Em ato no Parque da Redenção, mais de 10 mil pessoas reafirmam que não vai ter golpe

Mais de 10 mil pessoas participaram na tarde deste domingo (13) do ato promovido pela Frente Brasil Popular do RS no Parque da Redenção, em Porto Alegre, em defesa da democracia, dos direitos e contra o golpe. A atividade, que iniciou antes do meio-dia com o já tradicional “coxinhaço” e se estendeu até as 18h, reuniu dirigentes da CUT-RS e da CTB-RS, movimentos sociais, lideranças e deputados do PT e do PCdoB, prefeitos, vereadores, o ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rosseto, e os ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro.

Ao final, foi realizada uma assembleia popular, onde os participantes aprovaram três propostas: a continuidade da luta em defesa da democracia e contra o golpe; a defesa dos direitos sociais e não ao retrocesso; e uma vigília permanente com acampamento na Praça da Matriz, em Porto Alegre, e nas câmaras municipais em caso de prisão do ex-presidente Lula.

Coxinhaço

Foram assadas centenas de coxinhas de frango – vendidas a R$ 2 e distribuídas de graça para moradores de rua -, ironizando os “coxinhas”, os apoiadores dos golpistas do impeachment da presidenta Dilma, que estavam realizando paralelamente uma manifestação no Parque Moinhos de Vento, situado em um dos bairros nobres da capital gaúcha. “Lugar de coxinha é na churrasqueira”, atacou a vereadora Jussara Cony (PCdoB).

Impeachment é golpe

Nos diversos pronunciamentos, houve unanimidade em denunciar o golpe que está sendo armado pela direita, com apoio da mídia golpista, para desconstituir um governo eleito legitimamente por 54 milhões de brasileiros e brasileiras e por fim a um projeto que levou negros e filhos dos trabalhadores para as universidades, oportunizou casa própria a milhões de brasileiros e assegurou importantes avanços sociais.

As lideranças cobraram da presidente Dilma que reoriente o governo para dar continuidade ao projeto que transformou o Brasil, que faça as mudanças estruturais historicamente defendidas pelo PT e demais partidos de esquerda e que conduza a economia para a retomada do crescimento com desenvolvimento, gerando emprego e renda.

Mulheres contra o golpe

A representante da Marcha Mundial das Mulheres destacou que as mulheres e feministas estão unidas na defesa da democracia, destacando que não serão aceitos retrocessos nos direitos sociais onde, seguramente, as mulheres serão as mais atingidas.

Já a representante da União Brasileira de Mulheres lembrou que a democracia é coisa séria e que a última vez que atacaram esse regime o país foi jogado em 21 anos de sombras, com uma brutal ditadura. Ela acrescentou que as mulheres não permitirão que os golpistas ameacem novamente a democracia.

Estudantes na luta pela democracia

Os jovens também levantaram a voz. A representante do UEE Livre destacou que os estudantes reconhecem o histórico de avanços dos governos progressistas de Lula e Dilma, como o acesso e a permanência nas universidades e a política de cotas raciais e sociais, destacando que o golpe em andamento no país ameaça estes e outros direitos.

O vice-presidente da UNE, Giovane Culau Oliveira, repudiou o atentado sofrido pela sede da entidade, neste sábado (12), e lembrou que uma das primeiras entidades a ser atacada quando iniciou o golpe militar de 64 foi exatamente a União Nacional dos Estudantes. “Este fato nos dá mais convicção de que estamos do lado certo, do lado da democracia e contra os golpistas que usam da mídia e do judiciário para combater um projeto democrático e popular. Seguiremos firmes nas ruas”, declarou .

Vendilhões do país

A presidente do CPERS/Sindicato, Helenir Schürer, recordou que o golpe é um ataque ao Brasil e as suas riquezas, como o pré-sal. Para ela, atacar a Petrobrás e o pré-sal é atacar a educação. Helenir lembrou que não tem terceira via: ou se está do lado da democracia ou se está do lado daqueles que roubaram a vida inteira a riqueza do nosso país, que entregaram a Vale e querem entregar a Petrobrás. “Ou se fica com os lutadores do povo e da democracia ou se junta com a trairagem dos ‘coxinhas’, vendilhões do país”, disse a professora.

A representação do Convergência Negro, que reúne mais de 15 organizações do movimento negro no país, manifestou seu apoio a luta contra o golpe e chamou a resistência do campo democrático e popular. Ele destacou que, nacionalmente, o movimento está mobilizado para defender a democracia e os avanços obtidos ao longo dos últimos anos.

Golpes contra governos democráticos e populares

Deputados federais e estaduais também se manifestaram, reafirmando o seu compromisso com a sustentação do mandato da presidenta Dilma, com a defesa do ex-presidente Lula e com a defesa da democracia.

O ex-governador Tarso Genro apontou as mudanças no capitalismo mundial, com o fortalecimento do capital financeiro. Ele lembrou que existe no Brasil hoje uma grande articulação política, que move frações de partidos, lideranças conservadoras e reacionárias e a mídia oligopólica, que faz a pauta e escolhe a palavra de ordem. “Isso já ocorreu no golpe de 64, ocorreu contra Getúlio, contra João Goulart e contra todos os governos que tiveram qualquer movimento para fazer reformas estruturais neste país”, disse.

