Lanche com larvas é entregue a trabalhadores da AGCO em Canoas
No final da tarde de quarta-feira (22), inúmeros vídeos com imagens de lanches estragados, inclusive com larvas, foram enviados aos diretores do Sindicato dos Metalúrgicos. As denúncias partiram de trabalhadores e trabalhadoras que estavam realizando “serão” na AGCO de Canoas/RS e haviam recebido o alimento após horas de trabalho exaustivo.
Segundo informações passadas pela empresa aos diretores do Sindicato, o lanche servido aos trabalhadores foi adquirido em uma padaria externa, ou seja, um alimento quarteirizado, visto que a empresa responsável pela alimentação dentro da fábrica é uma terceirizada.
Frente o ocorrido, o Sindicato imediatamente convocou uma assembleia para a manhã desta quinta-feira (23), momento em que enfatizou as denúncias recebidas e aprofundou as discussões sobre o descaso da AGCO com a alimentação dos trabalhadores.
Segundo o vice-presidente Silvio Bica, a insatisfação com o refeitório não é de hoje, mas o ocorrido com os lanches do serão foi “a gota d’água”. “Se trata de uma situação gravíssima, de um descaso com a alimentação dos trabalhadores”. Ele destacou também a responsabilidade da empresa nesta situação, ainda que o refeitório seja gerido por uma terceirizada.
“Os gestores da empresa, que são as pessoas com autonomia para resolver esta situação, não fazem. E não fazem porque raramente se alimentam no refeitório”, destacou Bica.
A terceirizada responsável pelo refeitório assumiu no ano passado, após 18 anos de atuação de uma outra empresa que também era alvo de reclamações sobre a qualidade da alimentação servida. De acordo com o relato de muitos trabalhadores, é oferecido muito alimento embutido e, geralmente, o que sai “mais em conta”. Carne de gado, por exemplo, raramente está no cardápio.
“Agora a nossa luta é fazer com que a empresa faça a rescisão do contrato com essa terceirizada e, de uma vez por todas, providencie uma alimentação adequada aos trabalhadores”, finalizou Bica.
AGCO enrola os trabalhadores
Na mesma assembleia, os diretores aproveitaram o momento para falar de outros problemas persistentes na empresa. A negativa de emissão da CAT (Comunicado de Acidente do Trabalho) por parte dos médicos da empresa, os riscos de acidentes de trabalho em alguns setores com goteiras e o desrespeito ao direito à folga após 7 dias corridos de trabalho foram alguns pontos levantados.
Todos eles, como lembrou Silvio Bica, já foram apontados para a empresa sem que a mesma providencie soluções. “Muitos trabalhadores aqui fizeram perícia sem a CAT, porque o médico da empresa negou, e em razão disso não tiveram como comprovar o nexo da doença com a atividade que exerce na empresa. Por isso, a orientação é que vocês nunca agendem a perícia sem a CAT, e se preciso for, busquem auxílio junto ao Sindicato”.
André Batistello, também diretor do Sindicato, falou sobre as condições críticas de alguns ambientes de trabalho, principalmente no prédio 2 da empresa. Segundo ele, o trabalho é exercido em meio a goteiras e infiltrações, gerando grandes chances de acidentes.
CIPA e Sindicato devem agir juntos
Tanto a situação da alimentação, quanto os demais problemas relatados em frente à fábrica, devem ser enfrentados com o trabalho conjunto da CIPA e do Sindicato. Conforme lembrou o presidente Paulo Chitolina, os cipeiros tem um papel estratégico no local de trabalho, com o poder de interditar ambientes e cobrar adequações.
“Não pode o companheiro perder o repouso remunerado porque está estragado o relógio e ele não conseguiu bater o cartão. Não pode ter vestiário com goteiras, onde parece que chove mais dentro do que na rua. Por isso nós temos que cobrar da CIPA, que não pode só mandar áudio pro Sindicato. Tem que interditar”.
Condições precárias de trabalho, e até análogas à escravidão, tem tomado cada vez mais espaço nos noticiários, como lembrou o tesoureiro Flavio Souza ao falar sobre os trabalhadores resgatados nas vinícolas da Serra Gaúcha. “Vocês devem ter acompanhado o caso dos trabalhadores em Bento Gonçalves e podem perceber que é cada vez mais comum encontrar gente trabalhando nessas condições. Por isso, é importante que hoje vocês tenham consciência de que o que aconteceu na AGCO é um fato muito grave”.
Em uma relação com a greve dos terceirizados da REFAP, ocorrida no final de janeiro, Chitolina lembrou que a motivação da paralisação foi muito semelhante à vivida atualmente na AGCO. “Os paradeiros da REFAP ficaram 11 dias parados, a partir de uma organização própria, por conta do rebaixamento das condições para o trabalho. E parece que aqui vocês também vão ter que começar a se movimentar, se indignar com o que está acontecendo, pra gente conseguir avançar em soluções”.
Fonte: STIMMMEC