresários do setor medidas para estimular a produção nacional dos componentes.
Falta tudo na Volks
O coordenador-geral da representação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) na Volks, José Roberto Nogueira da Silva, o Bigodinho, destaca que além dos semicondutores outros componentes e peças começaram a faltar e afetar a produção na montadora.
"Não foi diferente ao que está acontecendo em outras fábricas do país. Tem demanda de produção, porém com a escassez de peças a fábrica não consegue atender o consumidor final. Estamos na expectativa da retomada o mais breve possível”, afirma.
O diretor lembra que a parada impacta toda a cadeia de fornecimento da montadora, sobretudo, os trabalhadores terceiros na empresa.
“Temos feito um trabalho para proteger os companheiros de fábricas terceiras dentro da Volks, mas outros fornecedores da montadora já pararam ou estão parando. Isso mostra que há uma desestruturação, pois não há nenhuma medida por parte do governo pensando nisso. O governo em nenhum momento está se manifestando sobre as paralisações e o que está acontecendo com os trabalhadores ”, disse.
“A falta de política industrial e a falta de desenvolvimento do país tem causado a desestruturação da cadeia produtiva. Sendo que, hoje, faltam insumos básicos que eram produzidos no Brasil e que não são mais justamente por falta desta discussão da maior localização no País”, prosseguiu.
Bigodinho ressalta que o acordo vigente na montadora, negociado entre Sindicato e a empresa, permite que os trabalhadores passem pela crise dos semicondutores com tranquilidade em relação aos empregos e que as negociações também dão previsibilidade sobre os investimentos na fábrica. "Estamos usando todas as ferramentas de flexibilidade possíveis. Nosso acordo de longo prazo garante que os trabalhadores passem por esses momentos com mais tranquilidade".
O diretor administrativo do Sindicato e trabalhador na Volks, Wellington Messias Damasceno, reforça a falta de uma política industrial como responsável pela escassez de componentes e peças "Essa crise não acontece só no Brasil, mas a falta de políticas públicas voltadas para a indústria e de discussões sobre desenvolvimento, pesquisa e inovação levam a momento como esses em que somos reféns da importação", aponta.
A Volks conta com cerca de 8,2 mil trabalhadores, sendo 4,5 mil na produção. Atualmente a fábrica produz 800 veículos por dia.
Fonte: CUT Nacional com informações do SMABC