Oficina da CUT-RS no FST aponta que consumir produtos orgânicos é combater o capitalismo

A oficina “Impactos dos agrotóxicos na nossa vida”, a segunda promovida da CUT-RS no Fórum Social Temático (FST), na manhã desta quinta-feira, 21, no auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, debateu a importância da alimentação saudável. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil é o maior consumidor de produtos agrotóxicos no mundo.

“Discutir esse assunto vai muito além da questão da alimentação, é um debate sobre a nossa qualidade de vida”, afirmou a agricultora familiar e secretária de Políticas Sociais da CUT-RS, Cleonice Back, na abertura da atividade. Ela foi a mediadora do debate junto com o secretário de Meio Ambiente da CUT-RS, Paulo Farias.

O professor e biólogo Francisco Milanez enfatizou no começo de sua manifestação “que o uso dos agrotóxicos não está ligado com matar a fome das pessoas, mas com o lucro”. Segundo ele, a estimativa é de que cada gaúcho consome cerca de 20 quilos de veneno por ano. O Glifosato, o agrotóxico mais usado no planeta, está relacionado com cerca de 35 doenças.

Indústria farmacêutica também ganha com os agrotóxicos

“Atualmente vivemos uma intoxicação crônica nas crianças com hiperatividade e dificuldade de concentração. Muitas escolas estão atuando neste sentido com merendas saudáveis, alimentando seus alunos com produtos orgânicos e revertendo os sintomas”, contou.

O aumento dos casos de câncer em pessoas cada vez mais jovens e dos males de Parkinson e Alzheimer são algumas das doenças que tem ligação com o uso de transgênicos. “Essa é a lógica do capitalismo, manter o maior número de pessoas doentes por mais tempo”, finalizou Milanez.

Em seguida, o presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Estado (Consea/RS), Edni Schroeder, destacou o trabalho da representação em incentivar a produção agroecológica. “É um trabalho de conscientização das pessoas”, definiu ao criticar a falta de uma visão global do ser humano.

“Deve ter inúmeras atividades aqui no FST debatendo temas complementares entre si e essa divisão, típica do capitalismo, dificulta muito o processo de conscientização”, declarou.

Edni expôs que o Consea tem ações de combate ao uso do agrotóxico e defendeu a necessidade de se discutir políticas públicas de segurança alimentar. “Nosso confronto é contra todos que pensam alimento como mercadoria e não reconhecem a alimentação como um direito humano.”

Parcerias valorizam o produto agroecológico e incentivam a alimentação saudável

O Grupo Hospitalar Conceição foi a primeira instituição de saúde do Brasil a aderir ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A instituição fornece mais de 270 mil refeições por mês para funcionários, pacientes e seus acompanhantes, todos produtos da agricultura familiar e das comunidades quilombolas.

O coordenador das cooperativas das comunidades quilombolas, Antônio Leonel, relatou que a parceria com o GHC tem um aspecto político, econômico e de empoderamento dessas comunidades muito importante.

“Isso incentiva o povo quilombola a produzir, a buscar uma qualificação, já temos jovens que falam que desejam ser agricultores. E para a gente, isso é muito gratificante. Na outra ponta, essa parceria proporciona uma visibilidade para o povo dos quilombos, historicamente esquecidos”, sublinhou.

A diretora superintendente do GHC, Sandra Fagundes, contou que foi um árduo processo de convencimento para que os hospitais do GHC adquirissem os alimentos das cooperativas. “Há anos atrás, falávamos de alimentação saudável, orgânica, e éramos vistos como doidos. Hoje, com um nível de consciência maior, com parcerias como essa do GHC e das cooperativas, percebemos o quanto vale a pena”, avaliou Sandra.

Ela também destacou que não foi apenas alimentação dos profissionais e pacientes que mudou, mas toda a cultura dos hospitais. “Temos até feira de produtos orgânicos para os nossos trabalhadores e não há nada mais gratificante quando um paciente tem alta e diz que está levando na mala uma alimentação saudável.”

Combate aos agrotóxicos

Por fim, o secretário nacional da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Onaur Ruano, abordou as ações do governo de incentivo a produção de alimentos agroecológicos e do combate à transgenia.

Desde 2012, com o lançamento da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, o governo brasileiro assumiu o compromisso com a ampliação e efetivação de ações que promovam o desenvolvimento rural sustentável, impulsionado pelas crescentes preocupações das organizações sociais do campo e da floresta, e da sociedade em geral, a respeito da necessidade de se produzir alimentos saudáveis conservando os recursos naturais.

Outro destaque apontado por ele foi o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), criado em 1995, com o objetivo de atender de forma diferenciada os mini e pequenos produtores rurais.

“Com as diretrizes desses programas avançamos muito na produção e na qualidade do alimento produzido no Brasil e estamos conseguindo diminuir o uso de agrotóxico. Isso também contribuiu para criarmos primeira Zona Livre de Transgênicos do Brasil, localizada em Planaltina de Goiás.”

Ele divulgou, ainda que o governo vai lançar no próximo plano safra o Programa Nacional para Redução do Uso de Agrotóxicos (Pronara).

O FST vai até sábado, 23. 

 

Fonte: CUT-RS

 

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