Encontro de mulheres metalúrgicas do RS reuniu dezenas de trabalhadoras em Cidreira
No último final de semana, aconteceu o segundo Encontro Estadual de Mulheres Metalúrgicas da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Rio Grande do Sul (FTM-RS), na Colônia de Férias do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre (STIMEPA), em Cidreira.
O Encontro foi conduzido por Eliane Morfan, vice-presidenta da FTM-RS, juntamente com as diretoras do STIMEPA, Taise Almeida e Joyce Gomes, com a assessoria de Lurdes Santin, militante do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) e educadora popular.
A atividade reuniu cerca de 70 mulheres representando mais de sete entidades sindicais e foi realizada para fortalecer a atuação das diretoras dos sindicatos, reforçando o debate e conscientização sobre o capitalismo e machismo presentes em todos os aspectos da vida das metalúrgicas.
Convidado para fazer a fala de abertura, o presidente do STIMEPA, Adriano Filippetto, deu boas vindas ás trabalhadoras e destacou a importância da organização das mulheres para combater o machismo que sofrem diariamente dentro da própria categoria metalúrgica. Filippetto também falou da esperança de que uma mulher presida o Sindicato no futuro.
Uma dinâmica de acolhimento envolvendo música e interação entre as participantes marcou o início das atividades. Em seguida, Lurdes trouxe dados sobre o impacto do machismo e patriarcado no dia a dia das trabalhadoras, instigando a reflexão entre as metalúrgicas, que se reuniram para compartilhar suas experiências com o grupo.
Confira abaixo os dados apresentados na atividade:
Reflexão de Gênero
- As relações de gênero são produto de um *processo pedagógico que se inicia no nascimento e continua ao longo de toda a vida, reforçando a desigualdade existente entre homens e mulheres, principalmente em torno a quatro eixos: a sexualidade, a reprodução social da vida, a divisão sexual do trabalho e o âmbito público/cidadania.
Maternidade
- A maternidade é um dos motivos de preconceitos baseado em gênero. O mercado profissional brasileiro ainda trata mulheres com inferioridade, pagando salários mais baixos, preterindo mulheres na hora da contratação ou de uma promoção, ou ainda vendo com negatividade o direito da licença maternidade.
- A Fundação Getúlio Vargas (FGV) realizou um estudo com 247.455 mulheres que estiveram de licença-maternidade entre os anos 2009 e 2012, e acompanhou o percurso profissional de cada uma até o ano de 2016. O estudo concluiu que metade das participantes da pesquisa foi demitida até dois anos após o término da licença.
Política
- Tendo em conta o cenário mundial, a política brasileira ainda é cenário patriarcal. Apesar da população feminina ser maioria no país, na política ainda tem uma baixa representação.
Mercado de trabalho
- Apesar de o índice de escolaridade da população feminina ser mais alta, as mulheres enfrentam um cenário desfavorável na busca por um emprego e na atribuição de seus salários.
- Uma pesquisa do IBGE realizada em 2019, mostrou que apenas 37,4% das mulheres ocupavam cargos de gerência no Brasil. Vale lembrar que além nível de instrução feminino ser mais elevado, as mulheres também são a maioria no país.
Trabalho doméstico não remunerado revela face invisível da desigualdade
- No Brasil, não há uma face menos dura do trabalho doméstico. Dentro dos próprios lares, as mulheres dedicam, em média, 10,4 horas a mais por semana do que os homens nas tarefas de casa.
Assédio e violência
- O assédio, infelizmente, fez ou faz parte da realidade da maioria das mulheres brasileiras. Seja por comentários desrespeitosos na rua ou dentro dos transportes públicos ou no chão de fábrica.
- Violência Física, Psicológica, Moral, Sexual e Patrimonial – prevista na Lei Maria da Penha
Dados da violência de Gênero: LGBTfobia
- Embora a LGBTfobia seja crime, a violência contra pessoas LGBTQIA+ continua crescendo.
- Casos de homofobia disparam no Brasil em 2022; confira os dados
- Apenas entre 2020 e 2021, as denúncias de homofobia cresceram 150%
Feminismo Popular
- Classista, antirracista, antipatriarcal e antihomofóbico, anticapitalista. Busca a superação da divisão sexual do trabalho e da opressão de gênero, condição para a efetiva emancipação humana.
- O Feminismo Popular pauta a tomada do poder e se vincula as lutas concretas do povo e das mulheres.
- Se articula com as questões de igualdade de gênero, etnia e orientação sexual.
- O conteúdo da organização do Feminismo Popular são todas as demandas da vida cotidiana das mulheres que passam pelas lutas estruturais e de conjuntura: todas as formas de violência e discriminação, legalização do aborto, trabalho doméstico dividido e remunerado, creches, saúde, soberania alimentar, moradia...
- Nosso Feminismo não pode ignorar que no Brasil 34,5% da população urbana vive em locais precários, sendo a maioria de Mulheres e Negras que estão a frente desses lares;
- Nosso Feminismo precisa enfrentar a pobreza que é, na maioria, feminina e Negra.
- Nosso Feminismo não pode ignorar que no Brasil mais de 30 mil jovens são assassinados por ano. Mais de 70% deles são negros e pobres.
- Nosso Feminismo é necessariamente contra a militarização da vida e o genocídio dos corpos negros...
- Nosso Feminismo luta pelo Bem Viver, pela justiça ecológica e pela superação da separação entre homens, mulheres e natureza.
- No país em que a maior parte dos alimentos é envenenada, em que a soberania e saberes dos povos tradicionais são aniquilados, é preciso afirmar que nosso Feminismo é indissociável da perspectiva ecológica do Bem Viver.
Apoio Jurídico
No domingo, a advogada trabalhista especialista em direito coletivo e sindical, Juliane Durão, falou sobre a definição jurídica de assédio, que são condutas abusivas por meio de palavras ou ações, como toque físico, propostas inadequadas, controle de tempo para ir ao banheiro, fazer piadas recorrentes e humilhações. Juliane também trouxe casos mais subjetivos de assédio, como imposição da cobrança de metas irreais, sobrecarga de trabalho ou até mesmo a redução repentina de atividades da mulher para prejudica-la na empresa.
As trabalhadoras também puderam compartilhar suas experiências pessoais com o machismo nos locais de trabalho e tiraram dúvidas sobre legislação com a advogada.
Campanha Salarial Unificada
Eliane Morfan, destacou os desafios para a Campanha Salarial Unificada deste ano, explicando como funcionam as mesas de negociação e reforçando a importância da organização e participação de todas as metalúrgicas.
Em seguida, Taise Almeida, diretora do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre e também da FTMRS, esclareceu as trabalhadoras sobre cada pauta que será levada para as mesas de negociação com o patronal.
Simbologia da Pitangueira
Durante o encontro as metalúrgicas também plantaram juntas uma pitangueira como ato simbólico representando o feminino. Segundo Lurdes a planta foi escolhida pela relação com as próprias pautas da atividade, que trataram sobre o cuidado que a categoria precisa ter com as mulheres “Além da simbologia ligada à cura física e emocional através de seu chá, a pitangueira também representa a relação de cuidado e empatia entre as mulheres”, afirmou a educadora.
“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.” - Simone de Beauvoir
Fonte: Jean Lazarotto (STIMEPA) com informações da FTM-RS