Em roda de conversa, metalúrgicas e metalúrgicos do RS se emocionam ao falarem sobre as mães
Surpreendente e emocionante. Assim foi a roda de conversa “ser mãe e trabalhadora no contexto da pandemia”, realizada na noite sexta-feira (7), através do zoom. Promovida pela Coletivo de Mulheres da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do RS (FTM-RS) a atividade reuniu dezenas de mulheres e homens que compartilharam as mais diversas experiências sobre a maternidade. Histórias sobre mães biológicas, mães adotivas, mães que tem dificuldade de expressar os sentimentos, mães corujas, mães que enfrentaram inúmeras dificuldades para criar os filhos e expectativas de mães que ainda não nasceram.
A secretaria geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Venâncio Aires, Ana Paula Kaustmann abriu a roda de conversas com a famosa frase da filósofa francesa Simone de Beauvoir: “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida”.
Negociar para melhorar as condições de trabalho das mulheres
A assessora jurídica da FTM-RS, Lídia Woida, manifestou seu contentamento e surpresa com as negociações este ano devido as pautas das mulheres. “Caiu como uma bomba”, disse ela ao se referir as reivindicações de licença remunerada para mulheres vítimas de violência doméstica e a falta justificada para acompanhar os filhos em consultas ou internações médicas. “Nos surpreendeu muito a reação das empresas, que vieram com uma pauta mais robusta que a nossa. As grandes empresas estão se organizando para trabalhar, de fato, a equidade de gênero”, contou.
Para a advogada, é fundamental que as mulheres ocuparem cada vez mais espaços dentro dos sindicatos. “E os grupos de debate tem que agregar os homens, pois a masculinidade tem que ser discutida, temos que acabar com as piadinhas e os assédios e para isso, temos que ser gigantes. Esses temas são tabus, mas se a gente não derrubar os tabus, não vamos avançar”, enfatizou Lídia.
A educadora popular e militante do MTD, Lurdes Santin, participou do encontro e após ouvir a fala de Lídia, afirmou que não podemos nos iludir sobre as empresas estarem preocupadas com a equidade de gênero. “Esse processo é fruto de muita luta”, garantiu. Lurdes destacou que o capitalismo está percebendo que as mulheres são muito eficientes. “A gente deu conta da escassez com cuidado, com afeto. A maneira como cuidamos dos nossos filhos, levamos para o trabalho”.
Ela explicou ainda que a ideia de que as mulheres fazem várias coisas ao mesmo tempo é cultural e não natural, pois vem desde criança. “A menina ganha uma boneca, brinca com ela e de fazer comidinha ao mesmo tempo. Já os meninos, não. Por isso, é fabuloso as empresas avançarem nestas pautas, mas temos que exigir uma boa remuneração”, reforçou.
Mães escolhem amar
Segundo Lurdes, o Rio Grande do Sul é o quarto estado em índices de violência contra as mulheres, “é um estado machista e tem organizações que se pautam pela ideologia de que espaço de decisão é espaço de homem”. Por fim, ela contou sua experiencia sobre a maternidade, tanto biológica quanto por meio de adoção. “Para mim, não existe diferença nenhuma. O que existe é uma decisão de amar”, declarou.
Após, nas quase duas horas de atividades, os participantes contaram histórias e experiências que arrancaram lágrimas da maioria. Um desses relatos veio do presidente da FTM-RS, Lírio Segalla, que recordou as dificuldades que passou na infância e a força que sua mãe teve para superar as adversidades.
Antes, na abertura da agenda, o dirigente destacou a importância de debater a realidade das mulheres trabalhadoras e explicou que o termo minorias é usado para se referir as mulheres, negros e LGBTs, pois essa parcela da população tem um menor acesso as oportunidades.
“É importante refletirmos sobre o momento que vivemos. Poucos anos atrás, um deputado federal disse que não estuprava a deputada Maria do Rosário porque ela era feia. E hoje, esse parlamentar virou presidente do Brasil. É uma tarefa árdua. Mas temos motivos mais que suficiente para debatermos a realidade das mulheres”, garantiu.
A roda de conversa foi coordenada pela 1ª Secretária do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, Catiana Leite Nunes, que agradeceu a presença de todos, no final do evento, e a coragem de compartilharem suas histórias.
Fonte: FTM-RS