Pressão faz Banco Central diminuir juros, mas batalha ainda não terminou
A pressão da sociedade deu resultados, mas ainda é preciso mais. Depois de meses mantendo os juros em valores elevados, nesta quarta-feira (2) o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou a redução da taxa básica de juros (Selic) em meio ponto percentual, passando de 13,75% para 13,25%. É a primeira redução em três anos. Nos últimos meses, diversos setores da sociedade pressionaram o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, para a redução da taxa Selic, sob o risco de prejudicar seriamente a economia brasileira.
A CNM/CUT fez sua parte nesta batalha, primeiro aprovando resolução no 11º Congresso da entidade, em maio, pedindo o impeachment de Campos Neto e a imediata queda dos juros, e depois mobilizando sua base pelo país para deixar o recado que os metalúrgicos cutistas não aceitariam que a economia, principalmente a indústria, fosse boicotada pela política nociva de juros altos do BC, o maior juro real do planeta.
“A queda anunciada é um sinal da pressão que nós estamos fazendo, que a sociedade está fazendo, que os trabalhadores estão fazendo, que o setor industrial está fazendo, mas nós precisamos aumentar essa pressão porque do jeito que está hoje os juros ainda continuam prejudicando o desenvolvimento do país”, alertou o presidente da CNM/CUT, Loricardo de Oliveira. “Considero a decisão do Banco Central um paliativo insignificante diante de três anos sem uma redução”, avaliou o dirigente.
Um dia antes do início da reunião do Copom, que começou na terça-feira (1), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com representantes de bancos, o que foi traduzido no meio político como uma “pressão silenciosa” sobre a entidade no sentido de reduzir a Selic.
As centrais sindicais e movimentos populares também reforçaram as manifestações contra os juros altos, com ações nas redes sociais, no final de semana que antecedeu este último encontro do Comitê de Política Monetária, e protestos em frente às sedes do Banco Central, nas principais capitais do país. Diversos sindicatos e federações filiadas à CNM/CUT realizaram atos pelo país nos dias 1 e 2 de agosto, somando-se a pressão da classe trabalhadora.
O presidente da CNM/CUT fez um balanço dos atos dos metalúrgicos contra a alta de juros.
“Foram atividades em muitos locais, e nas conversas dentro das empresas os trabalhadores mostraram que estão entendendo a importância que tem a redução da taxa de juros, até porque eles sentem isso na hora de pagar o aluguel, na hora de fazer um contrato para comprar a sua casa própria, na hora de comprar um eletrodoméstico, na hora de comprar um celular, na hora de comprar um automóvel. Eles sabem que a longo prazo eles pagam em vez de uma peça ou produto, eles pagam duas ou três peças conforme o longo prazo do juros cobrado, e quem ganha nisso é o sistema financeiro, não ganha o Brasil”, disse Loricardo.
Manifestações continuam
A Jornada de mobilização contra a política monetária do BC e as ações #JurosBaixosJá continuam, mesmo após a decisão do Copom desta quarta-feira. Com a Selic em 13,25%, o Brasil segue com o maior nível de juro real (taxa Selic descontada a inflação) do mundo, em torno de 8%.
O economista Ladislau Dowbor, professor da PUC São Paulo, calcula que uma taxa razoável para a Selic seria de 5% a 6%, menos da metade da atual, o que daria em termos de juros reais 1,5% de lucro, já descontada a inflação, como é praticada em países da Europa e os Estados Unidos.
Já o economista Marcelo Manzano, professor da Unicamp, avalia que um patamar razoável, de juro real no Brasil, seria entre 3% e 5%.
“Os países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], que reúne 38 países de economias mais avançadas, trabalham com juros mais baixos, mas infelizmente temos uma moeda menos valorizada, e isso obriga o país a trabalhar com um juros maior. Se baixar demais pode ocorrer a fuga de capital financeiro, pois seria mais confortável para os investidores manterem o dinheiro no exterior. Ainda assim, a atual taxa praticada pelo BC é desproporcional”, explicou em entrevista ao site da CUT.
Continua inaceitável
Em nota sobre a decisão do Copom, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), avaliou como insuficiente a redução da Selic, “mantida em patamares superiores a 13% desde agosto de 2022”.
“As medidas adotadas pelo governo do presidente Lula reduziram a inflação, valorizaram o real, aumentaram a produção interna e reduziram o desemprego para 8%, o menor percentual dos últimos oito anos. Além disso, o governo aprovou o novo arcabouço fiscal e a primeira fase da reforma tributária na Câmara dos Deputados. Neste contexto, é injustificável manter a taxa Selic em patamares superiores a 13%”, observou a entidade.
Fonte: CNM/CUT com informações da CUT Nacional