Milhares de mulheres protestam contra fascismo e Bolsonaro no Parque da Redenção
Mulheres de todas as idades, pessoas LGBTs, integrantes de movimentos sociais, partidos de esquerda e centro-esquerda e apoiadores da causa em geral se reuniram na tarde deste sábado (29) no Parque da Redenção, em Porto Alegre, no protesto #EleNão. Iniciado nas redes sociais por grupos de mulheres, o movimento tomou as ruas das principais cidades do Brasil e do mundo contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL), conhecido por suas declarações de cunho machista e homofóbico.
Segundo a organização do evento, o número de participantes chegou a 40 mil pessoas na capital gaúcha. No ato, os manifestantes diziam não ao “retrocesso, fascismo, violência, racismo, machismo, xenofobia e LGBTfobia”, palavras que constavam em uma grande faixa pendurada no caminhão de som. Ao longo da tarde, sob calor de mais de 30 graus, militantes e políticos revezaram suas falas com as apresentações musicais de diversas bandas, entre elas Francisco, el hombre, Nei Lisboa, As Batucas, Negra Jaque e La Digna Rabia.
Marcaram presença, além de movimentos feministas, coletivos e militantes ligados aos movimentos negro, LGBT, indígena, estudantil e de juventude. Havia, ainda, mães e pais levando seus filhos crianças ou bebês. A maior parte dos presentes eram pessoas que, sem participar de nenhum coletivo específico, foram acompanhadas de amigos e familiares para dizer “ele não”.
Era o caso de Lígia Terezinha Broca, de 63 anos, que estava com suas filhas e amigas no ato. “Nos últimos anos, eu tenho me sentido cada vez mais comprometida em não me calar. A minha geração engoliu muita coisa em relação às mulheres, então, agora, eu me sinto no dever de estar junto, de dizer que a gente não trata assim nenhum ser humano”, afirmou, referindo-se a falas ofensivas proferidas por Bolsonaro ao longo de sua trajetória.
Os manifestantes entoavam em diversos momentos “ele não! Ele não!”, além de algumas músicas com letras adaptadas para manifestarem repúdio ao candidato. “Ô Bolsonaro, fica ligado / Mulher na rua e você vai dar tchau, tchau, tchau / Não tem mais jeito / tá organizado / o feminismo é nacional” era uma delas, assim como a letra presente em diversos protestos de mulheres “Se cuida / se cuida / se cuida, seu machista / a América Latina vai ser toda feminista”.
A professora Carmem Geci Machado Barros Xavier, de 56 anos, marcou presença no ato destacando o caráter discriminatório de Bolsonaro contra mulheres e negros. “Eu decidi vir hoje porque acredito que seja um ato político, cívico e me sinto na obrigação como mulher negra. É um dia marcante, que vai ficar na história. E para fazer frente, Bolsonaro jamais”, afirmou.
Os manifestantes circulavam pelo parque com adesivos, camisetas, bottons, bandeiras e cartazes. Barraquinhas de partidos políticos e de candidatos distribuíam os adesivos. Dentre os cartazes, diversos referiam-se às falas preconceituosas de Bolsonaro. “Unir as forças para barrar o retrocesso”, “As mulheres derrotarão Bolsonaro”, “Mulheres em marcha por democracia, igualdade e liberdade” eram algumas das frases escritas pelos manifestantes.
Para o militante LGBT Leopoldo Munhoz, de 28 anos, “a gente não pode deixar uma pessoa como ele ser nosso representante”. “Não posso aceitar que esteja no cargo mais alto do país uma pessoa preconceituosa, que é contra tudo o que eu venho batalhando nos últimos anos, desde que eu comecei a lutar por quem eu sou e para ser aceito. Não tem como depois, de tanta luta, a gente deixar uma pessoa que é totalmente machista, racista e homofóbica ser o nosso representante”, afirmou.
Dentre as declarações mais emblemáticas de Bolsonaro estão falas como a de que seria “incapaz de amar um filho homossexual”. Em 2011, ele disse: “prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele, vai ter morrido mesmo”, em uma referência à homossexualidade. A deputada federal Maria do Rosário (PT), que já processou o candidato do PSL por suas falas machistas, também esteve presente no ato. Em 2014, Bolsonaro disse à colega de Câmara que não a estupraria porque ela era “muito feia”.
O ato se espalhou pelo Parque da Redenção ao longo da tarde, com manifestantes buscando lugares com sombra e confraternizando, em clima tranquilo. Após tocarem no carro de som, As Batucas também batucaram em um dos cantos do parque, onde pessoas se reuniram para dançar.
Por volta das 18h, os manifestantes saíram em caminhada iniciada pela rua José Bonifácio e seguindo pelas avenidas João Pessoa e Loureiro da Silva.
Fonte: Sul 21