Na Marcha das Margaridas, Lula diz não admitir retrocesso

 

Às 20h05 dessa terça-feira (11), o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva foi anunciado no estádio Mané Garrincha, em Brasília, durante a cerimônia de abertura oficial da 5ª Marcha das Margaridas. Foi o suficiente para incendiar o lugar.

Com prestígio de atacante que entra no time para resolver, Lula levantou a torcida ao apontar a importância da luta das Margaridas para o desenvolvimento do país, ao comparar seu legado com o dos antecessores, e pediu paciência com o governo de Dilma Rousseff. Ainda saiu de campo com uma frase que deixou no ar a possibilidade de voltar aos gramados: “Quem chegou onde a gente chegou, não pode retroceder. Quero dizer que estou preparando meu caminho para voltar a viajar pelo meu país. Quero ver se nossos adversários estão dispostos a andar por este país e discutir este país como ele precisa ser discutido".

Como quem conhece bem o terreno onde pisa, o ex-presidente iniciou sua intervenção perguntando quantos trabalhadores ali tinham vindo do Norte e Nordeste. Diante da resposta efusiva, especialmente dos nordestinos, emendou de primeira uma declaração em alusão ao candidato do PSDB derrotado: “Nas eleições passadas, um certo cidadão disse que a Dilma só ganhou por causa do voto dos ignorantes do Nordeste. Se tivesse mais paciência e sabedoria, saberia que parte da comida dos brasileiros é produzida por essas mulheres que fazem 70% dos alimentos desse país”.

Na sequência, Lula tratou do que chamou de divisão no Brasil entre os que tinham acesso a universidades, ao crédito, à terra, comida na mesa e aqueles a quem esses direitos eram negados. Na mesma linha, lembrou das dificuldades da população em viajar por conta dos preços das passagens, ressaltou o direito à carteira assinada, conquista já do período Dilma, e ressaltou a ampliação do crédito para os agricultores.

Crédito para o campo
“Quando eu assumi, o país dependia do FMI (Fundo Monetário Internacional), não tinha dinheiro para pagar importados e a agricultura familiar tinha R$ 2 bilhões de crédito. E esse ano, a Dilma anunciou R$ 28 bilhões”, disse.

Referindo-se ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, também presente, ele lembrou que, durante o anúncio do último Plano Safra, a presidenta comprometeu-se a promover o assentamento de todas as famílias que aguardam um pedaço de terra para produzir. “Ela disse que não quer até o final de seu mandato que nenhuma família acampada embaixo da lona continue lá.”

Ainda sobre Dilma, Lula falou que as dificuldades atuais não são culpa da presidenta, mas de uma crise que não foi criada pelos trabalhadores brasileiros e sim pelos bancos internacionais. Com uma metáfora sobre a produção na terra, mais uma vez voltou a pedir paciência e ajuda para construir um país melhor.

Ao final, o ex-presidente criticou o projeto de lei que tramita no Congresso Nacional de redução da maioridade penal, por avaliar que o Estado não pode promover essa mudança antes de cumprir com a obrigação de oferecer educação de qualidade, e lembrou que quanto maiores são as conquistas do movimento sindical, mais desafios têm o governo. “Quem aprendeu a comer filé, não quer voltar a comer bucho.”

15 anos de lutas
Antes do ex-presidente, ministros, parlamentares e lideranças sindicais falaram das lutas e conquistas dos 15 anos de Marcha das Margaridas. A vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, ressaltou a disposição de ocupar as ruas para impedir para enfrentar o golpe.

“Não permitiremos que golpistas e fascistas ocupem os meios de comunicação. Meios, aliás, de uma imprensa partidarizada, que tenta transformar as questões do país como se vivêssemos o maior caos da história. Maior caos da história vivemos nos anos 1990 e 2000, quando nem fomos recebidos pelo Fernando Henrique Cardoso (PSDB)”, lembrou, em alusão à primeira edição a Marcha.

Carmen aproveitou para explicar porque a defesa da democracia é um dos eixos da mobilização: “Sem democracia não há direitos, não há enfrentamento ao machismo e todos tentam calar nossa voz”.

Quem também lembrou da primeira edição da mobilização, para compará-la com a mais recente, foi a secretária de Trabalhadoras Rurais da Contag, Alessandra Lunas. “Em 2000, tivemos coragem de ir às ruas enfrentar o governo neoliberal, lutar contra a fome. Em 2011, voltamos para celebrar a eleição da primeira mulher presidente, mas também para dizer à Dilma o que esperávamos dela”, explicou, lembrando uma das conquista, a titulação conjunta das terras, que hoje corresponde a 70% das posses.

Alessandra defendeu que, por seu tamanho e abrangência, a Marcha tem o papel de dialogar com a sociedade sobre temas como o ataque do Legislativo à democracia, por meio de medidas como a restrição do debate sobre relações de gênero na escola e o projeto de lei que pretende criminalizar manifestações dos movimentos sociais – a chamada lei antiterrorismo.

Sem nunca deixar de lado a defesa da agricultura familiar, apontou: “O campo também está em disputa pelas multinacionais, que querem continuar concentrando terra. Por isso a marcha grita por reforma agrária sempre.”

Fonte: Luiz Carvalho - CUT Nacional

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