Dinheiro curto: famílias atrasam contas e têm dificuldade para bancar despesas
Além de apontar problemas financeiros da maioria dos brasileiros, pesquisa mais uma vez demonstra desigualdade social no país
Quase metade da população precisou atrasar o pagamento de alguma conta devido a dificuldades financeiras. E mais de 70% dos brasileiros viviam em famílias com alguma, ou muita, dificuldade de manter em dia suas despesas mensais. Os dados, divulgados nesta quinta-feira (19) pelo IBGE, são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, que traz levantamento específico sobre despesas.
Além disso, o instituto mostra que as famílias, em geral, gastam mais com serviços financeiros do que com lazer e transporte. A pesquisa retrata um período pré-pandemia, o que indica possível piora no quadro. Desde então, o desemprego aumento e a renda do trabalho diminuiu.
De acordo com a POF, 46,2% da população, ou 95,6 milhões de pessoas faziam parte de famílias que precisaram atrasar pelo menos uma conta. Despesas como aluguel ou prestação do imóvel, água, luz ou gás – principalmente estas três últimas. Em 26% dos casos, a pessoa de referência tinha até o ensino fundamental completo. E 3,8%, o ensino superior.
Mais dificuldade entre negros
Entre os 46,2% da população que integravam famílias com contas em atraso, 26,0% da população também eram de famílias em que a pessoa de referência tinha até o ensino fundamental completo e apenas 3,8% da população também pertenciam a famílias cuja pessoa de referência tinha o nível superior completo.
Além disso, 72,4% viviam em famílias com alguma dificuldade de manter em dia as despesas mensais. Eram majoritariamente (44,4%) de cor preta ou parda, classificação usada pelo IBGE. Segundo a pesquisa, 14,1% das pessoas eram de famílias com muita dificuldade para pagar as contas com o rendimento que tinham. E 58,3% tinham dificuldade. Apenas 26,5% relataram ter facilidade e 1,1%, muita facilidade.
Serviços financeiros
Na maioria das famílias (83,3%), alguém tinha acesso a serviços financeiros: 66,2% possuíam conta corrente, 49,9% tinham cartão de crédito, 55,9%, caderneta de poupança e 19,5%, cheque especial. Entre as famílias sem acesso a nenhum desses itens, mais uma vez a maioria era de pessoas pretas ou pardas. As despesas per capita com serviços financeiros chegava a R$ 124,79, principalmente com empréstimos e parcelamentos.
Já a despesa média com transporte foi de R$ 85,44 por mês. Segundo o levantamento, 71,2% refere-se a veículo particular, táxi e aplicativos. E o gasto médio com lazer e viagens, segundo a POF, foi de R$ 53,93. No caso de famílias brancas, essa despesa foi quase o dobro em relação às de cor preta ou parda: respectivamente, R$ 34,41 e R$ 18,35.
Insegurança alimentar
A POF mostra ainda que 41% da população residia em domicílio com algum grau de insegurança alimentar, tema de levantamento anterior. Mais uma vez, as famílias com pessoas pretas ou pardas são maioria (28,4%) em relação às brancas (12,1%).
De acordo com o IBGE, 19,5% da população (40,3 milhões), a maioria branca, viviam em domicílios com cozinha/lavanderia (45,3%), mobiliário (75,5%), TV/informática (41,9%), som ou mídias (aparelho, DVD, blue ray, 67,4%). Mais da metade (52,2%) moravam em locais sem automóvel0, 37,5% tinham um veículo e 10,3%, dois ou mais.
Entre 2017 e 2018, o gasto médio individual com bens duráveis foi de R$ 37,08. A maior parte (50,7%) com aparelhos e equipamentos elétricos e 38,8%, em móveis. Por sua vez, o despesa per capita mensal com alimentação somava R$ 209,12, principalmente dentro do domicílio (70%).
Fonte: Rede Brasil Atual