Tarso atacou lideranças do PMDB, mais incisivamente o presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, e questionou os movimentos contra a corrupção que foram realizados neste domingo. Segundo ele, os partidos políticos e as forças de direita, o que incluiria a grande imprensa, já não têm mais programa partidário, por isso usariam o “discurso da corrupção para unir a classe média”.

Para Tarso, não há neste momento possibilidade de um novo golpe militar, mas ele disse temer um golpe político e que isto seria “ainda pior”. “Porque ele passa a ilusão de que tirar a presidente Dilma vai trazer mudança”, esclareceu.

Ele comparou ainda o projeto golpista com o que se apresenta no governo estadual gaúcho e criticou o discurso de corrupção que serve ao golpismo. “A presidenta Dilma tem que nos ajudar a defender a democracia. Fora da democracia não tem direitos. Se eles assumirem, vão fazer no país o que o nosso adversário está fazendo com o RS. Nos levou a uma brutal crise na segurança pública e aplica um maldito ajuste fiscal. Este golpe, se tiver êxito, vai tornar a situação do país insustentável. Vamos nos unir e defender a democracia, pedindo para a presidenta Dilma transformar este ministério. Vem para a esquerda”, propôs.

Villa e Pimenta

O ex-governador Olívio Dutra fez críticas ao governo que baixou a guarda e oportunizou espaços para setores que querem o retrocesso. “É hora de refletirmos o que deixamos de fazer e o que podemos fazer mais”. Para ele,“o campo democrático e popular não aceita que se aproprie de um só centavo do dinheiro publico”.

“As reformas necessárias precisam ser aprofundadas. Tiramos milhões de pessoas da miséria, e tivemos muitos avanços sociais. Mas não mexemos no Estado controlado por grandes grupos que controlam o solo urbano, o solo rural, a especulação e o financeirismo. Poderíamos ter ido mais longe e por isso estamos sofrendo. Vamos superar esta fase com muita participação”, defendeu Olívio.

O ministro Miguel Rossetto destacou o movimento da legalidade, liderado pelo ex-governador Leonel Brizola em 1961, e acrescentou que o povo gaúcho mais uma vez saiu às ruas, defendendo a democracia e um projeto popular. “Essa é uma manifestação importante, forte, em defesa da democracia, da legalidade, de um mandato popular. A presidenta Dilma foi eleita pelo povo brasileiro. Não há nada, absolutamente nada, que justifique essa campanha ilegal, de ódio, que busca derrotar a vontade popular. Esse ato é uma afirmação da vontade democrática do povo gaúcho”, disse o ministro.

“O que está em jogo neste país é qual projeto político queremos para o país: o das elites ou um democrático e popular”, frisou Rosseto.

Cuidar e aprimorar a democracia

Para o presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor, “o ato foi vitorioso”. Segundo ele, “não se trata de quem é honesto e quem não é, mas é de quem quer dar continuidade ao projeto de mudança iniciado em 2003 ou retroceder ao projeto de exclusão social”.

O presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, pediu aos presentes que o que estava sendo falado fosse maximizado por cada um e cada uma ao longo da semana. Ele destacou que, depois de 21 anos de golpe militar, o país recuperou a democracia e isso tem um valor muito grande para a classe trabalhadora.

“Não podemos fazer o que tem que fazer se não tivermos a democracia, que é jovem e ainda não está completamente formada. Temos que cuidar e aprimorar a democracia, para que a gente não a perca”, salientou.

Claudir lembrou que para a elite o tema da corrupção só tem uma serventia: derrubar governos populares e democráticos, como foi em 64. “Temos que combater a corrupção sempre e não de forma seletiva”, alertou.

Para o dirigente da CUT-RS, “o golpe foi montado sob forma de quadrilha”. Eles não tem projeto para o Brasil, explicou e, por isso, “eles operam pela lógica do quanto pior, melhor, com respaldo de parte do Ministério Público (MP), de parte do Judiciário e de parte da Polícia Federal”. Claudir comparou os três procuradores do MP de São Paulo, que pediram a prisão preventiva de Lula, aos três patetas. “Mas eles deram com os cavalos n’água”, alfinetou.

Ele também chamou a atenção para o papel da mídia. “O maestro do golpe é a Rede Globo, mas também as demais grandes empresas de comunicação, porque, se a gente muda de canal de um para outro, o discurso falso é o mesmo”.

Ainda cobrou da presidente Dilma que retome o projeto para o qual ela foi eleita. “Largue de mão a reforma da previdência, o ajuste fiscal e, se for necessário dinheiro, que taxe as grandes fortunas”. Ele finalizou pedindo que o país retome o crescimento para um longo período de inclusão social e distribuição e renda, “que é o que o país precisa e nossa gente merece”.

Ao final foi referendada a agenda de lutas que inclui um ato nacional na próxima sexta-feira (18), com manifestações em todas as capitais dos estados, e uma grande marcha a Brasília no dia 31 de março além de atos nas capitais.

“Acabou a brincadeira. As nossas armas são os nossos argumentos”, enfatizou Claudir.

 

Fonte: CUT-RS com Sul21

 

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