Programa do governo esvazia pátios de montadoras, mas falta política estruturante

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Programa do governo esvazia pátios de montadoras, mas falta política estruturante

O programa do governo federal de incentivo às vendas de veículos leves se encerrou no último dia 7 de julho. Segundo dados da Anfavea, foram vendidos cerca de 150 mil veículos com a medida. Dos R$ 800 milhões disponibilizados para vendas de veículos leves, R$ 650 milhões foram utilizados pelas montadoras. Os R$ 150 milhões restantes irão compensar a perda de arrecadação de impostos provocada pelos descontos no preço final, segundo determina a MP que instituiu o programa.

Em coletiva de imprensa na sede do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), o vice-presidente da República e ministro Geraldo Alckmin lembrou a importância da regra de exclusividade de venda para pessoas físicas, aplicada nas primeiras semanas do programa e que durou até os desembolsos atingirem R$ 500 milhões. “Só para pessoas físicas, nos 500 milhões, foram vendidos 95 mil veículos”, comentou. 

Na avaliação do secretário-geral da CNM/CUT, Renato Carlos de Almeida, o Renatinho, o programa serviu para esvaziar os pátios lotados das montadoras, que estão com sérias dificuldades de vendas nos últimos meses, porém não influenciou diretamente em aumento de produção ou de empregos na cadeia produtiva do setor automotivo. 

Renatinho participou de um encontro entre técnicos do Dieese e sindicalistas metalúrgicos de várias regiões do país, ligados às montadoras e autopeças, para fazer um balanço inicial dos impactos das medidas do governo nestes locais. A avaliação geral é de que as medidas do governo pouco influenciaram o momento difícil do setor, em que várias montadoras estão paralisando suas produções no país, usando ferramentas como o layoff e férias coletivas, para adequar o funcionamento das fábricas à falta de vendas no mercado. 

“É preciso criar uma política estruturante para o setor automotivo, para enfrentar essas dificuldades atuais e também preparar o setor para o futuro, visualizando a eficiência energética, eletrificação, desenvolvimento da cadeia produtiva, transição justa, entre outros pontos”, afirmou o dirigente. 

Sem contrapartidas sociais

O secretário-geral da CNM/CUT insistiu que o governo falhou ao não colocar contrapartidas sociais no programa da vendas de veículos, medidas que obrigariam as montadoras a preservar empregos e direitos dos trabalhadores e que evitariam a repetição de cenários como o da Ford que, mesmo recebendo incentivos fiscais para produção no passado, fechou suas fábricas no país e deixou milhares de trabalhadores sem emprego. “Agora não tivemos perda de empregos no setor mesmo sem a exigência de contrapartidas no programa do governo, o que é um alívio para os trabalhadores. Mas é importante que, numa próxima vez em que esse tipo de medida seja adotado, o emprego e os direitos dos trabalhadores sejam protegidos, até porque é uma renúncia fiscal muito grande por parte do governo às montadoras”, opinou.

As contrapartidas sociais também evitariam um problema enfrentado pela indústria de autopeças, a perda de empregos no setor para fábricas estrangeiras. A batalha das autopeças é para que, em programas de incentivo fiscal, o governo exija um mínimo de produção local visando preservar os postos de trabalho, evitando o risco de o Brasil virar apenas um carimbador de produtos estrangeiros.

 

Fonte: CNM/CUT

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